O momento cultural revelado o ponto mais alto da iniciativa Terra(s) de Sefarad teve lugar aquando da tomada do Castelo de Bragança pela voz de Yasmin Levy.

A artista israelita perdeu o pai quando tinha somente um ano de idade, mas cantou com ele, em palco, uma música em espécie de homenagem como a própria disse "graças às novas tecnologias”. Esse e outros momentos ficarão para sempre guardados na memória de todos aqueles que tiveram o privilégio de estarem presentes no concerto. 

O Diário de Trás-os-Montes entrevistou, em inglês, a artista israelita que é considerada pelo jornal britânico "The Guardian" como uma das melhores artistas femininas do Médio Oriente.

 

ENTREVISTA

 

Bruno Mateus Filena (BMF) – Chegou um dia antes a Bragança para o concerto no Castelo. Já teve a oportunidade de visitar a cidade?

Yasmin Levy (YL) – Bragança é linda e muito semelhante a algumas cidades de Espanha e França. Mas não é só uma cidade bonita, consegue-se sentir e respirar a história e é isso que a torna especial. Consigo sentir a dor, o pesar e, ainda, beleza como uma peça de arte.

 

BMF – O que é que já teve a oportunidade de visitar?

YL – Fomos até ao centro, perto da igreja. E depois fui até à parte antiga da cidade, no Castelo, onde é suposto eu atuar esta noite (sábado, 17 junho).

 

BMF – Quais são as suas influências enquanto artista?

YL – Eu cresci ouvindo desde música francesa, flamenca, árabe, turca, egípcia, persa, à música clássica, jazz e ópera. Toda essa mistura de estilos, eu sou o resultado disso e na minha música, na música que eu componho, eu misturo esses diferentes estilos.

 

BMF – Como é que será o seu concerto esta noite? O que é que o público poderá esperar?

YL – Por causa deste evento em particular (Terra(s) de Sefarad), vou cantar mais canções sefarditas, mas não só. Também vou interpretar alguns originais, canções que eu escrevi durante toda a minha vida, canções espanholas com influência do tango da Argentina e, por isso, será uma mescla, mas, do mesmo mundo, sabes? Uma jornada por vários tipos de música.

 

BMF – Esteve em Madrid a produzir música e, agora, sei que se encontra na capital inglesa, em Londres, mas a fazer o quê mais concretamente?

YL – Agora, estou a atuar no Royal National Theatre of England, onde integro uma peça muito bela chamada “Salomé”. Estive lá três meses e ainda falta mais um e depois vou regressar a Israel para produzir outros dois novos álbuns. Muitas coisas esperam por mim no meu país.

 

BMF – A Yasmin tem 7 álbuns, sendo que o último saiu, sensivelmente, há três meses. Como é que descreveria o seu último trabalho?

YL – Foi a primeira vez que eu gravei em hebraico. Toda a minha vida gravei em espanhol, em ladino, na língua sefardita. Agora, vou produzir um álbum para um cantor russo de música pop e outro álbum para mim. Tenho, também, uma tournée nos Estados Unidos, no Canadá e na Alemanha.

 

BMF – Seguramente, já correu os quatro cantos do mundo?

YL – Quase!

 

BMF – Em Portugal, onde já atuou?

YL – Em Lisboa, no Festival de Música do Mundo em Sines, no Algarve e na Casa da Música no Porto.

 

BMF – Que artistas conhece do nosso país?

YL – Sou amiga da Mariza e já trabalhámos juntas em diferentes locais. Mas cresci a ouvir Amália Rodrigues e amo o Fado.

 

 

BMF – Se pudesse escolher um músico em Portugal para coproduzir um álbum, quem escolheria?

YL – O problema é que não conheço assim tantos. Mas ouvi algumas artistas femininas em Portugal e depois de ter viajado pelo mundo sei o suficiente para reconhecer que têm aqui belíssimas vozes com muito talento e um grande controlo sobre as suas vozes, e eu respeito quem sabe cantar. Não fico entusiasmada com a maior parte das canções que ouço pelo mundo, sou muito difícil de agradar porque cresci a ouvir grandes cantores e, por isso, muito do que se faz hoje não me impressiona. Mas em Portugal existem, sobretudo, cantoras que realmente me impressionam por saberem, de facto, cantar.

 

BMF – A Yasmin está para Israel como a Mariza está para Portugal. Concorda? Apesar das duas serem cantoras cuja música ultrapassa quaisquer fronteiras…

YL – Não! Porque a minha carreira foi maior no resto do mundo, pois durante 14 anos estive sempre a viajar e raramente estive em Israel. E foi por isso que, agora, decidi regressar a Israel e gravar um álbum no meu país de origem para começar a cantar para o público israelita na sua língua.

 

BMF – Depois dos judeus terem sido expulsos de vários países, entre os quais, Portugal e Espanha, depois dos seus antepassados terem sofrido inúmeras atrocidades, poderem regressar e viver num clima de relativa paz, o que é que isso a faz sentir?

YL – Atualmente, dão cidadania aos judeus que foram expulsos de Espanha e Portugal e, agora, na fronteira, ajudamos pessoas que foram expulsas de Espanha a terem esse passaporte. Por isso, é bom para mim ouvir que estão a ter paz com os judeus que foram expulsos de Portugal e quero muito fazer parte disto, parte desta paz que é tão bela.

 

BMF – Sendo a própria Yasmin israelita, não posso deixar de referir a questão israelo-palestiniana e perguntar-lhe a si o que pensa desse conflito que não aparenta ter um fim à vista e que já dura há tempo demasiado?

YL – Em toda a minha carreira, eu nunca falei em questões política porque acredito que a minha função, enquanto artista, é ajudar as pessoas a encontrarem um bocadinho de paz nos seus corações. Não tenho qualquer direito enquanto cantora, nem o privilégio, se as pessoas amam a minha música e a minha voz, de partilhar a minha opinião. Aquilo que eu posso dizer é que sou embaixadora da organização de caridade Children of Peace (Crianças da Paz – VER LINK - https://www.childrenofpeace.org.uk/about-us/ ), que reúne crianças israelitas e palestinianas porque eu acredito que quando as crianças se juntam e não têm medo entre si são o princípio da solução.

 

 

BMF – Só para terminar, até porque não temos mais tempo, o jornal inglês “The Guardian” escreveu um artigo em que afirma que Yasmin Levy é uma das melhores artistas femininas do Médio Oriente. Qual é o comentário que tamanho elogio lhe merece?

YL – Eu trabalho mesmo muito, mas acho que isso não faz sentido, simplesmente, porque não é importante aquilo que eles dizem. Respeito o jornalista, é bom ouvir, mas podem dizer que eu sou a melhor ou podem dizer que eu sou a pior, não importa nada. O que é realmente importa é se eu faço as pessoas felizes. Se as pessoas que ouvem a minha música, se eu lhes conseguir tocar o coração, é isso que é importante para mim.

 

 

Foto principal (entrevista) – Pousada de S. Bartolomeu

Fotos do concerto cedidas pela Câmara Municipal de Bragança



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