Ana Soares

Ana Soares

Ser Mortágua não é crime, já mentir quanto ao imposto…

Se há comportamento que me faz comichão – e bastante, devo desde já assumir – é propagar-se aos sete ventos a defesa de um princípio e, na prática, fazer o seu oposto. Admito que seja passível de discussão – e preparei já a minha caixa de entrada para receber e responder aos emails de quem tem a paciência de me ler– mas considero que é o que se passa quando se cruxifica alguém pela família a que pertence, sendo – no entanto – acérrimo defensor da Família enquanto célula fundamental da sociedade. É o que julgo acontecer com Mariana Mortágua.

Não conheço Mariana Mortágua pessoalmente e, como é fácil adivinhar, não sinto por ela qualquer simpatia política e menos partidária. Mas tal não faz com que desrespeite a Família dela ou, sobretudo, que ela própria me mereça qualquer crítica pela sua ascendência familiar. Aliás, como é que a nossa Família pode ser algo de negativo que nos é encrustado se – com todos os defeitos e virtudes – é, e digo-o convictamente, o centro da nossa sociedade?

Como será também expectável, não nutro qualquer sentimento positivo pelo percurso de vida público de Camilo Mortágua. Acho que, aliás, se tivéssemos justiça a sério sobre alguns períodos recentes da nossa História onde reinam ainda muitos tabus e dogmas, a vida deste Senhor seria necessariamente diferente. Mas isso, em nada, deve prejudicar – à partida – os seus descendentes. Não seria isso carimbar as pessoas por onde nascem e não lhes entregar a dignidade que qualquer Ser-Humano merece?

É por isso com imenso pesar que vejo que o principal argumento utilizado contra o “imposto Mortágua” é “Filha de quem é, roubar já lhe está no sangue” ou outras frases com o mesmo sentido. Será que quem utiliza este argumento não se apercebe que, até para criticar o imposto, é um tiro no pé? Chamando a atenção para a árvore genealógica da Deputada bloquista, não só se está a desviar a atenção do que é essencial, como se queima o tempo que os media dão a estes assuntos sem usar argumentos realmente interessantes. Digo eu que explicar que o conto da carochinha de que o dinheiro do imposto seria para aumentar as pensões é tudo menos verdadeiro – desde logo porque ilegal – seria muito mais frutuoso e politicamente certeiro. Além de deitar por terra o grande triunfo de Mariana Mortágua: o apresentar-se como uma boa técnica…

Não me preocupam minimamente os “memes” do facebook: quem está na vida pública tem que saber viver com isso. Preocupa-me – desde logo por ser um espelho do debate político em Portugal – que publicações credíveis cedam espaço a este tipo de crítica ou que até as alimentem. Chega de brincar aos políticos meus Senhores! Chega de olhar para os espaços de opinião com muito umbigo e pouca visão lateral. É da vida de todos nós que se está a falar… E pior! A decidir!

Tudo isto porque ser Mortágua não é crime, já mentir quanto ao imposto… deveria ser!


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