Ana Soares

Ana Soares

Uma crónica diferente

A crónica que hoje aqui partilho é certamente bastante diferente de todas as outras. Não se refere a qualquer assunto polémico ou de actualidade. Na verdade, depois de vários anos em que tenho o privilégio de colaborar com o Diário de Trás-os-Montes, escrevo pela primeira vez sobre um episódio da minha vida e o muito que com ele aprendi, os meus sentimentos e, por fim, um exemplo que vale a pena divulgar e que todos podemos apoiar.

Quem me conhece sabe que, desde criança, sinto um enorme afecto pelos animais, sendo que desde pequena tive a sorte de partilhar a minha casa com alguns que sempre foram membros de pleno direito da nossa família. Tantos bons momentos, tantas aprendizagens, tanto carinho, tantas diversões e aventuras que vivi com todos e com cada um deles que mil crónicas seriam insuficientes para descrever, ainda que uma pequena parte, de tudo o que me deram e dão até hoje.

Em Abril deste ano, dia 16 para ser mais precisa, de manhã acordei com uma das piores notícias que podia receber. Estando eu em Lisboa – o que me fez sentir ainda mais impotente e entregou maior angústia ao que vivi nesse dia – a minha Mãe telefona-me antes das 8 horas da manhã com a terrível notícia que o Whisky tinha desaparecido. O Whisky é um companheiro de vida. Um dos meus cães que me dá o gosto de comigo partilhar todos os momentos e que fez no passado dia 1 de Junho 14 anos. Se, na verdade, tentei aparentar manter alguma racionalidade perante a minha Mãe no telefonema, por dentro senti que estava completamente a ruir.

Ninguém sabe como vivi esse dia. Mal desliguei a chamada da minha Mãe, não consegui ter outra reacção que não chorar. Estava longe, não tinha como procurar o meu pequenito e sabia que a minha Mãe já teria feito tudo para o encontrar antes de me dizer e que estaria, também ela, devastada. Com a idade que o Whisky tem, não eram muitas as perspectivas positivas e o facto de sempre ter vivido connosco em casa fazia temer o pior.

O resto do dia foi péssimo. No escritório todos me perguntavam o que tinha para estar tão macambúzia e eu não pensava noutra coisa que não fosse falar com a minha Mãe e tentar saber novidades que nunca tinham nada de novo: nem sinal do Whisky, choro de um lado e do outro do telefone, palavras que tentavam animar corações partidos.

À tarde, quando tentava perceber o que podia fazer à distância, lembrei-me de colocar umas fotos minhas com o Whisky no facebook e pedir a todos os meus Amigos de Bragança que estivessem atentos, confesso que sem grande esperança. Passados que estavam apenas 10 minutos, nem queria acreditar quando uma das minhas melhores amigas, a Ângela – a quem estarei para sempre grata – me diz que uma sua amiga – que até hoje não conheço mas a quem agradeço de todo o coração – tinha visto um post no facebook em que um cão muito parecido com o meu Whisky tinha sido encontrado pela Margarida Ferreira, pessoa que até então eu não conhecia, e que procurava o seu dono.

De imediato contactei a Margarida e lá estava o meu Whisky, são e salvo, acolhido por uma pessoa que eu não conhecia e que, juntamente com tantos outros amigos meus, me mostrou o lado mais generoso do facebook. Mas para além de toda a alegria, emoção e felicidade que vivi (e vivo!) por ter reencontrado o meu querido Whisky, desde esse dia que acompanho a meritória e tão louvável acção que a Margarida faz por todos nós, pelo bem-comum, dando corpo a uma verdadeira acção de serviço público.

De facto, desde Abril que acompanho diariamente o facebook da Margarida e que vejo com toda a alegria como dedica uma parte importante da sua vida a salvar animais em situações verdadeiramente degradantes, a ajudar a reencontrar a família a tantos outros que se perderam como o Whisky ou a encontrar novos lares aos nossos melhores amigos que nunca tiveram a sorte de encontrar quem os acolhesse com amor.

Não há realmente palavras para descrever tudo o que a Margarida faz pelos animais: desde “campanhas” para angariação de comida e bens essenciais para associações, divulgação de animais que podem ser adoptados, resgate de animais em apuros, salvar animais que acolhe na rua tratando-os no veterinário e tantas outras coisas.

E porquê? Porque, como me disse quando lhe agradeci o que fez pelo Whisky, o bem-estar dos animais é essencial e o sorriso de felicidade de quem com eles comparte a vida e os trata com amor.
Mais uma vez, gostaria de deixar aqui o meu muito obrigado à Margarida por me ter devolvido um dos meus companheiros de vida, de quem gosto de todo o coração. Mas mais do que isso. Obrigada também pelo exemplo que é, pelo bem que faz, pelo seu amor pelos animais e por nos mostrar a cada dia que cada um de nós pode fazer a diferença. Bem-haja!


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