Fatos:
Nomeado: Artur Bordalo
Nome artístico: Bordalo II
Naturalidade: Lisboa
Idade: 28 anos
Colaborador/assistente: João Sobral
ENTREVISTA:
Diário de Trás-os-Montes (DTM): Bordalo Segundo porquê?
Bordalo Segundo (BS): Porque o meu avô também é artista e foi a forma que eu encontrei de dar continuidade ao nome dele.
DTM: Há quanto tempo te dedicas a este tipo de “Street Art” (arte de rua)?
BS: É difícil perceber exatamente o tempo, mas acho o termo “street art” um bocado redutor. Vem de um percurso anterior… Eu desde que me lembro de existir que desenho e que gosto de desenhar. Entretanto, por volta dos 11, 12 anos comecei a fazer “graffiti” ilegal na rua. E, depois, com o passar dos anos e com a maturidade ou falta dela, comecei por me interessar por fazer coisas diferentes, já um bocadinho mais construtivas do que, apenas, o graffiti, que é um hobby e comecei a querer fazer peças com que eu pudesse comunicar com as pessoas de alguma forma. Eu acho que quando nós temos o suporte da rua podemos transmitir ideias e chamar a atenção em relação a pontos que achamos que valem a pena.
DTM: Mas, especificamente, em relação ao tipo de arte com lixo que te trouxe de novo a Bragança, com que idade começaste?
BS: Estas peças eu comecei a fazer, provavelmente, em 2010 ou 2011. Comecei a explorar as primeiras formas e, talvez em 2012, tenha dado o salto e tenha sido o momento em que eu me apliquei realmente.
DTM: Como é que descreverias a tua arte?
BS: Eu acho que são peças que tocam no ponto de coisas relevantes cujo objetivo é fazer as pessoas refletirem um bocado sobre aquilo que estão a ver.
DTM: Esta vinda a Bragança surgiu a convite de quem?
BS: Neste caso, surgiu a convite da Câmara Municipal. Provavelmente, eles gostaram da peça que nós fizemos cá o ano passado e chamaram-nos para fazermos mais duas obras na cidade.
DTM: Na primeira obra que fizeste o ano transato, erigiste um camaleão a apanhar um inseto. Tem algum significado em particular? Ou uma interpretação subjetiva?
BS: Não tem assim nada de especial, a não ser um animal feito de lixo.
DTM: Na segunda, logo ao lado da primeira, edificaste uma gineta. Para ti, esse felino tem algum interesse especial?
BS: Sim, a gineta é um animal que está, praticamente, em vias de extinção. Pelo menos, na península ibérica. Há muito poucas.
DTM: E quanto à terceira e última obra, do outro lado do túnel. Porquê o javali?
BS: Em relação ao javali, propuseram e eu achei engraçado porque nunca tinha feito nenhum.
DTM: E tens livre-arbítrio para escolheres os animais ou é a pedido de quem te contrata? Neste caso, da autarquia brigantina.
BS: Nós podemos chegar a um entendimento, mas, obviamente, a última palavra é sempre minha. No caso do javali, a câmara propôs e eu aceitei. Ou seja, houve um consenso. Mas quanto aos outros dois animais, fui eu que escolhi.
DTM: Tu só fazes obras com animais?
BS: Não, eu tenho outras séries de trabalhos diferentes, mas estas peças em grande escala feitas com lixo são sempre de animais.
DMT: E as outras obras são diferentes em que aspetos?
BS: Posso fazer objetos, personagens, esta série de trabalhos é sobre animais, mas tenho outras séries sobre crítica social e outras coisas completamente diferentes.
DTM: A produção de cada um destes trabalhos é um empreendimento para durar, mais ou menos, quanto tempo?
BS: Quatro a cinco dias cada um. À volta disso.
DTM: Entre a primeira e a segunda, estando elas tão próximas, pretendes criar algum elo de ligação?
BS: Vou mantê-las separadas. São peças feitas em épocas diferentes e acho que é interessante ver-se a evolução que houve de um ano para o outro. O trabalho acaba por ser diferente, apesar de serem da mesma série.
DTM: Tens outras obras espalhadas por Portugal e, inclusive, um pouco por todo o mundo. Poderias nomear-nos algumas das cidades portuguesas e alguns dos países onde é possível encontrar trabalhos da tua autoria?
BS: Em Portugal, temos peças em Lisboa, na Covilhã, Águeda, Estarreja, entre outras. No estrangeiro, também temos bastantes. Em cidades como Berlim, Roma, Londres, Las Vegas, depois, na Polónia, na Noruega… Tantas que nem eu sei já (risos).
DTM: Fazes desta tua arte um modo de vida. Em Portugal consegue viver-se como artista? Pelos vistos, tu consegues…
BS: Eu consigo (risos). Mas não só em Portugal…
DTM: Existem artistas dentro desta tua área, que tu admires e que te inspirem de alguma forma?
BS: Claro que sim. Vik Muniz é um dos artistas que mais me inspira. Farewell é fantástico! Há muitos.
DTM: Onde é que te inspiras para a criação destas obras sem paralelo? Vens com uma ideia pré-concebida? Como é que nascem estes trabalhos?
BS: Eu já trago uma ideia, obviamente, depois de ver qual é o suporte onde vou trabalhar. Mas, claro, que pode haver alterações depois de, uma vez no espaço, achar que vai funcionar uma peça completamente diferente. Mas sim, a peça vem pensada.
DTM: Onde é que vais arranjar os materiais com que compões os teus trabalhos? Ao ferro-velho (risos)?
BS: Além do material que tem de ser novo, que é o caso das tintas, dos parafusos, das brocas, dos buchos, dos arames, de todas as coisas de fixação e das ferramentas que são um investimento que servem para fazer bastantes trabalhos, o resto do material vamos buscar a sucatas, vamos a buscar a lixeiras municipais, às vezes encontramos peças interessantes e imensa coisa que nos serve, apesar de ser triste encontrar, mas encontramos em terrenos baldios e pela rua.
DTM: Qual foi a peça que tu mais gostaste de fazer? Ou que mais prazer te deu enquanto artista?
BS: De animais, não sei. Mas a minha peça preferida de sempre é um presente feito de lixo que eu fiz na altura do natal há dois anos.
DTM: E a quem entregaste esse presente?
BS: À mãe-natureza.
DTM: És um defensor dos direitos dos animais?
BS: Sim, claro.
DTM: Qual é o teu animal de eleição? Animal real? Pode ser selvagem.
BS: Todos os animais têm o seu encanto. Acho os felinos interessantes, mas todos os bichos têm o seu interesse, são é diferentes. Provavelmente, o meu animal preferido é capaz de ser o gato porque é um animal com que eu convivo e que é possível ir na rua e interagir com eles. Mas o fato de um animal selvagem não querer nada connosco, não quer dizer que seja menos interessante do que um animal doméstico.
DTM: Tens algum gato?
BS: Tenho, dois.
DTM: Como é que se chamam?
BS: (risos) Um chama-se cão e o outro chama-se cat. Muito original (risos)!
DTM: E quando vais para fora quem é que trata deles?
BS: A minha namorada que está em casa com eles (risos).
DTM: Já tens o próximo trabalho agendado? Isto é, quando saíres de Bragança vais para onde?
BS: Tenho trabalhos marcados até ao fim do ano já. A seguir, tenho algum trabalho para fazer em Lisboa. Depois, tenho uma peça para fazer em Viseu e…
DTM: E fora do país?
BS: Na Bélgica é outra a seguir, sei lá. Tenho tantas coisas para fazer…