Manuel Igreja
Régua, Vinho e Cultura
Aqui há dias, passei um excelente bocado da noite na Régua, num armazém de vinho, bem dentro do perímetro urbano da cidade quase paredes meias com a Alameda. Ouvi e senti música da boa e provei vinhos dignos dos deuses do Olimpo, esse danados que sabem bem o que é bom. Pudera, são deuses!
Houve palmas, houve pousas e silêncios que também são música, e houve agrado, muito mesmo. Foram coisa de duas horas em que muito se deu, mas ainda mais se recebeu.
Os dois músicos às voltas com as cordas dos instrumentos, dois violoncelos, foram exímios, simpáticos e esclarecedores. Os donos do armazém e dos vinhos, disponibilizaram o que é deles, falaram sabedoramente sobre os vinhos em prova, e foram uns anfitriões de primeira apanha.
Socorrendo-me um migalho do modo de dizer aqui do Douro, diria que foram uns senhores e que os vinhos apreciados eram do pipo do patrão. Posso jurar que eram excelentes como não podida deixar de ser, sob pena de se praticar ali pecado grave merecedor de muita penitência.
Costuma dizer-se que quando vamos a um sítio e encontramos pessoas que valem a pena, não tornamos da mesma maneira. Não somos os mesmos, porque deixamos um pouco de nós e trazemos um pouco dos outros e mais as experiências que vivemos.
Foi o caso, neste e noutros eventos, para no desenrolar dizer que este ano de dois mil e dezanove na cidade da Régua, nomeada cidade do vinho, muito tem havido e há a usufruir no contexto do vinho, da cultura, da gastronomia e do turismo. É um ano de vindima permanente e sem igual até agora, no que se refere à quantidade e à qualidade em tão curto espaço de tempo.
Ano Vintage, este de dois mil e dezanove. No que me toca, conforme as circunstâncias e a disponibilidade, tento aproveitar ao máximo. Não direi que consigo escorropichar o cálice todo e mesmo até ao fim, mas não perco qualquer oportunidade, com a noção de que cada uma é ímpar e pode não haver uma segunda igual à primeira.
Foi só um trocadilho. Deu-me para isso, assim como me está a dar para lhe recomendar que não falte e que aproveite. Depois não diga que não foi avisado ou que se arrepende. Obviamente não venha também dizer que tal e coisa e que não se faz nada e que nada acontece.
Não terá razão, e somente terá culpa de cultivar o marasmo de que tanto se queixa e nos queixamos. Se ele nos apoquenta, há que o combater. Mais não seja, divulgando, comparecendo e usufruindo.
Agora mesmo quando a tinta deste escrito ainda está fresca decorre a Feira do Vinho. Só lhe digo, um espanto, melhor entre as melhores com nível e com elevação. Tem de ser. O Douro merece. Nós merecemos. Um brinde. Copos acima e abaixo, vinho adentro.