Este nosso mundo que nos parece cada vez mais bonito, anda muito mal frequentado. Está num perigo que se agrava de um dia para o outro, ainda que o não pareça. Não é a primeira vez, mas não aprendemos. Nem o horror inenarrável de outras épocas nos serviu de lição.
O século passado, o vinte, que às vezes nem nos lembramos que estamos no vinte e um, foi um desastre. Ironicamente, à medida que ia evoluindo o conhecimento, mais parece por vezes que diminuiu o discernimento inclusivamente o de sociedades situadas na vanguarda das coisas.
Com toda a insanidade, permitiu-se que lugares de poder fossem entregues a lunáticos a quem bastou saber o que dizer na hora, no momento e a quem, para que deu mão beijada lhes fossem entregues as rédeas. Nada tardou depois que qual cavalgaduras com o freio nos dentes, arrastassem gentes e bens para o precipício.
Foi obra que ainda hoje não entendemos muito bem, mas aconteceu para vergonha da espécie humana caso esta a tivesse. Poderá tê-la de oras em quando, mas de imediato a falta de memória a faz esquecer. Os erros voltam a cometer-se desde que se verifiquem as condições para que medrem e se espalhem cada qual convencido em absoluto na sua visão acerca do melhor e da verdade.
Ainda agora, nestes dias que se desenrolam, cem anos depois da Primeira Grande Guerra, a tal que supostamente seria coisa de uma semana e uns mortos aqui e outros ali, e setenta e dois após o final da Segunda em que o desvario andou à solta de mãos dadas com o lado pior dos homens e das mulheres arreigados de uma bestialidade vinda dos escombros negros das almas, ainda agora, dizia eu, anda por aí outra vez forte ventania espalhada pela doidice.
Num país que vive nas trevas medievais, um líder de mente desconchavada, entretém-se a brincar aos jogos de guerra lançando desafios e armas terríveis para o ar, com um sorriso demente encorajado por aplausos de alienados que outras alternativas não têm do que o ser. Bater palmas deve-lhes advir de reflexo condicionado. Enquanto isso, o povo de milhões passa fome se calhar sem desagrado já que não sabe que há outras coisas para lá do horizonte que vislumbra, mas não sente.
Noutro país, que vive na modernidade sem que frequentemente se liberte dos tempos da sua árdua fundação cimentada no século dezanove, outro líder de penteado muito arrumado e de miolos em curto-circuito, não sabe muito bem nem o que faz nem o que diz. Vendo-se por engano de espelho como o melhor entre os melhores e o mais poderoso entre os mais poderosos, verborreia para se ouvir a si próprio. Faz figuras tristes, perde credibilidade e arrasta com ele a sua nação e mais as que a têm como farol. Os inimigos e não só lhe perderam o respeito e isso deixa mossa.
Ambos se ameaçam prometendo fogo e fúria, destruição nunca vista, a não ser no inferno. Entretanto a gente vai andando quase se não quedando a pensar nestas coisas. Há grandes possibilidades de qualquer dia armarem uma bernarda na caserna que é o mundo em que vivemos, mas lá vamos andando confiando que na hora exata alguém trave a maluquice. Para aperreações já nos bastam as de cada um em cada dia pois a vida não está fácil. Aliás nunca o foi. Uma pessoa é que se ia iludindo porque também não precisava de tantas coisas.
Por acaso e só para deixar semeado um pouco de conforto no meio deste desassossego, tenho para mim que os interesses da geoestratégia de alguns países também de muito poder, conseguem impedir o diluvio e atitudes bélicas propriamente ditas. O problema pode ser a economia global que funciona tipo dominó. Dizem até que basta uma borboleta bater as asas na Ásia para as pedras se empurrarem umas às outras.
A ver vamos como diz o cego. Entretanto dado que o teatro sem ensaios que é vida pode acabar sem tempo para aplausos vamos desempenhar o nosso papel de maneira a que os loucos varridos não consigam deitar mão ao leme da embarcação que nos é comum. A comida, o conhecimento e a cultura são os mais eficazes remédios. A ignorância, o medo e a fome por sua vez são a causa dos males.
No caso do mundo no nosso lado, basta que se acabe com o alimento que sustenta o medo. No caso do lado do lado de lá, atrevo-me a sugerir que se bombardeia a Coreia com sandes de presunto. Verão então como o grande líder que acende o sol para ele brilhar logo será empurrado para o quinto dos infernos ou para o lado negro da lua por aqueles que agora o adoram.
