João Pedro Baptista
Retrocesso civilizacional: a aceitação das ideologias extremistas
Os discursos populistas, racistas, intolerantes, lunáticos e antidemocráticos estão, atualmente, a ter uma grande recetividade por parte do eleitorado. Infelizmente, a figura de líderes ‘antissistema’, que se dizem conhecedores da ‘fórmula mágica’ de resolver todos os problemas de um país, ressurgiu na política dos países ocidentais. Mesmo em países com os sistemas democráticos mais recentes, como Portugal e Espanha. Os pilares basilares de uma sociedade plural, liberal e democrática estão em perigo. Nos últimos anos, uma ideologia que parecia estar debaixo dos escombros da Segunda Guerra Mundial foi ganhando força e impondo-se como uma alternativa à governação dos demais países. Alimentando-se do medo e dos anseios que a crise de migrantes e refugiados ia causando, os movimentos de extrema-direita foram crescendo por toda a Europa com promessas que apelam ao saudosismo e à nostalgia imperial de um povo. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump e no Brasil, com a ascensão de Jair Bolsonaro. Por Portugal, o discurso ilusório de índole salazarista com a promessa de voltar a ‘encher os cofres do Estado’, com uma retórica de antipolítica que culpabiliza os governantes e o sistema democrático como estando corrompidos prolifera, à semelhança de outros países, cada vez mais nas redes sociais, fazendo-se acompanhar de discursos de profundo ódio à organização das instituições públicas. Além disso, estes líderes procuram ainda, de forma oportunista, apresentar soluções simples com base na promoção de estereótipos e preconceitos existentes na sociedade, ao mesmo tempo que procuram responsabilizar e/ou culpabilizar as minorias existentes.
Com o ressurgimento destes ideais, a sociedade que construímos e na qual gostamos de viver está em perigo. Nunca a democracia, em tantos anos, teve um desafio tão grande pela frente. De notar, que as políticas extremistas também ganharam mais apoiantes e maior poder devido à ineficácia na resolução de alguns problemas por parte dos partidos moderados ou centristas, que devem, agora, refletir e alterar a sua forma de ação. Hoje, as tendências conservadoras e os fundamentalismos religiosos estão a impor-se. Caminhamos para uma sociedade antiquada, na qual se aceita, com facilidade, a supremacia branca e masculina da extrema-direita. Se na década de 1970, os países ocidentais (sobretudo os nórdicos) transitaram ideologicamente para a valorização de políticas pós-modernas, na defesa do ambiente, da igualdade de género, dos homossexuais e da própria liberdade expressão, também, hoje, estamos a sofrer um retrocesso civilizacional, onde esses valores estão a desvanecer para deixar sobressair um ceticismo sobre a existência das alterações climáticas, bem como uma visão nacionalista e patriótica cada vez mais autoritária e opressora.