Luis Ferreira

Luis Ferreira

Redonda, mas com dois lados

Há já muitos séculos alguém conseguiu inventar uma coisa tão simples como a roda, mas que revolucionou absolutamente todo o sentido da vida que até esse momento se vivia. Foi uma questão de perspicácia apurada, observação e necessidade. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e a prova é toda uma panóplia de invenções que ao longo dos séculos foram surgindo redimensionando o dia-a-dia de todas as comunidades em todo o mundo.

Possivelmente quem inventou a roda viu muitas vezes rolar pedras e troncos pelos campos ou pelas encostas dos montes e daí surgiu a ideia de ser ele a fazer algo parecido com mais utilidade e que servisse para os seus afazeres. Acabaria por revolucionar tudo o que é possível imaginar ao cimo da Terra. Hoje tudo roda sobre rodas e quando empregamos esta frase, é precisamente para dizer que tudo está a andar muito bem. Claro!

Sabemos bem que nem tudo corre sobre rodas hoje em dia e estamos fartos de o referir diariamente a propósito de quase tudo. Mas basta uma simples coisa correr bem para melhorar o sentido de tudo o resto e consolarmo-nos com isso.

Começou há dias o Euro 2016 onde depositamos toda a nossa esperança na equipa das quinas com a esperança de conseguirmos o que nunca foi conseguido. Vinte e três bravos vão iniciar uma batalha enorme contra uma Europa imensa, em nome de um só país, pequeno, mas com uma alma do tamanho do mundo, aquele que conseguimos descobrir e aculturar. A vantagem é que a bola que eles vão movimentar é igual para todos e aí somos iguais. O contra é que a mesma bola que eles vão movimentar, apesar de ser redonda, como as pedras que levaram à invenção da roda, tem dois lados. Precisamente. É redonda, mas tem dois lados. Pois isto não é nenhuma invenção. É que só ganha um dos lados que movimenta a bola!

Os portugueses sempre gostaram de futebol e de fado e durante muito tempo arvorámos as bandeiras destes símbolos e em todo o mundo foram reconhecidos como tal. Amália e Eusébio mantiveram acesas as chamas de um Portugal que a muito custo queria afirmar-se entre os grandes, mesmo que fosse cantando o que os outros não sabem cantar ou chutando uma bola bem redonda que encantava ver passar para dentro de redes alheias. Desses tempos gloriosos ficaram as recordações imensas que continuamos a reviver.

Hoje temos igualmente entre os seleccionados, um símbolo mundial e nele depositamos aquela esperança que nos caracteriza. Cristiano Ronaldo não necessita de muitas referências ou exaltações, pois todos conhecem a sua capacidade e o seu valor, mas vai precisar do valor de todos os outros que com ele vão enfrentar essa Europa que tanto nos amedronta, embora por outras razões! Mantemos a esperança. Por que não?

Não vamos precisar de cantar diferentemente a não ser o nosso Hino sempre que entrarem em campo os valorosos onze da frente da batalha. Não há que temer. Nuno Álvares Pereira quando enfrentou os espanhóis, seis vezes mais do que nós, apesar de muito receio e um medo atroz, acabou por ganhar. Valeu-lhe a coragem de todos e, possivelmente, uma ajuda divina. É disso que continuamos à espera. Uma ajuda divina que aliada à nossa coragem e valentia, mas também muito saber, nos ajude a ganhar o que sempre nos escapou. Há sempre uma primeira vez para tudo e pode ser que desta vez o tal caneco nos calhe em sorte.

Pois é, sendo a bola redonda e igual para todos, basta que saibamos fazê-la rodar e encaminhar para o lado certo, porque, quer queiramos, quer não, só um dos lados vai poder dizer que ganhou. Esta bola da esperança tem um peso enorme, sem dúvida, mas como são vinte e três e mais uns quantos a aguentar com ela, talvez o peso seja bem repartido e possamos trazê-la para este país pequeno de tamanho, mas enorme na ambição. 


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