Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Um café e dois dedos de conversa

Combinei tomar um café, com uma amiga, numa esplanada. Cheguei antes da hora, para não variar, e eis que de soslaio reparei num casal que trocava carícias, próprias de quem anseia por algo mais quente do que uns beijos. Fui observando a rapariga e a desenvoltura do rapaz. Este, parecia batido na conversa de engate. Quanto à moça…sabia a missa toda. Usava uma saia vermelha justa e curta que deixava ver as coxas, sapatos pretos de salto de agulha, uma blusa branca de renda com acentuado decote e um batom vermelho vivo. Tinha um cruzar de pernas que me fez lembrar a Sharon Stone. Quanto ao teor da conversa… Não era de política e ainda menos de assuntos da atualidade. Está bom de ver que, passado pouco tempo, foram embora. Deixo o resto por conta da vossa imaginação.

Entretanto...chegou a minha amiga Madalena. Depois dos cumprimentos, constatei que tinha um brilho diferente no olhar. Era um brilho mais luzidio do que o habitual.

- Madalena, o que se passa contigo?

- Não se passa nada.

- Vá lá! Conheço-te bem. Os teus olhos brilham…

- Oh! Estou apaixonada, Vitória.

- Quem é o felizardo?

- Deixa-me cá ver se consigo alinhar as ideias para te contar tudo.

- Começa pelo princípio.

- O princípio… O princípio foi engraçado, Vitória.

- Não me digas que foi num site de namoro?

- Não, nada disso!

- Então?

- Foi uma pessoa que encontrei, por acaso, no lançamento do último livro da Agostinha.

- E?...

- E...aconteceu que começámos a conversar. A páginas tantas, no rebuliço da conversa, trocámos números de telefone e mantivemos contacto diário até que voltámos a encontrar-nos. Sentimos urgência em ver-nos. Olha, nunca mais nos largámos.

- E quem é ele? É das nossas relações?

- Por acaso é. Temos alguns amigos em comum: a Francisca, a Amélia, o Júlio…

- Vive aqui?

- Não, vive em Coimbra.

- O que faz?

- É médico.

- Mau! Escuta lá: sempre disseste que não querias nada com médicos.

- Pois disse, é verdade.

- E, então, o que mudou?

- Aconteceu o inesperado. Olha, nem sei bem o que sinto, ou melhor, sinto tudo num turbilhão que me revirou do avesso. Posso dizer-te que é boa pessoa. Transmite-me leveza e bem-estar, uma paz imensa e, ao mesmo tempo, desejo carnal.

- E como estão a correr as coisas entre vós?

- Estamos em perfeita sintonia. Parece que andámos a vida toda à procura um do outro. Sabes?... Quando te cruzas com a pessoa certa dizes: por esta pessoa, sou capaz de dar a volta ao mundo sem me cansar.

- Estou feliz por ti, Madalena. Ainda não me disseste como se chama?

- Henrique.

- Tem um nome bonito, sim. Sabes, só quero que sejas feliz. Bebe o café que já deve estar frio.

Riram do café e do amor incontido da Madalena.

Entretanto…outro casal trocava carícias numa mesa encostada ao varandim. Tinham o fogo da paixão e da juventude, a mistura perfeita para se amarem até não sobrar nada.

Isto de me distrair a observar as pessoas…faz-me cócegas na alma e desperta saudades de tempos felizes.

 ...

© Teresa do Amparo Ferreira, 23-05-2024
    𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
    Mirandela, Bragança, Portugal.


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