Wuhan

A duas  semanas da minha viagem a Wuhan, o convite foi-me feito… Já estava reticente da minha participação antes, mas a certa altura pensei: “Então, mas e porque não?”

“É capaz de ser engraçado!… ” Pensava eu…

Tinha o prazo de três dias para mandar o meu video com a coreografia sabida. Mas e como vou fazer isto? Tenho ausência de tempo nesta vida nova em Pequim e ausência de espaço na casa… E ir para o parque ensaia englobava uma logística muito grande, a qual não estava disposta!

Mas a fim de ninguém “perder cara” e eu realmente ir em frente com o convite que me foi feito, acabei por fazer um esforço de pelo menos tentar…

Durante três noites, antes de adormecer, no meu pequeníssimo espaço no apartamento, revi os vídeos que me enviaram. Ao todo eram uns 18 vídeos e tive que aprender os movimentos que em cada um deles vinham….

Três dias depois consegui enviar o video, que parecia tudo menos a dança a realizar.

O tema escolhido foi “Pick me” do programa online da “Tencent” , “Produce 101” e a coreografia tem que ser ensaiada para que todos sejamos uma só unidade a dançar em Wuhan, no evento…

Mas como podem 30 mulheres, unidas apenas num grupo de Wechat dançar uniformemente quando cada uma está em cidades distintas e distantes na China?

Não importa, vamos continuar… Entre nós comentamos: “Lutamos”, vindo da expressão chinesa 加油. Duas semanas depois, com algum treino pelo meio, e com uma vida de trabalho que nem sempre nos dá energia ou tempo, já em Wuhan, todas nós no reunimos às 13 horas num ginásio em Optics Valley…

Foi a primeira vez que muitas de nós nos encontramos, mas ali consegui encontrar rostos conhecidos e amigos…

O calor em Wuhan é infernal e durante horas tentamos sincronizar-nos e rever alguns pormenores e até fazer algumas alterações… Tentamos lutar contra a desidratação bebendo água e mais água…

Definidos os nossos postos e os planos a realizar está na altura de usarmos a roupa escolhida para o video… As coisas são distribuídas pelas “ondas” (Hailang) e esperava por nós um autocarro que nos iria levar até ao Wuhan Optics Valley International Tennis Center.

Durante duas horas em frente onde se iria realizar o concerto, dançamos, gravamos e repetimos, vezes sem conta, a fim de nada escapar para o vídeo… Todas nós estavamos encharcadas, transpirávamos… Não estivessemos a dançar à mais de 5 horas sem parar e sob o calor insuportável de Wuhan…

 

Terminado o nosso trabalho, dança ou flashmob, cada uma dirige-se para o interior do Wuhan Optics Valley International Tennis Center, para se sentar no respectivo lugar e ver o principal motivo que nos trouxe aqui, a todas, hoje…

E é este o resultado de um trabalho conjunto de pessoas unidas num grupo de Weixin que durante duas semanas trabalhou e praticou individualmente…

Este é o poder das “Ondas”…

Se quiserem ver o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=w36E3XXJ2gc

Na verdade, tenho muito orgulho em poder fazer parte destes acontecimentos…

Poderia chegar à China e não aceitar as vivências ou os grupos criados ou desculpar-me com a falta de comunicação que pode haver por causa da língua. Podia tentar fazer a minha vida aqui, criando uma pequena bolha europeia à minha volta, comendo só comida do ocidente, comprar produtos só do ocidente.. Mas se assim fosse, o que levaria desta experiência? Fotografias dos templos?… para isso decidia fazer turismo na China e não mudar-me para cá…

Não confundam o que eu digo, não nego ser ocidental nem europeia… Mas, ambos os mundos e as realidades, tem coisas boas e más… Eu escolhi tentar vivenciá-las a todas, sem negar a minha origem ou aquilo que a China é…

E assim, sinto-me feliz por estar tão próxima da realidade humana e emocional da China…

Ana Carmo,

Wuhan, China


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