Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

Rankings das escolas pelas notas dos exames: a força do parecer

Todos conhecemos a velha máxima de Júlio César aquando do julgamento da sua bela esposa: a mulher de César tem de ser honesta mas se não o for, ao menos que o pareça.

Pois é: os agentes escolares comportam-se como César: o importante é que a comunicação social divulgue uma boa classificação da escola não importando se ela é verdadeira ou falsa. Os rankings das escolas comprovam assim não a força do ser mas a do parecer. E porquê? Porque se baseiam na mentira.

Mentira porque a maior parte dos alunos que fazem exames nas escolas públicas não foram ou deixaram de ser alunos da escola pública, o que penaliza as escolas deste grupo.

Mentira porque os alunos das instituições privadas têm origem sócio-cultural nos estratos sociais mais elevados enquanto os das escolas públicas a têm nos estratos sociais médio e baixo.

Mentira porque os alunos que fazem exame na escola pública como auto-propostos são alunos que ou foram rejeitados pelas próprias escolas públicas para os seus dirigentes e professores se tentarem defender de eventuais maus resultados nos exames ou vêm de vias escolares de segunda escolha.

Mentira porque as instituições privadas não aceitam alunos autopropostos e as públicas não podem recusá-los.

Por todas estas mentiras, os rankings são uma realidade mentirosa e perversa que dá cabo da escola pública mas legitima as ascensão das classes dominantes através das escolas privadas e da compra de influências.

Por todas estas mentiras, estes rankings estão a destruir a educação para a democracia e o valor da escola pública como contribuinte para tal educação.

Os rankings poderiam ter alguma importância se tivessem uma boa base sócio-escolar e se baseassem nos alunos de cada escola. Assim, são um excelente contributo para a destruição da escola pública e para a legitimação das elites nas escolas privadas. Analisaremos porquê no próximo artigo. Diremos apenas que, felizmente, há algumas exceções.


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