Sol, frio, suor e arrepio

Bem-vindos ao Outono, esta maravilhosa estação em que o sol deixa de ser quente. Em que o vento deixa de ser agradável. Em que já não é qualquer lençol que nos consola à noite.

Bem-vindos, principalmente, àquela altura do ano que poderemos apelidar de carnaval do armário. Todos os dias, tentamos as mais fantásticas combinações para conseguir estar de acordo com a temperatura ambiente. E todos os dias falhamos redondamente. É tão comum ver alguém de t-shirt, como alguém com um quispo. E quem é capaz de decidir quem saiu na meteorologia errada?

Quem nunca percebeu, a meio da manhã, que escolheu a roupa errada, que atire a primeira pedra. Quem nunca pensou que “o dia ainda aquece” ou que “isto agora já não é Verão para andar sem uma manga de camisa” que julgue a indumentária dos outros, que tentam combater o Outono com as armas que têm.

Acontece muito sair de casa e sentir um arrepio nos braços. Olhamos, para constatar a pele de galinha, e rimos nervosamente. Lá por volta das 10h isto fica mais ameno. Não fica. Passamos o resto do tempo com os lábios roxos, a apregoar que ainda mal notamos que o Verão já se foi. Ou então saímos enchouriçados, cobertos de roupa. Pomos, até, um lencinho no pescoço (reparem como a roupa de Outono combina bem com diminutivos). Está frescote, e estamos quase em Outubro. C'um mil diabos! Fica calor, tanto calor, por volta das 10h da manhã, quando no dia anterior tínhamos tido tanto frio. Como é possível? Só nos resta transpirar, e arremangar furiosamente o algodão.

“Acontece o mesmo na Primavera”, estão a pensar. Pois acontece. E temos aquela roupa que chamamos de “meia estação”, porque este tempo intermitente tende a durar pouco. Um mês e meio, não é? Arredondando. Porque a seguir vem, neste caso e sem piedade, o frio. Mesmo que ainda não consideremos, em termos de calendário falando, que já devesse ser assim.

Se vos serve de consolação, este ano já vi camisolas quentinhas nas colecções de inverno. Sim, porque nunca hei-de entender quem desenha certas farpelas. Nunca hei-de entender porque vou comprar uma camisola de tecido invernoso, como veludo, se depois só serve “com um casaquinho mais grosso”. Ou vestidos que são atravessáveis pela luz. Ou casacos grossos e felpudos, só que sem mangas. Ou camisolas com tecidos esvoaçantes. Às vezes gostava que os designers de moda viessem tirar umas ideias ao nordeste transmontano.


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