Teresa A. Ferreira
Se os cornos tivessem lâmpadas…
… Bragança poupava milhões na fatura da eletricidade.
É um velho ditado, que há muito escuto em Bragança, vem do tempo em que lá fui estudante, na década de 80.
Curiosa interrogava os mais velhos sobre tal ditado.
- Ora menina, então não sabe? Os casamentos são quase todos de fachada. Vivem na mesma casa mas aquilo não é casamento nenhum. Os homens andam à cata de franga fresca, não perdoam uma; as mulheres, as mais ousadas, se puderem fazem o mesmo. Então não viu o caso da nossa vizinha, vai com setenta anos feitos, viúva há quatro meses e já leva o motorista para casa, para lhe aquecer os pés!? Acha que o caso é d’agora? Há que vidas andaria a enfeitar a cabeça ao marido. E bem vistas as coisas… ele também era um mulherengo. Contas saldadas!
- Oh, Dona Lurdinhas: explique lá essas coisas que, cá por mim, não dou conta de nada – nisto, tanto o Henrique como a Dona Lurdinhas, riam a bom rir com a minha ingenuidade.
Isto eram conversas ao serão, sendo que eu e o Henrique - sobrinho da Dona Lurdinhas -, morávamos lá em casa da Senhora, tinha enviuvado havia pouco tempo. Sempre lhe fazíamos companhia. Era uma senhora educada, de trato fino e muito respeitadora.
- Então eu não o digo! A menina só vê os livros! E faz muito bem.
- Vá lá, Dona Lurdinhas! Agora que começou, mate-nos a curiosidade?
- Conheço por aqui muitos casais... não valem cinco tostões furados. Quem os vê na rua até parece que são um casal que se ama de verdade, muito unidos e cúmplices, de mãos dadas… O pior é dentro de casa. Discussões pegadas e não se entendem. A minha empregada, faz limpezas nalgumas casas, põe-me o relatório em dia. E quando vou ao cabeleireiro, menina, saio de lá com as notícias a ferver.
- Ora essa?! Divorciam-se. Está o caso arrumado. – dizia eu, de pronto.
- Oh, menina, qual quê? Nesta terra o casamento é só para inglês ver. E uma mulher divorciada passa a ser olhada de lado, como se fosse defeituosa ou tivesse peçonha. Estas mentalidades ainda não apanharam com os ares da modernidade. Quando falo com a minha filha, que vive no Porto, ou com o meu filho, lá nos EUA, é que vejo a diferença. Estas mentalidades estão muito atrasadas.
- Dona Lurdinhas: sabia que o meu professor de Francês, de quando andei na Escola Secundária, é casado, mas toda a gente diz que é gay?
- Quem é o sujeito?
- Acho que é dono de uma relojoaria ou ourivesaria.
- Ah, já estou a ver. Sim, sim! Diz-se que gosta de homens e casou para o esconder. Pobre coitado! E a mulher que foi ao engano! Que tristeza. Não têm filhos, lá isso é verdade.
Os serões eram bem animados, então quando resolvíamos contar anedotas, era até não aguentar mais. Quem tinha mais jeito para as anedotas era, de longe, o sobrinho Henrique.
Nos tempos atuais, pelo que tenho percebido, as mentalidades pouco ou nada evoluíram. Continua a haver casamentos de fachada, mantidos pela aparência e comodismo dos homens e, nalguns casos, de ambos. Se os homens têm em casa quem cuide deles como se fossem filhos (tratamento das roupas, refeições, compras, higiene e manutenção da casa, etc.), e bem sabemos que os transmontanos não são dados a colaborar nas tarefas domésticas; têm liberdade para se divertir fora de casa quando lhes aprouver; então por que razão iriam pôr o casamento no prego?
O “Movimento das Mães de Bragança” conseguiu expulsar as raparigas dos bares de alterne, mas a festa continua. Quem procura acaba por encontrar, ainda que, um pouco mais longe.
No município de Bragança em 2020, foram celebrados 43 casamentos, correspondendo a uma taxa bruta de 1,3 por 1.000 habitantes; e foram dissolvidos 50 casamentos, correspondendo a uma taxa bruta de 1,5 por 1.000 habitantes.
Fonte: www.ine.pt
Local de registo (NUTS - 2013) (1) |
Taxa bruta de nupcialidade (‰) por Local de registo (NUTS - 2013); Anual (2) |
||
Período de referência dos dados |
|||
2020 |
|||
‰ |
|||
Portugal |
PT |
1,8 |
|
Continente |
1 |
1,8 |
|
Norte |
11 |
1,8 |
|
Terras de Trás-os-Montes |
11E |
1,2 |
|
Alfândega da Fé |
11E0401 |
0,2 |
|
Bragança |
11E0402 |
1,3 |
|
Macedo de Cavaleiros |
11E0405 |
1,2 |
|
Miranda do Douro |
11E0406 |
0,9 |
|
Mirandela |
11E0407 |
1,3 |
|
Mogadouro |
11E0408 |
1,7 |
|
Vila Flor |
11E0410 |
0,3 |
|
Vimioso |
11E0411 |
1,3 |
|
Vinhais |
11E0412 |
0,7 |
|
Região Autónoma dos Açores |
2 |
2,3 |
|
Região Autónoma da Madeira |
3 |
2,4 |
|
Taxa bruta de nupcialidade (‰) por Local de registo (NUTS - 2013); Anual - INE, Indicadores demográficos |
Fonte: www.ine.pt
Local de residência (NUTS - 2013) (1) |
Taxa bruta de divórcio (‰) por Local de residência (NUTS - 2013); Anual |
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Período de referência dos dados (2) |
|||
2020 |
|||
‰ |
|||
Portugal |
PT |
1,7 |
|
Continente |
1 |
1,7 |
|
Norte |
11 |
1,7 |
|
Terras de Trás-os-Montes |
11E |
1,4 |
|
Alfândega da Fé |
11E0401 |
1,8 |
|
Bragança |
11E0402 |
1,5 |
|
Macedo de Cavaleiros |
11E0405 |
1,9 |
|
Miranda do Douro |
11E0406 |
0,7 |
|
Mirandela |
11E0407 |
1,3 |
|
Mogadouro |
11E0408 |
1,8 |
|
Vila Flor |
11E0410 |
0,5 |
|
Vimioso |
11E0411 |
1,5 |
|
Vinhais |
11E0412 |
0,9 |
|
Região Autónoma dos Açores |
2 |
2,4 |
|
Região Autónoma da Madeira |
3 |
2 |
|
Taxa bruta de divórcio (‰) por Local de residência (NUTS - 2013); Anual - INE, Indicadores demográficos |
© Teresa do Amparo Ferreira, 15-10-2021