Chrys Chrystello
Vamos falar de educação
Crónica 293 vamos falar de educação
Porque devemos debater educação e ensino (o que penso sobre a educação, tema do 34º colóquio da lusofonia de 1 a 5 outº 2020 em Ponta Delgada http://coloquios.lusofonias.net/XXXIV/)
Tenho andado preocupado com o que se passa neste país à beira-mar prantado, e com a educação dos portugueses. Mais preocupado fiquei com o anúncio da manutenção do ministro da pasta no novo governo. Claro que sei, e há muito o venho escrevendo, que o que convém a todos os governos é uma massa cinzenta de alunos, quase analfabetos para assim serem melhor manipulados. E devo adiantar, desde que o escrevi pela primeira vez há uns 20 anos, que o sucesso tem sido enorme como já se pode constatar na taxa de abstenção (o ideal seria os governos serem eleitos apenas pelos membros ativos de cada partido sem incomodar o cidadão e dispensá-lo de ir às urnas)
Há um número crescente de docentes impreparados. Por aquilo que já observara entre 2002 e 2005, a tendência mantém-se. O erro começou com o fim da vetusta Escola do Magistério e com a criação das Escolas Superiores de Educação. Excesso de escolas superiores, de universidades e quejandos, sem cumprirem os requisitos mínimos de exigência e competência. Mais uma boa ideia no papel que não funcionou na prática, mas serviu para aumentar os rendimentos das instituições que os ministravam.
Hoje, o ensino (primário e secundário) pode parecer demasiado lúdico com tudo a fingir e a brincar para não sobrecarregar os meninos e pelo meio uns exames (provas de aferição ou o que quer que lhe chamem na data em que me lerem) que não servem para nada.
Passou-se da memorização excessiva à não-memorização para não sobrecarregar os frágeis cérebros das crianças…A tabuada era fascista? A obsessão hodierna é com as más notas da OCDE, da EU e do sistema PISA. Isto implica a necessidade de passar todos os alunos, a todo o custo, sem esforço algum, a não ser para os professores que se atrevem a chumbá-los. Neste caso, deparam-se com uma escalada aos Himalaias ou o equivalente a uma tese para preenchimento de relatórios…. ~
E é difícil explicar porque se chumbam alunos que nada sabem, que nada aprendem, que nada querem aprender e que chegaram a um determinado ano sem as competências mínimas dos anos anteriores, isto digo eu que sou um leigo na matéria.
É por este e outros motivos que personagens iletradas, analfabetas consigam chegar à universidade sem saberem fazer cálculos aritméticos básicos e escrevam mal e porcamente porque a regra exigida aos professores é a do “DEIXA ANDAR”.
Quase ninguém sabe escrever uma composição daquelas que eu ortografava na velhinha terceira classe. Compreensão de textos? Que é isso? Basta alinhavar umas palavras que já demonstram conhecimentos…afinal estamos na era SMS, mensagens de texto incompreensíveis para a maioria dos mortais nascidos antes de 1980? Na Nova Zelândia já aceitam respostas a testes em linguagem textual...em Portugal há demasiados professores avessos a novas tecnologias. Grassa também uma total falta de respeito pelos professores, a que muito ajudou o governo e a sua campanha de denegri-los como bode expiatório. Os alunos desordeiros, rufias, indisciplinados, mal-educados, ordinários, violentos podem desestabilizar as aulas que as medidas de coação impostas serão mínimas. Mesmo depois de baterem nos professores, ou ameaçarem-nos com armas, verdadeiras ou de imitação, continuam a ir às aulas.
Portugal pode um dia, chegar a algum lado, e isto nada tem a ver com o sistema de ensino atual.…o ensino bom ou mau, com umas ou outras regras, será sempre aquilo que os professores forem ou quiserem ser. Há professores desiludidos com o sistema, é certo, mas a maioria tem dezenas de anos de trabalho e de dedicação pelos quais se podem lamentar. Há outros, porém, que agem contra as normativas ministeriais portuguesas porque lhes retiram "privilégios" ou "mordomias" e os obriga a fazerem "formação" coisa horrenda que detestam, esquecendo-se de que em países ditos civilizados as pessoas fazem formação até morrer, mesmo bem depois de reformados (não estou só a falar da minha austrália, mas de outros países). Claro que nem toda a formação será a que mais interessa, mas há sempre a que cada professor ou pessoa pode escolher independentemente de ser mandatada pelo ministério.
Vê-se aliás como os professores em Portugal são avessos a formação ou investigação científica (a menos que se repercuta em saltos de carreira ou interesses pecuniários). Tive a oportunidade de o constatar ao longo dos últimos anos com a repetida ausência de docentes (do primário, secundário ou terciário, fossem da área de Português ou não) nos Colóquios da Lusofonia. Cada pessoa, professor ou não tem a obrigação de ir para além do que o ministério manda, pois, a sua principal obrigação não é para com o ministério que lhe paga, mas com os alunos que tem de educar, é daí que surge o étimo magistério...caso contrário deve dedicar-se a outra atividade profissional menos exigente ou para a qual tenha mais vocação.
Assim como nem todos podem / devem ser pais / mães, nem todos deviam / podiam ser professores... Este tipo de provas de que falam para confirmar a falta de literacia existente em cada pedacinho de terra portuguesa, pode mostrar muitas coisas, mas a falta de literacia de muitos professores (no passado seria diferente) anda de mãos dadas com a de muitos alunos...
Estamos todos desiludidos com o "sistema" (aliás a palavra veio de um dirigente desportivo) mas poucos fazem além de se queixarem.
Nos meus tempos ainda se lutava contra a guerra colonial e outras coisas importantes, mas atualmente já ninguém luta por nada, embora todos lutem contra tudo e todos... Esquecem-se os queixosos de que muitas vezes a revolução deve começar por nossas casas antes de chegar à sociedade, e se não investimos na tal formação (só por mero gozo pessoal ou vontade de nos melhorarmos) não iremos longe, seguiremos a pisada dos iletrados e incultos líderes que tão bem nos dirigem, como os pastores conduzem os seus rebanhos de cordeiros. (Portugal é uma carneirada, que me desculpem os carneiros).
A predominância no Ministério da Educação de “mentes brilhantes” formadas na linguagem a que se chama “eduquês” e é politicamente correto para impressionar o parolo, ou como dantes se dizia num francesismo típico “pour épater le bourgeois,” que é aquilo porque todos aspiram “serem bourgeois”, mais prosaicamente “para inglês ver” que nisto de impressionar os estrangeiros é connosco…
Esses brilhantes funcionários, eternos românticos de pedagogias gastas e inadequadas, botam faladura que ninguém entende, criam novas terminologias para que todos se impressionem com a sua inteligência opaca e baça e dão palmadas nas costas (uns dos outros) pelo seu arrojo e coragem em mudar… por isso é que a educação mudou mais vezes desde que nasci do que muita gente muda de camisa numa vida inteira (mas também isso de ensinar a higiene não deve ser feito nas escolas…para não maltratar o amor-próprio das criancinhas).
Pelo que atrás resumi, e por tanto que poderia acrescentar, ouso afirmir que no tempo da velha senhora qualquer pessoa que completasse uma 4ª classe, um 5º ou 7º do Liceu evidenciava competências e saberes, sabendo ler e escrever, e os profissionais (juízes, médicos e outros) eram mais competentes (mesmo amordaçados pela censura), habilitados a desempenhar as funções sem alguém duvidar do seu percurso e preparação científica, técnica e intelectual.
Para o Diário dos Açores (desde 2018), Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)
Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [MEEA/AJA, Australian Journalists' Association] CP AU3804