Luis Ferreira
Vamos reestruturar
Há muito que se ouve falar de reestruturação da dívida, mas até agora ninguém quis assumir a responsabilidade de a pedir. Não sei se tal responsabilidade será compatível com a vontade efectiva da realização do objectivo em causa.
Quando nos dirigimos à banca para adquirir uma casa, negociamos o valor que ficamos a dever e os anos que a banca nos dá para pagar a dívida que vamos contrair. E assim, ficamos 15 ou 20 ou 25 anos a pagar um determinado valor. É uma dívida a longo prazo e que nos obriga a determinada ginástica caseira para que tal comprometimento seja viável. Suponhamos que um determinado banco nos dá 20 anos para liquidar a dívida e que nós temos um filho com 18 anos de idade. Se o crédito à habitação for feito em nome do filho, altera-se completamente a vigência do contrato a efectivar e o banco já pode dilatar a mesma dívida por um prazo maior, ou seja pode.se pagar em 30 anos. O que se fez foi renegociar o crédito para a compra de habitação. No fundo, adquire-se uma dívida, a qual terá de ser paga num determinado tempo a estabelecer pela entidade bancária.
Ora, Portugal adquiriu um determinado crédito para pagar dívidas que se fizeram para comprar algo que, no estrito sentido comercial, foi uma aquisição, cujo valor se ficou a dever. O que se pretende então fazer agora?
Será que sabemos quantos anos nos dão para liquidar a nossa dívida? Será que sabemos qual o valor a liquidar anualmente? Se alguém sabe, nós não sabemos, mas devíamos saber. Fala-se em quarenta anos. Se calhar mais.
Portugal, no tempo de Fontes Pereira de Melo, contraiu uma dívida fabulosa para tentar modernizar o país, dívida essa que foi paga em cerca de cem anos. É sina nossa andar sempre a dever e a pagar. Pelo menos pagamos. Já não é mau!
Ora, se assim é, então também não fará mal que esta dívida seja mais dilatada no tempo e que isso nos traga algum sossego à carteira através de uma diminuição da austeridade, porque se assim não for, então não vale a pena andar a pedir reestruturação da dívida. Para quê?
O documento do 74 que agora já reuniu mais de sete mil assinaturas e vai descer ao Parlamento para análise e discussão, não refere nem perdão de dívida, nem diminuição do prazo, mas apenas uma reestruturação. Ora eu penso que essa reestruturação passa simplesmente por uma análise do problema que poderá levar a uma conversa com algum interesse, com os nosso credores.
O certo é que nós não podemos armar-nos em ricos só para contentamento dos outros países europeus e dos nossos credores. A Troika não precisa do nosso dinheiro. Aliás, eu não compreendo como é que ainda têm a desfaçatez de vir cá fazer as avaliações e levar dinheiro por um serviço que eles próprios determinam como ajuda. Cada um dos indivíduos que vem a Portugal recebe cerca de 3.000 euros e ainda tem tudo pago, incluindo hotel e alimentação. Francamente! Se é uma ajuda, como se atrevem a vir roubar o pouco que tempos? Não lhes chega o que ganham nos serviços a que pertencem? Isto é bem demonstrativo da ajuda que nos querem dar esses organismos europeus.
Assim sendo, se calhar a conversa que deveríamos ter com os nossos credores para uma reestruturação da dívida, não terá muito sentido! A não ser que eles vejam nessa dilatação do prazo uma forma de vir cá buscar mais dinheiro em ajudas de custo, passeando-se por este belo país à custa do zé-povinho que vai pagando essas viagens sem se aperceber.
A melhor forma de acabar com isto tudo, era haver um “Euro milhões” dos países e assim podia ser que Portugal tivesse sorte e lhe calhasse uma batelada que desse para pagar de uma só vez, tudo o que deve e mandar esses indivíduos dar uma volta ao bilhar grande!
Se eles são assim tão nossos amigos como dizem, então a reestruturação da dívida devia partir deles e nós até ficávamos muito agradecidos como europeus que somos. Vamos lá a fazer-lhes essa proposta. Vale?