Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Sonhos desfeitos numa rua de Bragança

Há menos de um mês, o Presidente da República condecorou, com a medalha de mérito, o jovem guineense Braima Dabó, aluno do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e atleta de alta competição, que, num gesto de singular humanidade, emocionou o mundo na final das provas do Campeonato do Mundo de atletismo, no Qatar. As imagens correram as TV’s e redes sociais de todos os continentes e falaram por si: nos últimos metros da etapa, ao notar num adversário do Caribe sinais de quebra física e dificuldades em manter-se de pé, o jovem guineense recuou para o amparar e carregá-lo até à meta, sacrificando a sua própria prova. Não ganhou então qualquer medalha. Mas foi sagrado campeão mundial de carácter, solidariedade, humanidade e generosidade, sentimentos que tanta falta fazem hoje no desporto e na cidadania.

Trás-os-Montes e, em especial, Bragança rejubilaram de orgulho. Braima Dabó é mais um das largas centenas de estudantes que, anualmente, viajam dos países lusófonos de África para Portugal, cheios de sonhos e projetos, em busca de um rumo que venha a contribuir para a melhoria do futuro dos seus países. Muitos destes jovens estudam no IPB em Bragança e em Mirandela. Trazem vida, cultura, alegria e renovação a estas cidades, nelas depositando o que há de mais virtuoso no conceito de multiculturalidade. Bragança e Mirandela orgulham-se do acolhimento a estes jovens.

Paradoxalmente, poucas semanas após esta condecoração, um outro jovem africano, de Cabo Verde, Luís Giovani dos Santos Rodrigues, Giovani para os amigos, aluno da licenciatura em Design e Jogos Digitais na ESACT - IPB, em Mirandela, foi espancado numa rua de Bragança, do que resultou a sua morte. Também ele demandou esta região com o mesmo sonho. Os seus amigos e colegas estão de rastos, assim como toda a comunidade do IPB.

Para a tarde do próximo sábado (dia 11), está anunciada uma marcha de homenagem à sua memória nas ruas de Bragança. No respeito dos valores sagrados da tolerância e da paz que partilhamos, é desejável que os responsáveis de tal ato estejam já sob a alçada da justiça. Que o silêncio se não abata sobre este caso. Nada é pior do que o silêncio e, com ele, o ódio silencioso de quem busca na angústia o seu refúgio.


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