O diretor-geral da Aethel Mining, Nuno Araújo, disse hoje à Lusa que a ferrovia poderá ir "à boca da mina" caso a siderurgia de aço 'verde' feito com o ferro de Torre de Moncorvo fique longe da extração.

"Naturalmente, no futuro, se a fábrica, a siderurgia que nós gostaríamos que ficasse em Portugal for nas imediações [da mina], tanto melhor. Se for mais distante, significa que a ferrovia terá de dar resposta a essa necessidade, e aí tem que vir mesmo à boca da mina", disse, em entrevista à Lusa, o responsável que se juntou à Aethel no início do ano.

Nuno Araújo salientou que a forma de transportar o agregado de ferro atualmente em produção "é com camiões", algo que "não é a melhor solução".

"Do ponto de vista de sustentabilidade não é aquela que nós queremos agarrar, e há duas que nos dão mais garantias. Quer a ferrovia, por um lado, quer a via fluvial. Mas ambas têm limitações", disse à Lusa o antigo presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL).

Nuno Araújo explicou que, para já, mesmo que fosse utilizada a Linha do Douro, seria necessário ter "um camião a levar para o Pocinho", de qualquer forma.

"Ou seja, não é comportável para nós, não está nos nossos planos nós utilizarmos camiões", apontou.

Questionado sobre o traçado da antiga linha do Sabor e acerca da renovação prevista para a Linha do Douro, admitiu que a renovação é algo que apraz à Aethel, "até porque o lado sul da mina está mesmo próximo do Douro, que é onde vai ficar a lavaria" prevista para a segunda fase do projeto.

Atualmente, na primeira fase de reativação das minas de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, está em extração um agregado com 48% de ferro, prevendo-se que com a lavaria passe para 68% de concentrado de ferro e com a siderurgia haja a possibilidade de produzir aço 'verde', com recurso a hidrogénio para produzir energia para alimentar os fornos.

"Qualquer requalificação que seja feita na Linha do Douro será sempre, para nós, boa", reconheceu, dizendo que empresas como a Medway ou a Takargo, que operam no ramo das mercadorias ferroviárias, já "apresentaram soluções logísticas, mas com bastantes limitações" face às condições atuais da via.

Nuno Araújo lembrou que "na própria infraestrutura há limitações, sobretudo nas obras de arte, na capacidade de carga, e do tipo de locomotiva que se pode utilizar", pelo que a expectativa da Aethel "é que essa obra aconteça, que elimine, de uma vez por todas, as limitações na infraestrutura" e permita ter "composições com mil toneladas" a circular.



Outra solução para o transporte dos produtos seria o recurso à Via Navegável do Douro, e questionado sobre se a Aethel planeia mover esforços no sentido de levar a linha de comboio à boca da fábrica, Nuno Araújo disse que "ambas" são uma possibilidade.

"Mas, seja como for, [sempre] em ferrovia. Na altura, no ano passado, ou há dois anos ou há três, já fizemos vários estudos preliminares, internamente até, e a via navegável era aquela que tinha mais capacidade de transporte", referiu.

No entanto, como a zona do Tua "limita muito o calado dos navios", seria necessário utilizar barcaças e fazer várias transferências de mercadoria ao longo do caminho.

"Cada movimento que nós fazemos é um custo, é por isso que a ferrovia tem interesse, é carregar diretamente na ferrovia, o comboio vai direto", salientou Nuno Araújo.

Segundo contas da Aethel Mining, por via ferroviária, sem limitações na linha, poderia ser possível transportar "oito mil toneladas por semana", e na via navegável 15 mil, "quase o dobro".

O gestor afirmou que "essas questões têm que ser todas equacionadas", sendo que está sempre em cima da mesa a questão "mais importante", a da sustentabilidade, apontou.

"Pode haver um preço a pagar para ser mais 'verde', para ser mais sustentável, para diminuir a nossa pegada ambiental", admitiu Nuno Araújo à Lusa.

A Aethel Mining Limited é uma "empresa britânica detida exclusivamente" pelo português Ricardo Santos Silva e pela norte-americana Aba Schubert, "que já havia recebido a aprovação da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), em novembro de 2019, para assumir o controlo da mina de Torre de Moncorvo".

As minas de ferro de Torre de Moncorvo foram a maior empregadora da região na década de 1950, chegando a recrutar 1.500 mineiros.

A exploração de minério foi suspensa em 1983, com a falência da Ferrominas.A Aethel Mining Limited é uma "empresa britânica detida exclusivamente" pelo português Ricardo Santos Silva e pela norte-americana Aba Schubert, "que já havia recebido a aprovação da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), em novembro de 2019, para assumir o controlo da mina de Torre de Moncorvo".

As minas de ferro de Torre de Moncorvo foram a maior empregadora da região na década de 1950, chegando a recrutar 1.500 mineiros.

