Luis Ferreira
Seguir em frente
Há uma canção cantada no Nordeste brasileiro que refere a necessidade de seguir em frente. Seguir com a “boiada” atravessando os perigos vários que os “condutores” teriam que atravessar. É uma canção com uma música muito bonita e serena, que revela a força que é necessária para conduzir as manadas pelas terras perigosas, atravessando mesmo a zona imensa do Pantanal. Mas é preciso seguir mesmo em frente ou a tarefa pode soçobrar.
Esta canção e o tema que aborda, pode servir de paradigma a imensas situações e não nos cansaremos demasiado a procurar algumas que se adaptem, mas o que deveras importa é mesmo ter de seguir em frente, seja qual for a situação.
Recentemente tivemos as eleições autárquicas, muito disputadas, mas por poucos interessados, já que a abstenção rondou os 50%. Um desinteresse absoluto e inexplicável. Ou talvez até tenha explicação. Partidos foram demasiados. Votos poucos e ganhadores não foram tantos como desejariam os próprios. Foi desinteressante assistir ao que se passou nas sedes dos partidos, já que nenhum tinha a sensação de ganhar fosse o que fosse. Era um abatimento geral, sinónimo de uma incerteza tremenda e um vislumbre de uma derrota possível.
Os que antes das eleições reclamavam vitória certa e se assumiam como alternativa, não só nestas eleições, como nas futuras, viam fugir-lhe cada vez mais essa possibilidade. Mais tarde diriam, como justificação, que umas nada têm a ver com as outras. Boa maneira de se justificarem depois da derrota. Outros, com mais alguma dignidade, assumiram o desaire e prometeram um combate mais acérrimo no futuro. Claro. Isto chama-se seguir em frente, sem medo e sem temores.
Não duvido que custa admitir a derrota e até para os que não contavam ganhar fosse o que fosse, sempre gostariam de ter ganho uns lugares nas muitas freguesias do país. Pelo menos minimizavam a derrota, já que é melhor ganhar uns lugares do que não conseguir ganhar nada. Alguns partidos não conseguiram lugares nem nas freguesias, mas isso não os poderá levar à desistência. É preciso seguir em frente.
Curiosamente, também houve quem admitisse a derrota, ao mesmo tempo que assumia uma vitória. É ridículo, mas é verdade. É uma incongruência, mas foi dita. É um bom trocadilho para justificar uma derrota que não se esperava e não se quer real. Há sempre o outro lado.
Mais curioso talvez, é o facto de um dos partidos concorrentes às eleições ser considerado ilegal, arrastando toda a ilegalidade ao longo deste processo eleitoral. Resta perguntar agora, o que é que acontece aos poucos eleitos desse partido, se fazem parte de um processo ilegal que não deveria ter-se apresentado a eleições. Não deveria haver listas, mas houve. Não deveria haver votos nessas listas, mas alguém votou. Não deveriam ser eleitos, mas alguns foram. E agora? Serão demitidos? Substituídos? Serão votos nulos? E quem os vai substituir?
Mas é preciso seguir em frente, resta saber como. Para já o presidente demitiu-se e o partido não tem líder, já que está revestido de ilegalidade partidária. Até ao próximo congresso, o barco não tem timoneiro, já que ninguém tem carta válida para o conduzir. Sem leme e sem rumo?
A contabilidade final ditou surpresas enormes em várias autarquias. Coimbra, Figueira da Foz e Lisboa, para referir somente algumas. O que ressalta é o facto de os independentes ganharem Câmaras sem precisarem do apoio dos partidos. Leva-nos isto ao que muitos referem como estarem fartos de políticos e de promessas que não cumprem. E acrescentam que os partidos são todos iguais e que os políticos são isto e aquilo e que só se servem dos lugares para atingirem outros fins. Pois talvez, mas não podemos medir toda a gente pela mesma rasa. Há crivos diferentes! Por isso é que na Figueira se cantou vitória embora comedida.
Mas Lisboa foi diferente e inesperado. Medina nunca esperou tal resultado. Tinha uma certeza quase absoluta de vitória, mas saiu derrotado e quer se queira ou não, arrastou Costa nesta derrocada, embora ele venha dizer que não. Custa admitir uma derrota, ainda mais quando não é esperada, mas a verdade é que é preciso seguir em frente. Ele próprio o disse. Vamos ver.
Agora Lisboa com Moedas terá de mudar. Muito ou pouco, terá de cumprir o que prometeu, caso contrário dará razão ao que o povo diz sobre os políticos. Não vai ter tarefa fácil, até porque terá de dialogar com os outros partidos e sem diálogo, não há nem governo nem obra e os lisboetas gostam de cobrar. Eles têm a faca e o queijo nas mãos e se Moedas quer seguir em frente, terá mesmo de mostrar ao que veio. Não se ganha impunemente. E o PSD e o CDS e os outros coligados, também estão à espera que assim seja … para seguirem em frente.