Chrys Chrystello

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Um mal nacional ou parolice açoriana em 3 atos

Crónica 279 parolice açoriana em 3 atos 13.8.19

 

  1. Há esta parolice açoriana de dar nomes estrangeiros (quase todos em inglês) a projetos, festas, etc., hoje vi um novo “CREACTIVITY?” na Lagoa. No Google não surge resultado algum para creACTivity)… e como bilingue que sou entendi a ideia “criativa” mas  poupem-me, escrevam na língua oficial e deixem-se de parolices saloias de novos-ricos falidos... escrever em inglês não é sinónimo de sofisticação ou classe mas parolice… Atlantis Cup, Azores Today, Azores Burning Summer, Festival Folk Azores, Azores Triangle Adventure, SpotAzores, Walk & Talk Azores, Epic Trail Azores, Eco-Beach Resort, Azores GeoPark, Azores Greenmark, Azores Trail Run, Lava Homes, Hotel Neat, Pink House Azores, Azores Cow House, Lagoa Azores SUP Day,Lagoa promove Birdwatching, e tantos mais que poderia buscar… Muitos destes nomes se fossem apresentados na sua versão bilingue eu até compreendia…como chamariz turístico, oh yeah! You know?

 

  1. Há mais exemplos da dita parolice açoriana, mas no campo das festas anuais e seus contratados para abrilhantarem musicalmente os eventos. Não consegui contabilizar os muitos milhares de euros que voam em cada verão para pagar a “artistas continentais” dos quais alguns de qualidade dúbia e outros sobrevalorizados. Com algumas honrosas exceções, quase todos esses artistas atuam em animação de festas paroquiais ou municipais, e sem terem a qualidade dos artistas locais (sejam eles cantantes, bandas, filarmónicas). Claro que os que vêm de fora cobram cachês de mais de dez mil euros cada e os da terra – quando não atuam graciosamente – cobram tuta e meia. Assim tem sido há muitos anos. Recordo que aqui na Lomba da Maia no ano de 2013 contrataram o Quim Barreiros por 17 mil euros em vésperas de eleições para a Junta de Freguesia, a terrinha decuplicou a população por umas horas e os resultados das eleições foram os opostos ao pretendido.

 

Depois quando vierem as chuvas, desabamentos, inundações, ou outras obras necessárias quer as Juntas como as Câmara Municipais todos se vão queixar da falta de verbas para obras. Ainda há não muito tempo houve um artista na capital do norte da ilha de S Miguel que parece ter cobrado 150 (mil) mais 55 mil euros da receita. Ao subirem ao palco já o dinheiro tilinta na conta deles enquanto que os locais ficam tempos infindos à espera de serem pagos. Assim se fazem festas e festarolas com o erário público, dilapidando recursos numa manifestação de panem et circensis, tal como em Roma no século I da nossa era.

 

  1. Outro exemplo da parolice acontece com o turismo, que tem levado o governo regional a abrir novos e maiores parques de estacionamento para os senhores turistas, muitas vezes prejudicando o equilíbrio ecológico e defenestrando paisagens para apaziguar a necessidade de todo o bicho careta turista estacionar. Em tempos, eu e outras pessoas sugerimos para os locais mais emblemáticos da ilha de S Miguel onde se verificava tal necessidade, que fossem criadas carreiras de minibus, preferencialmente ecológicos ou mesmo elétricos, em vez de criar parques enormes de estacionamento. Por exemplo na Lagoa do Fogo, correriam nas horas de maior afluxo de meia em meia hora, parando (por exemplo em pontos fixos) na Lagoa, Ponta Delgada e Ribeira Grande. Podia ser cobrada uma quantia (simbólica ou não) e o trânsito fluiria melhor (os carros dos turistas estacionariam em locais designados naquelas três cidades). O mesmo se deveria fazer na Vista do Rei para evitar a imagem de há dias, com carros estacionados dos dois lados da rodovia e mal se passando no espaço remanescente. Aqui, o minibus turístico podia partir de Ponta Delgada, subir à Vista do rei, descer às Sete idades com paragens nas lagoas e regressar pela Covoada, aliviando os constrangimentos de trânsito. 

NÃO PODEMOS PERMITIR QUE O TURISMO PREDADOR TENHA ESPAÇO NOS AÇORES!!! Por último um exemplo de parolice arquitetural era a tentativa de construir um aborto de hotel (580 camas) ao qual o Governo dos Açores atribuiu a classificação PIR – Projeto de Interesse Regional com financiamento comunitário de 85% do seu valor a fundo perdido. E o Autarca de Vila Franca do Campo, Ricardo Rodrigues (forte defensor da incineradora) nada fez para evitar este projeto através da alteração do PDM. Felizmente o governo regional cancelou a autorização do “aborto arquitetónico” em Água d’Alto (580 camas), junto à imaculada Praia do Degredo. Já em 2017 surgira outro projeto idêntico de 4 estrelas e 83 quartos (6 milhões de euros) para a cândida paisagem protegida da vinha da ilha do Pico, mas esse parece estar esquecido por enquanto.

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E como amo os Açores não falarei de mais parolices hoje…

Para o Diário dos Açores (desde 2018). Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 / AU 3804 [Australian Journalists' Association] MEEA/AJA]

 


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