A exploração de minério foi suspensa em 1983, com a falência da Ferrominas.




 Aethel quer fechar este ano projeto de 100ME para lavaria das minas de Moncorvo

A Aethel Mining, concessionária das minas de Torre de Moncorvo, quer fechar este ano o projeto de 100 milhões de euros da lavaria para poder produzir concentrado de ferro em 2026, disse à Lusa o diretor-geral, Nuno Araújo.

"Nós temos que entregar tudo fechado este ano. Esse é o nosso 'target' [objetivo], e queríamos, no decorrer do ano de 2026, produzir a primeira tonelada de ferro concentrado", disse o responsável da Aethel, em entrevista à Lusa.

Nuno Araújo admitiu que a empresa está a "correr contra o tempo" e que "os prazos são muito difíceis", já que o projeto "é muito extenso" em termos burocráticos e há "muitos documentos" a entregar às entidades competentes.

Em causa está a segunda fase do projeto mineiro da Aethel em Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, que detém "a segunda maior reserva da Europa", segundo Nuno Araújo, e se localizará "sobretudo a sul" do bairro da Ferrominas, envolvendo mais quatro jazigos além do já em operação no cabeço da Mua (a norte), e já "pressupõe o ferro concentrado".

"É uma unidade industrial, é um investimento muito superior àquele que foi feito para a primeira fase, e portanto, concretizando-se aquele projeto, do ponto de vista industrial é uma revolução na região", considerou, confirmando os cerca de 100 milhões de euros de investimento necessário.

Nuno Araújo estima estarem em causa "seguramente mais 100 postos de trabalho", algo que "naturalmente pode evoluir", tratando-se também de "uma revolução do ponto de vista logístico" e de "valor para o país".

Por agora, na primeira fase de exploração das minas, é produzido um agregado de alta densidade (48% de ferro) à quantidade de três mil toneladas por dia, que poderão subir para seis mil na segunda fase, e que tem aplicações, por exemplo, nos materiais de proteção da orla costeira.

Na segunda fase prevê-se a produção de um concentrado de ferro com 68% dessa matéria-prima, quando "aquilo que normalmente se compra no mercado" é com 62%, algo que confere "valor acrescentado" ao minério de Moncorvo, disse Nuno Araújo à Lusa.

"Até porque o tipo de energia que é necessário despender para produzir aço, com 62% ou com 68%, é consideravelmente diferente", e um concentrado com 68% de ferro e com "um nível de impurezas relativamente baixo" não necessita de "utilizar aquilo que é o coque - o carvão - como combustível, e isso reduz consideravelmente as emissões de CO2 [dióxido de carbono]".

Segundo Nuno Araújo, estes níveis de utilização de energia permitem também "utilizar uma siderurgia alimentada a hidrogénio 'verde'", a partir de fontes renováveis, passando assim a ter "um aço 'verde'", resultado de "emissões muito mais baixas do que aquilo que se consegue atualmente no mercado".

Questionado acerca da localização da siderurgia (a lavaria será próxima à mina), Nuno Araújo admitiu querer "influenciar aqueles que vão decidir, as empresas privadas" a ficar na região, mas reconheceu que "está tudo em aberto neste momento", e que "o mais importante é que fique no país", apesar do "ganho significativo" da proximidade em termos logísticos e ambientais.

Atualmente, na primeira fase, a Aethel está "a estudar a possibilidade de aumentar ligeiramente a percentagem" do agregado de ferro produzido, passando de 48% para 55%, algo que faria, segundo Nuno Araújo, cerca de "20 dólares/tonelada de diferença".

"Desde que entrei [início do ano], já contratámos pelo menos sete ou oito quadros superiores, desde engenheiros de minas, engenheiras do ambiente, topógrafos, geólogos, área financeira também", referiu ainda o antigo presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), admitindo que "é difícil cativar quadros para ir para Moncorvo".

O gestor assume que a operação da empresa "tinha tido uma fase relativamente complicada em 2022, estando interrompida, até, por vários meses consecutivos", sendo a Aethel "uma empresa que investe capital de forma intensiva" e "não dá lucro há uns anos", o que poderá explicar alguns problemas com fornecedores locais no ano passado, algo que "está ultrapassado".

Nuno Araújo disse ainda que neste momento as minas não estão a exportar, havendo em Portugal "muito trabalho para comercializar muito produto, porque há cada vez mais procura", apesar de também existir interesse do estrangeiro.

"Eu acho que todo o projeto depende única e exclusivamente de nós, da nossa capacidade de atrair quadros - e isso, como disse, é difícil -, da capacidade de alavancar investimento", resumiu, dizendo ter "zero" queixas das entidades públicas.


*** Jorge Sá Eusébio, da agência Lusa ***



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