Entrevista com Luís Silva, “Zach Noir”, um cantautor de Chaves que já gravou um EP que se chama “Hear”, num som cristalino ao melhor estilo rock, umas vezes alternativo outras vezes progressivo, mas sobretudo “bom rock” como ele gosta de definir.
DTOM: Entrevista com Zach Noir, efetuada no Bar "Sétima Arte" em Chaves
DTOM: E Zach Noir é o seu nome artístico, como é que de Luís Silva chegamos a esse nome?
- Eu sabia que queria ter "Noir" porque o meu companheiro de estimação, que é sempre o primeiro a ouvir o meu lado mais criativo, se chama Charlie Noir, é um cão. Zach surgiu de um mini estudo ou experiência que fiz através do google. Tentei procurar um nome que não existis-se (muito), de maneira a que fosse o primeiro a surgir dentro das pesquisas do Google...e de facto, com o nome "Zach" existe muito pouco conteúdo...não foi assim nenhum click criativo.
DTOM: Não é nenhum clik mas acaba por ser um nome muito interessante que ficar no ouvido mas de qualquer maneira já é um nome da geração XXI, um nome já recente, já a pensar no Google e na internet. Isso leva-me a pensar o seguinte, você é um músico, um artista que já está a pensar na divulgação e vender a música através desses meios novos de comunicação, ou não ?
-Sim, tem de ser. Inicialmente nunca se pensa num investimento astronómico e temos de utilizar esses meios que estão à mercê de todos nós...o meio gratuito agora são as redes sociais, a meu ver é o meio que chega mais perto do público...por isso é que foi assim que decidi fazer; vou criar uma página, uma conta, um conteudo e partilhar isso nas redes sociais porque é o método mais fácil e é gratuito e rápido de chegar às pessoas, é publicado hoje e fica disponível hoje.
DTOM: Estávamos a falar da forma como chega ao seu público, aos seus ouvintes... como é que define a sua música? Você é um músico, um autor, que tipo de música faz? como é que você se define numa palavra só?
- Numa só palavra é complicado...numa só palavra diria "Rock"...Quando toco, a criação surge pelo “Soft Rock” e o “Rock Alternativo”, mas geralmente o que eu digo é que crio o que estou a sentir ou a imaginar naquele momento, seja musicalmente ou na escrita. Geralmente, o meu primeiro elemento de criação é a guitarra e depois vem a letra mas, por vezes, vem a letra e a melodia primeiro, mas é sempre o que estou a sentir naquela altura, naquele momento...às vezes pode ser um rock mais tranquilo, outras vezes pode ser um rock mais alternativo ou até um rock mais distorcido...se forem aos concertos vão perceber também isto. Não gosto de limitar a criatividade numa só direção.
DTOM: Portanto você define-se como um músico “Soft Rock Alternativo Progressivo” digamos, é por aí...Canta em português ou inglês?
- Eu não me defino assim mas se tiver que definir, será por aí (risos) ... Canto, maioritariamente, em inglês mas tenho músicas em português também, por acaso um delas está gravada mas ainda não a partilhei, só partilhei as músicas em inglês que coloquei no EP "HEAR", produzido pela Ruby Discos, que lancei o ano passado mas tenho tentado cada vez mais escrever em português. Para mim escrever em português é mais desafiador porque nem tudo soa tão bem, em inglês parece que as coisas fluem mais facilmente...é uma língua mais fácil de escrever para soar melhor, o português é uma língua mais dificil de escrever, pelo menos para mim, para soar bem. Mas tenho-me esforçado para aprender a escrever mais em português. Tenho criado mais músicas agora em português do que em inglês... mas depende, se me apetecer criar uma em espanhol, crio em espanhol... (risos)
DTOM: Diga-me, quantas músicas ou quantos EP já fez?
- Fiz um EP no ano passado produzido pela Ruby Discos, aqui em Chaves, com 4 originais - "Memories", "Over The Fence", "Lucky King" e "Valentine". A Ruby Discos é gerida pelo Bruno Barroso que é o guitarrista que toca com Zach Noir.
DTOM: Vamos agora falar de uma coisa que é muito importante para as pessoas, como é que você cria? O processo criativo, como é que faz primeiro? A música, a letra, se quando faz a letra pensa primeiro em inglês ou em português, ou muitas vezes é uma palavra...como é que cria? É um ritmo? Como é que é essa situação...por onde começa você?
