Manuel Igreja

Manuel Igreja

Siga a Marcha

Vistas as coisas agora logo nos primeiros dias do ano em que o século XXI atinge a maioridade, dezoito anos, não se poderá dizer que ao ano que findou tenha sido algo de por aí além.

Pode dizer-se até que em termos gerais bem antes pelo contrário. Resta-nos, pois, desejar que se comecem a cortar alguns males pela raiz de maneria a se evitarem repetições de coisas más e o fortalecimento de coisas muito ruins que por toda a parte começam a medrar adubadas pelo medo, pela insegurança e pela falta de esperança.

Comecei o escrito dizendo que o século em que vivemos atingiu a maioridade e, por conseguinte, a capacidade de assumir responsabilidades, mas neste ponto só me apetece dizer que as situações e as atuações que mundo afora se veem mais parece que continua na fase da adolescência parva para não dizer outra coisa. Não sei se o senhor leitor e à senhora leitora também acontece o mesmo, mas olho, e mais parece que anda tudo meio ensandecido, alienado e sem reparar que os bárbaros já nos invadiram e que andam os demónios à solta. Parece um jogo de malucos este nosso tempo. No entanto, se virmos bem, nada está a acontecer pela primeira vez, e nem sequer se passou muito tempo após a última desgraça iniciada no ponto de rebuçado igual ao que atualmente se atingiu. Milhões de cidadãos sentem o futuro muito incerto, e mais milhões derrapam na lama e não acreditam no amanhã.

A fúria anda à solta e a cavalgadura vai sem brida. O freio nos dentes é uma postura e a faca na liga para defesa ou para ataque ao que se aproxima é cada vez mais a postura usual. De resto, os dirigentes a todo o momento se encarregam de acicatar os ânimos inventando inimigos dizendo-se muito amigos. As multidões vão indo embaladas e espicaçadas num tempo em que aumentam as desigualdades apesar de estarem reunidas todas as condições para tal não acontecer. Só a ganância o permite e só a ausência de carisma e de inteligência dos líderes deixa que se vá por esse caminho na era em que devia estar a despontar um admirável mundo novo.

Nós por cá neste nosso canto lá vamos andando maravilhados com o facto de sabermos que Portugal é visto alargadamente como uma maravilha. Sabe-nos bem e vamos aproveitando. No ano passado deitamos muitos foguetes, mas infelizmente também carpimos muitas mágoas.

Choramos lágrimas de sangue porque o fogo nos queimou a paisagem e o coração e porque o Estado se mostrou desconchavado pondo-se ao léu o estado a que isto chegou. Mas tenho para mim que começamos o ano de dois mil e dezoito prontos para ir em frente. Somos bons e temos imensas coisas que não sendo únicas são excelentes.

Somente temos de aproveitar as potencialidades que nos calharam em sorte e as faculdades de ser assim plenamente prazenteiros e lutadores.

A gente sabe que é assim. Por isso, vamos esperar para ver, fazendo acontecer. Siga a marcha que se faz tarde.


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