Luis Ferreira

Luis Ferreira

Reis magos, mas pouco...

Como há muitos séculos, comemoram-se depois do Natal e no início do novo ano, os Reis, aqueles que de longe foram adorar Jesus, recém-nascido, postado numa manjedoura, longe de olhares cobiçosos e invejas destruidoras.
Aí foi adorado por poucos, louvado por muitos e prendado pelos tais Reis que de longe vieram presenteá-lo com ouro, incenso e mirra. Reis a que se chamaram magos, talvez porque era necessário alguma magia para não só salvar o menino Jesus, como também desviar a atenção dos perigosos romanos ou os que a eles estavam sujeitos e que por vaticinarem o aparecimento de um Rei que os demitiria das suas funções, lhes causava uma oposição desnecessária.
As profecias estavam certas. No entanto, ao fim de trinta e três anos, a vingança surgiu e o Rei Salvador foi crucificado. Uma outra história seria então escrita, quer para os romanos, quer para os que acreditaram no Salvador. Mas os Reis Magos, esses, de igual modo, nunca mais foram esquecidos. Até hoje.
Muitos povos celebram o Natal no dia 25 de dezembro e os Reis no dia 6 de janeiro. Os espanhóis têm alguma alteração nestas celebrações, pelo menos no que respeita às prendas, pois e com alguma razão, foram os Reis Magos que levaram as prendas a Jesus recém-nascido. Então essa é a data mais carismática para eles. Os portugueses celebram tanto o Natal como os Reis nos dias considerados normais e esperam que tanto o Pai Natal como os Reis tragam prendas boas. O Pai Natal este ano, não foi nada pródigo em prendas. Trouxe poucas e muito más. Que o diga o primeiro-ministro. E os Reis? O que trarão?
Ora nós não precisamos de incenso e mirra, mas de ouro necessitamos e muito. Os votos que muitos desejaram para o Ano Novo de 2014 foram bem diferentes dos que por aí se apregoam que estarão para chegar. Os primeiros passos no novo ano não foram de segurança, mas de ansiedade e medo. No ar paira uma desconfiança enorme. Uma insegurança assustadora.
Chegam-nos ventos de descontentamento e notícias de amedrontar os mais audazes. Depois das prendas do Pai Natal que foram veiculadas pelo Tribunal Constitucional, era necessário que os Reis fossem mesmo Magos e dessem ao primeiro-ministro a inspiração necessária para poder ultrapassar as barreiras que foram colocadas no seu caminho. Mas a inspiração não é dada por ninguém em jeito de prenda, a não ser de forma inata e nós ficámos à espera de alguma magia natural que nos guiasse a caminhos menos sinuosos e mais prendados. Engano puro e simples.
Os Reis não nos vão trazer o ouro nem vão dar ideias milagrosas ao governo. Pelo que já foi noticiado, nem uma ideia nova surgiu lá para as bandas do governo, já que da cartola saem sempre os mesmos coelhos. Cortes nos salários e nas pensões! Nada de novo a não ser mais do mesmo. Corte nos salários de quem ganha menos e corte nas pensões de quem ainda menos ganha. E os que ganham muito? E os gestores públicos? E os gabinetes dos ministros repletos de assessores, secretárias e técnicos de coisa nenhuma? Esses não sofrem cortes porquê? Para que precisa o primeiro-ministro de setenta e duas pessoas ligadas ao seu gabinete? E para que quer doze motoristas? Enquanto continuarmos assim, não saímos desta cepa torta!
A falta de coragem para tomar as atitudes necessárias podia ser ultrapassada com uma prenda dos Reis Magos. Estávamos à espera disso, mas enganámo-nos. Os Reis não trouxeram a coragem que o primeiro-ministro precisava, nem as ideias novas que tão imprescindíveis eram neste início do ano.
Celebrar os Reis, nós até celebramos. Cantamos, bebemos e comemos com o comedimento que nos apraz e solicitamos, cantando, que nos dêem umas chouricitas ou uns salpicões para acalmar os males das agruras dos tempos. Enfim. Que mais podemos fazer em tempos de miséria e com reis tão pouco magos como estes?


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