Luis Ferreira
União na desunião
Como sempre acontece em questões de liderança partidária, o líder é escolhido em Congresso e desta feita o PSD escolheu Rui Rio. Depois de uma longa estrada em que inspeccionou todas as bermas, Rio submeteu-se ao escrutínio natural, sem correr muitos riscos. Para Santana, a vitória seria natural, mas a sombra de Rio acompanhou-o ao longo de toda a caminhada, o que lhe trouxe muita incerteza. A derrota não o desmotivou e apostou na continuidade da sua presença em vez de dizer que “estaria por aqui”. Está efetivamente.
O Congresso mostrou-os unidos e a união do PSD parecia ser uma realidade, mas o acordo com Rio não lhe granjeou muitos apoiantes e os seguidores foram ficando para trás. Nada que favoreça o PSD. Mas será que favorece Rio?
A verdade é que para Rio não chega ser líder. Tem de mostrar mais alguma coisa e não é fácil já que não está na Assembleia, local ideal para fazer política partidária e uma oposição ao governo que o poderia elevar a patamares mais altos. Deste modo a tarefa não se mostra nada fácil. A escolha de uma líder parlamentar que funcionasse de acordo com o presidente do partido era imprescindível e urgente. E se à partida poderia parecer tarefa fácil, a verdade é que não foi. Fernando Negrão apresentou-se aparentemente por falta de outro candidato e foi apoiado por Rio, já que também não havia outro para o lugar. Mas ganhar com uma margem tão pequena não dá segurança nem ao partido, nem a Rui Rio. De facto, 39,7% não era a margem que Negrão estava à espera, mas foi a que obteve. A eleição foi complicada e isto mostra muito bem a desunião que se instalou entre os deputados do PSD.
Neste momento, dentro de todas as tendências existentes internamente no PSD, tudo o que se pretende é muito questionável. Não se pode fingir que tudo corre bem e que Rui Rio está à vontade com o que tem à sua volta. Com quem é que ele pode contar?
Rui Rio quer alterar toda a estratégia do partido e mudar a corda em que tem vindo a girar, dando-lhe uma nova dinâmica, mas tudo se complicou. E complicou-se mais ao escolher para vice-presidente a célebre Elina de quem ninguém parece gostar. Tem muitos handicaps, é verdade, mas Rio deveria saber disso e também deveria perceber que isso lhe traria muitos problemas na sua governação. Agora não há volta a dar. Tem de aguentar.
Não podendo funcionar dentro da Assembleia, Rui Rio tenta negociar com Costa algum tipo de acordo, de modo a influenciar algumas decisões dentro da Assembleia, à margem dos seus deputados. Ora isto pode-lhe trazer grandes dissabores. Para ultrapassar isso, Rio está a tentar formar um “governo sombra” o que lhe permite fazer alguma oposição e analisar a funcionalidade do governo em determinadas matérias. É urgente que Rio faça oposição séria ao governo e Marcelo já lhe terá pedido isso mesmo.
Contudo isto, o CDS e Cristas lideram a oposição e está um passo à frente do PSD nesta matéria. Rui Rio terá de acelerar o passo para levar o PSD a tomar decisões importantes em matéria de oposição se quer liderar esse processo que Marcelo lhe incumbiu. Não é tarefa fácil.
Para já, Costa não se mostra muito preocupado com estas movimentações. Tudo parece estar sereno lá para as bandas do PS. Mas estará? Claro que para Costa toda esta azáfama e desunião do PSD é-lhe benéfica. Negrão, Elina Fraga e mais algum desentendimento interno, só beneficia o PS, portanto Costa, para já, respira desafogadamente. Mas atenção, o excesso de confiança pode ser prejudicial. Nunca fiando.
O facto de os militantes e apoiantes do PSD estarem desconfiados e desiludidos, não significa que fiquem assim muito tempo. Esta fraca união do PSD, facilmente se converte em união forte se for necessário e vai ser. Não se enganem os que pensam o contrário. As eleições estão a um passo e será necessária uma união enorme se querem derrotar Costa e o PS. Não vai ser fácil. Todas as ovelhas tresmalhadas do PSD terão de se juntar atempadamente no redil e sob o comando de Rio para sair à conquista de todos os votos que lhe permitam fazer uma campanha agradável e obter um score vitorioso. No entanto, enquanto Costa continua a contar com a geringonça, Rio não conta com ninguém. Cristas já disse que corre sozinha. O CDS arranca para a campanha sem coligações o que leva Rio a fazer um esforço tremendo para enfrentar o PS com alguma dignidade. Se aparentemente a geringonça se mantem unida, o mesmo não acontece no PSD o que obriga Rio a fazer um jogo de cintura enorme. A tentativa de negociar com Costa neste momento, pode querer abrir uma brecha para que o PS possa deixar para trás um elo da geringonça, mas nada está garantido. Se Costa tiver a certeza que a geringonça lhe garante a vitória e um governo coeso, Rio vai passar muito mal e a única solução será negociar, a posteriori, com o CDS e com Cristas. Esta união pode ser mais frutuosa. No entanto, primeiro há que arrumar a casa e unir o que está completamente desorganizado. O futuro exige-o.