Teresa A. Ferreira
Sapatos de Luxo
- Bom dia, Carlota!
- Olá, Guilhermina, bom dia!
- Como foi o teu fim de semana?
- Foi fantástico! E o teu? – Guilhermina abria um sorriso de orelha a orelha.
- Normal. Cuidei da casa, fui às compras, preparei as aulas desta semana, corrigi os trabalhos dos miúdos e saí um pouco com a minha irmã Maria. Conta lá as novidades?
- Ficam para a hora de almoço. São grandes. Vamos entrar.
- Boa aula.
- Obrigada, para ti também.
Entraram nas respetivas salas de aula, eram professoras do 1º Ciclo do Ensino Básico, sendo que a Carlota era Diretora da Escola. A Guilhermina morava numa aldeia perto da cidade, era casada, mas não tinha filhos.
O período da manhã correu rápido e num instante estavam juntas a almoçar.
- Senta-te, aqui, Guilhermina. Estou cheia de curiosidade sobre o teu fim de semana.
- Foi verdadeiramente fantástico. Fui para fora com uma amiga.
- E foste às compras…
- Sim, também comprei umas roupas novas e esta carteira. – exibia a carteira que passava de mão em mão pelas colegas.
As roupas da Guilhermina, assim como as carteiras, sapatos e joalharia eram de fazer arregalar o olho a qualquer pessoa. Tudo de marcas caras e da última moda. “Como é que ela conseguia andar cheia de coisas de marcas caras, sendo que tanto ela como o marido não tinham rendimentos condicentes com tamanho luxo?” – eis o mistério que adensava a mente das colegas. Umas achavam que seriam negócios com droga, outras que talvez lhes tivesse saído o Euromilhões e nunca dissessem nada a ninguém, outras que, talvez…ai não, não podia ser, era mau demais!
- Então, aonde foste?
- Fui ao Porto com uma amiga e aproveitámos para ir às compras.
- Come, rapariga, que ainda arrefece a comida. – a Celeste sempre preocupada com a Guilhermina.
- Já como, Celeste. Vejam estes sapatos Christian Louboutin que acabaram de ser lançados? – mostrava uma revista com os sapatos a preços proibitivos. – Hei de tê-los. – afirmava perentoriamente.
As colegas entreolharam-se e engoliram em seco.
Regressaram às aulas e tudo decorreu normalmente, isto é, com alguns alunos com falta de educação, outros com grandes problemas de aprendizagem, outros sendo exemplares, uns mais tímidos, outros sendo o desinço da loiça. A semana foi passando e as colegas questionavam-se se seria verdade que ela compraria os tais sapatos de luxo.
Durante a semana, a Guilhermina e a Carlota, foram tomar café juntas. A dada altura, a Guilhermina recebeu um telefonema que, pelo seu comportamento, não era do marido – umas risadinhas muito estranhas e meladas. Era alguém - com voz de homem - a acertar os pormenores para irem passar o fim de semana fora. A Carlota deu conta de tudo e ficou com um nervoso miudinho no estômago. Nada disse quando a colega lhe anunciou que ia para fora com uma amiga. “Que grande aldrabona!” – isto para não lhe chamar outro nome que tinha na pontinha da língua. E o marido a engolir as histórias sem se questionar com as compras que levava para casa, e os fins de semana passados com amigas. “Devia ser muito parvo.” – pensava entre dentes a Carlota. Não lhes conhecia desavenças.
Não é que, na segunda-feira seguinte, apareceu na escola com os sapatos Louboutin, calçados?! As colegas ficaram de queixo caído.
*Este texto é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
© Teresa do Amparo Ferreira, 20-10-2024
𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
Mirandela, Bragança, Portugal.