Luis Ferreira
Será que o novo continua velho?
Para trás ficou 2024 com todas as suas terríveis mazelas, rodeadas de consequências atrozes onde só esta humanidade desprotegida foi completamente atingida.
Todos os anos, quando chegam ao fim, faz-se o levantamento do que mais sobressaiu ao longo dos 365 dias. Muitas coisas más e poucas boas. É sempre assim. Nada muda ou muda muito pouco. O ano que terminou foi diferente. Repleto de acontecimentos muito maus e inesperados que rotularam alguns dos intervenientes de assassinos e genocidas. Fez lembrar o tempo em que Hitler imaginou conquistar um Império igual ao de Napoleão e dominar a Europa. A diferença é que parece que são muitos a tentar fazer o mesmo. Não é só um. Putin começou há quase três anos, com a tentativa falhada de conquistar a Ucrânia em três dias. Invadiu um país independente e soberano com uma desculpa esfarrapada envolta numa operação especial contra o nazismo. Esta guerra sem sentido vai entrar em 2025. Cansados da contenda, todos clamam por uma paz justa, mas ainda não deram um passo em frente. Esperam por Trump. Quem espera?
O ano passado levou a guerra à Palestina e à destruição de Gaza, numa busca incessante pela derrota do Hamas. Teve o condão de se estender para a Líbia e para a Síria. Em busca da derrota do Hezbollah e indiretamente do Irão, levou à fuga do Presidente da Síria, que abandonou o cargo e refugiou-se na Rússia, junto com o seu amigo Putin. Isto foi a derrota de Putin naquela região. As bases que lá tinha, foram desativadas quase completamente. A Rússia ficou sem um porto na zona do Mediterrâneo. Uma fragilidade enorme para a Rússia.
Entrámos em 2025 com a esperança de que os horrores das guerras em presença se extingam rapidamente. Na mesa estão afirmações importantes a este respeito. Trump disse que acabaria com a guerra da Ucrânia de um dia para o outro. Ninguém acredita, mas Zelensky continua a acreditar que algo de positivo poderá vir dos EUA e que Trump poderá travar Putin. A partir do dia vinte deste mês, logo veremos, mas não sejamos demasiado crentes. Seria bom, mas… Por outro lado, ele também se está a voltar contra a Europa e a querer abandonar a NATO. O jogo do aumento das taxas à China e aos países europeus, pode ter consequências económicas mundiais terríveis. Que impere o bom senso.
Zelensky, para marcar a sua posição contra a Rússia, cortou a passagem de gás para a Europa, pelo seu território, o que significa um prejuízo enorme para a economia russa. Mas a Moldova já está a pagar por isso. O frio não é bom conselheiro! É a moeda de troca possível para a Ucrânia. O conjunto de sanções que os diferentes países fizeram à Rússia, não foram suficientemente persuasivas para Putin se sentar à mesa das negociações. Talvez uma ameaça de Trump a Putin consiga levar Putin a uma negociação de paz. Resta saber os contornos das negociações. Haverá cedências de parte a parte certamente, mas quais? Vamos esperar.
Por outro lado, Netanyahu quer uma vitória para Israel, mesmo à custa de um quase genocídio em Gaza e de atrocidades inqualificáveis no Líbano e na Síria. Ainda restam o Iémen e os Houtis a quem Netanyahu jurou destruir igualmente. E se as negociações entre o Hamas e o Estado de Israel andam aos soluços e não se vê solução, o cessar fogo com o Hezbollah está constantemente a ser violado, levando a inúmeros mortos incluindo crianças que não têm culpa nenhuma das tontices dos senhores da guerra.
Neste início de ano, continuamos a ter a mesma roupagem do ano passado. Está difícil mudar a roupa velha por uma nova e mais acolhedora. A busca pela paz em todas estas paragens do globo, não é fácil de concretizar. Entretanto, luta-se contra o tempo e contra a morte. Luta-se contra o tempo e contra a morte…matando. Incongruência terrível. Os milhares de mortos já contabilizados não são suficientes para sensibilizar os donos da guerra. A morte de crianças aos milhares, nada significam para eles, talvez porque não têm filhos na guerra ou não têm mesmo filhos que os olhem profundamente nos olhos e lhes chamem assassinos.
Os intervenientes destas guerras loucas deveriam ter a humildade de reconhecer o horror que praticam diariamente e parar para não carregarem mais culpas que, mais tarde ou mais cedo, os vão enfiar numa vala pouco profunda, onde desaparecerão comidos por bichos não tão horríveis como eles. Infelizmente, é difícil acreditar que tudo termine neste Ano Novo. Mas é urgente que algumas das regiões afetadas pela guerra cheguem a uma paz que já tarda.
Todos desejamos que 2025 vista roupa nova e não seja uma simples continuação da miséria que acaba de terminar. Bom Ano Novo é afinal o que todos pedimos, mas dificilmente acontece.