Chrys Chrystello
Universos, multiversos e realidades virtuais
Crónica 214 universos, multiversos e realidades virtuais 14 out 2018
Anda meio mundo preocupado com a provável eleição do populista – quase nacional-socialista – Bolsonaro para liderar o Brasil. Não vejo qual é o problema, ele quer eliminar os negros, os indígenas, os homossexuais, e mais de metade da população, resolvendo desta forma os prementes problemas de ordem social que afetam o Brasil, reservando assim o vasto país para uma enorme coutada de poucos alicerçados uma classe média, arrogante, cheia de privilégios, profundamente racista e discriminadora. O mesmo foi tentado e realizado com sucesso por outros, como Adolfo H., um austríaco (ou era austro-maníaco?) que desfez a Alemanha na 2ª Guerra.
Na Espanha o ódio racial contra os não-espanholitos atinge o seu age em investidas contra os catalães, enquanto na vizinha Galiza se extirpou a língua galega agora quase totalmente convertida a um castrapo foleiro de castelhano. Como se isto não bastasse a história foi reescrita e deturpada retirando todo o brilho e fulgor das enormes qualidades que a nação galega teve ao longo dos séculos. Não entendo o mal-estar de pequenos segmentos da sociedade que contestam isto…bem pior foi o genocídio arménio aí por volta de 1915 e hoje já ninguém se lembra disso nem dos arménios.
Em Portugal, alguns puritanos de um determinado tipo de justiça equitativa e socialmente responsável, insurgem-se contra o julgamento e possível condenação a 5 anos de cadeia de alguém que roubou uns cinco leitões para comer, enquanto outros que roubaram bancos e levaram milhares à bancarrota (com a ajuda do sempre generoso estado que investiu biliões em bancos falidos) continuam impunes, ano após ano, gozando reformas milionárias e o fruto do seu roubo… cremos que isto é inveja dissimulada do Zé povinho que não tem classe nem categoria para roubar em grande…e francamente, se tinham fome, roubavam só um leitãozito.
Outros falam ainda do desaparecimento de armas no paiol de Tancos, que depois apareceram numa manobra de encenação, tendo já causado algumas demissões, mas sem quaisquer resultados futuros. Todos os dias desaparecem milhões de coisas, como milhões de euros mal investidos e mal geridos pela banca, pelo estado, pelas autarquias, e por daí em diante…e nunca ninguém se importou pois vota sempre nos mesmos, que insatisfeitos com o produto dos seus roubos se mostra sempre disposto a sacrificar-se pela “res publica” e a concorrer para ser reeleito.
Seguindo sempre na senda dos sagrados valores pátrios de futebol, Fátima e fado que fez da nação essa grande potência imperial de tempos idos, as televisões entretêm-nos com mais futebol, Fátima e pimba enquanto á socapa os governos vão aprovando as leis que mais lhes convêm, a si e aos seus amigos e apoiantes, e o povo ordeiro e calmo aceita sem saber nem se importar e temeroso de males piores vota sempre nos mesmos.
Nos Açores as crises são muitas e acumulam-se, mas tudo continua como se nada se passasse, e a verdade é que pouco se passa, de facto. Incentivam-se as pequenas disputas tribais interilhas enquanto os grandes problemas se escondem sob o tapete para os netos se terem de preocupar com eles e sua fatura. E, se um ou uma mais afoito, ousar falar, cairá no vale do desterro, marginalizado, sem direito a qualquer apoio ou subvenção que, como alguns sabem, é o conduto de qualquer reeleição, ou pelo assim tem sido desde a autonomia de 1976. Entretanto criam-se expetativas sejam elas a do porto espacial na Malbusca, a construção de um ou outro porto, ou barco, ou outra qualquer coisa que leve as pessoas a falar, discursar, debater, combater até que esses planos sejam cancelados ou substituídos por outros. E sempre haverá novos coelhos prontos a tirar da cartola quando chegar o sagrado dia de São Voto devoto.
E com SATA ou sem SATA, com ou sem barco, seja com o que for, ou sem nada disso, as pessoas continuarão a viver como sempre viveram até agora. Umas, mais inconformadas votarão com os pés, como sempre fizeram e emigrarão, outras mudarão de padrinho ou candidatar-se-ão a novos projetos e compadrios.
A cultura e a educação continuarão a ser apanágio de loucos e utópicos como eu, que ainda me preocupo com essas coisas neste deserto com vozes que habitamos, onde vozes de burro não chegam aos céus e onde touradas, filarmónicas e a santa festinha da freguesia são os valores a preservar…
Chrys Chrystello, Jornalista [MEEA/AJA (Australian Journalists' Association – Membro Honorário Vitalício nº 2977131, 1983-2018) carteira profissional AU3804]