Alexandre Parafita
Se és alma do outro mundo, diz ao que vens!
Muitas tradições se vão perdendo em Trás-os-Montes! É o caso daquela que é conhecida como a festa do “pau das almas”. Os rapazes na manhã do feriado de 1 de novembro (dia de todos os santos), iam ao monte cortar e apanhar um carro de lenha, que à tarde era leiloada no adro da igreja, sendo a receita aplicada no dia seguinte (dia de fiéis e defuntos) na celebração de missas e ofícios em memória das almas do Purgatório. Mantém-se ainda o “pão das almas” e o “pão do defunto”. O primeiro é uma esmola distribuída, no dia dos fiéis e defuntos, aos pobres que se concentram à porta do cemitério a rezar pelas almas do Purgatório. O segundo é uma última refeição que o falecido “oferece” às pessoas que se incorporaram no seu funeral, em jeito de agradecimento pelas preces de cada um, que “o ajudarão a tornar mais leves as suas penas no Além”.
Em muitas aldeias persiste a crença nas “procissões das almas”, um desfile macabro, que sai à meia-noite do adro da igreja e percorre, de cruzeiro em cruzeiro, as ruas e caminhos da povoação. Esta procissão anuncia a morte próxima de um vizinho. Crê-se também que as almas surgem aos vivos, sob formas diversas (gritos, suspiros, gemidos, redemoinhos, animais…), em apelo pelo cumprimento de preces e promessas não cumpridas. E que os vivos, perante tal visão, devem fazer o sinal da cruz e dizer: “Se és alma do outro mundo, diz ao que vens; se és o demónio, vai bater a outra porta”, ou então: “Se és alma do outro mundo, diz ao que vens; se não és, vai para o raio que te parta!”
(Fonte: PARAFITA, A. – O Maravilhoso Popular, Lisboa, Plátano Editora, 2000)