Barroso da Fonte

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Três transmontanas casaram com líderes africanos

Três sereias Transmontanas, belas, cultas e revolucionárias, foram conquistadas por outros tantos africanos. Todas da mesma época e em idênticas circunstâncias: eles vieram  formar-se em Portugal.  Dos três casais,ainda está viva e cheia de genica, a mais nova: Maria Eugénia Neto, nascida em Montalegre, em 8/3/1934. Com cerca de 5 anos foi, com a Família, viver para Lisboa. Aí estudou desenho e Línguas, integrando os Coros do Conservatório Nacional. Em 1948 fez parte de um convívio de intelectuais africanos que escolheram Lisboa para se formarem. Desse grupo fazia parte António Agostinho Neto que se licenciou em medicina e com o qual casou no dia em que concluiu o curso. Tiveram um filho: Mário Jorge,  Irene Alexandra e Leda Neto. Nasceram todos em Lisboa, mas a Mãe Eugénia, cedo começou a seguir o marido, levando com ela os filhos, sempre que ele era preso, ora em Angola, ora em Cabo Verde, ora em Portugal.

Os pais de Agostinho Neto casaram, em 1918 e tiveram 9 filhos. Ambos eram professores e pastores religiosos. O futuro herói escreverá na revista Afrique Asie em 1/10/1970: «nasci em 1922, parti para Portugal aos 25 anos de idade, em 1947, regressei ao país natal em 1959, onde fui preso e reenviado para Lisboa e só voltei em 1975. Em Caxicane só vivi até aos 8 anos».

Américo Alberto de Barros e Assis Boavida, nascido em Luanda em novembro de 1923, formou-se em medicina, na Universidade do Poro. Regressou a Luanda, em 1955 e trabalhou como Genecologista. Entusiasmado por Agostinho Neto e outros líderes Africanos, aderiu à luta pela independência de Angola, nas fileiras do MPLA, sendo co-fundador da Organização da Mulher Angolana (OMA). Casou em 21/08/1958, em Lisboa, com a Bragançana, Maria da Conceição Deolinda Dias Jerónimo Boavida. Ela faleceu aos 92 anos, (em 4/2/2016) tendo sido Professora de formação e combatente nacionalista nas fileiras do MPLA. Só viveram juntos 11 anos porque o médico Américo Boavida, foi morto em 25 /11/1968, em consequência de um bombardeamento aéreo, na zona de Moxico.

Finalmente a Engª Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues, nascida em Casas Novas, Chaves e falecida em Braga, em 23 de Novembro de 2005. Casou com um seu colega do curso de Agronomia que entrou na História, como o Pai da República Popular da Guiné: chamou-se Amílcar Cabral. Nasceu na Guiné-Bissau, em 1924 e veio para Portugal continental, onde se licenciou. Começou por trabalhar na Zona Agrária de Trás-os-Montes, com sede em Mirandela. Certamente foram influências do casamento com sua colega de curso: Maria Helena que nascera no vizinho concelho de Chaves, de uma família de militares e de influência social.

O autor desta nota de leitura, já noutra altura escreveu – e repete-o agora – que Luís Cabral, visitou o Posto Experimental de Montalegre e outros serviços agrários da Região a Norte do Rio Douro e que dependiam de Mirandela. Pudemos conhecer, de perto e durante a segunda metade do século XX, o Engº Fernando Gusmão que chefiou esses Serviços, vitais para esses anos em que a Agro-pecuária, representavam a tábua de salvação para as populações do interior norte. O Estado Novo, a exemplo do que faria com os colonatos da Junta de Colonização, retirou terrenos aos baldios das povoações vizinhas de: Meixedo, Codeçoso e Montalegre e delimitou esses terrenos, transformando-os em escolas de formação. Muitos braços humanos aprenderam, aí a laboração  agrícola, a troco de vinte escudos diários. O progenitor de quem afirma isto, foi aí jeireiro, muitos anos e conheceu, pessoalmente, o Engº Amílcar Cabral. Quando fomos, meu irmão José e eu próprio, ele para a Guiné e eu para Angola, repetiu-nos, muitas vezes, que ele havia sido chefe desses Serviços. Que era «um patrão muito competente e sério» e que o procurássemos, dizendo - lhe que éramos seus filhos». Que talvez esse seu «patrão» se lembrasse do jeireiro que riscou a estrada que ligava o Posto Experimental à Estrada Municipal, Montalegre- Chaves».

Em 1963 inicia-se na luta armada e, em 5 de Julho de 1975, consegue a independência conjunta  de Cabo Verde e  da Guiné-Bissau, em 10 de Setembro de 1974. Foi assassinado em 24 de Janeiro de 1973, na presença da segunda mulher, Ana Maria. Foi em Conacry que tombou aos disparos de Inocêncio Kani, guerrilheiro do PAIGC. Do casamento que durou 22 anos, nasceram duas Filhas: Iva que é reitora Universitária em Cabo Verde e Luísa que vive em Braga, onde trabalha como médica.

Como se depreende estas três Transmontanas de Montalegre, Chaves e Bragança merecem ser perpetuadas como primeiras damas dos países de Angola, Guiné e Cabo Verde.

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