- Como referi, a maioria das vezes começo com a guitarra a fazer uma melodia, os acordes, uma progressão e, se me agradar, gravo. Uso muito o telemóvel. Gravo no telemovél a não ser que esteja ao pé do computador e gravo logo diretamente no computador e depois, na maior parte das vezes, vem a guitarra e depois vem a letra, mas também acontece o contrário. Outra vezes, a inspiração vem porque vi algo inspirador, um filme, um livro, um artigo, e creio que, devido a isto depois as músicas saem muito em inglês porque me lembro do que vi e lembro-me das palavras em inglês porque foi assim que ouvi, mas se for algo inspirado em pensamentos meus, situações pessoais, sai em português. Só que lá está, era como estava a dizer, em português, por vezes a letra não pode sair directamente como estou a pensar, eu escrevo o que estou a pensar, mas depois tenho que escolher as palavras correctas que soam bem e que trazem musicalidade ao que estou a escrever. Outra vezes, por exemplo, uma das músicas em português, aliás, duas das músicas em português, as duas que tenho tocado nos concertos, surgiram através de uma melodia criada pela voz, ou seja, eu lembrava-me de umas palavras, fui cantando as palavras e depois fui buscar a melodia e com a guitarra fui buscar a melodia que criei com a voz. Por acaso as portuguesas foram assim, não sei se existe algum padrão, mas as portuguesas foram assim.
DTOM: Tem pessoas que dizem que fazem primeiro as letras e os outros fazem as músicas, portanto é diferente de pessoa para pessoa, mas é muito importante, isso é interessante saber como é que as pessoas... há pessoas que fazem isso na casa de banho ou a andar de carro...
- Acontece-me muitas vezes (risos).
DTOM: Quanto tempo demora a concluir uma música? 1 dia? Uma Semana?
-Depende...depende muito de música para música. Há músicas que me saiem em 10 minutos e que ficam assim, não sinto que deva acrescentar ou retirar algo, noutras músicas chego a embirrar...”oh pá gosto tanto desta parte mas não chega...vou ter que conseguir por outra coisa...” e estou ali 2, 3 dias ou 1 semana para finalizar a música. Depois também depende do tempo livre que se tem. As músicas que mais afeto tenho, ou seja, que acho que não tenho de mudar, são aquelas que saem em pouco tempo, quer dizer que consegui fazer algo bem construído, na minha opinião claro, em 10/15 minutos, e sinto que foi uma frase inteira de um momento inteiro, não é uma frase de 2 dois dias ou 1 semana, é uma frase completa daquele momento.
DTOM: Você faz as músicas sozinho, cria sozinho ou tem alguém que ajude? Os músicos ajudam? O projeto é só você sozinho ou tem músicos? Como é que é?
- Até agora a criação primordial tem sido minha. Depois gosto de envolver os músicos que tocam comigo, o Marcelo, o Xiko, o Bruno e o Dani. São meus amigos e músicos, e sempre que têm algo a dizer sobre a música e o que podemos fazer para melhorar, sou sempre muito aberto a isso, aliás, eu peço a opinião deles. Se for para melhor venham essas opiniões.... Sou completamente aberto a que toda a gente me diga como é que...” aqui ficava bem isto...aqui não está tão bem...”, mas geralmente sim, eu crio e depois apresento às pessoas de quem eu quero a opinião, elas comentam e depois conversamos entre todos. Neste momento somos cinco a contar comigo, o Bruno Barroso, que é o produtor da Ruby Discos, que é aqui em Chaves, é um estúdio de música (gravação, mistura, masterização, ensaios), o Marcelo Fernandes, Francisco Silva e o Daniel Santos, é tudo malta Flaviense, tudo músicos, uns de profissão outros auto-didatas e gosto que eles estejam sempre envolvidos na criação e em tudo o resto.
DTOM: Os Zach Noir é você ou é essa equipa toda, esse grupo todo?
- Eu incluo todo este grupo em Zach Noir porque apesar de eu ter a visão do projecto e fazer a primeira criação musical, toda a gente dá o seu contributo dentro daquilo que o projecto apresenta e representa.
DTOM: Há quanto tempo é que existem como projeto, como um grupo?
- Como projeto com cinco elementos, que foi sempre o que quis por causa da maneira como as músicas são criadas, não há muito tempo, nem há um ano...
DTOM: E durante um ano já criaram estas músicas e já fizeram um EP, já davam espetáculos antes embora com outros elementos?
-Não, eu comecei sozinho, defini Zach Noir, a mensagem que queria passar, o que queria apresentar e representar e, entretanto, o Bruno Barroso da Ruby Discos contactou-me e começamos a colaborar.... Conhecia-o porque era e sou amigo do irmão dele, mas nunca tinha convivido com ele pois também somos de alturas diferentes. Começamos a trabalhar e ficamos amigos. Entretanto, o Bruno sugeriu entrar em contacto com o Marcelo, pois a música "Valentine" estava a necessitar de piano. E a partir daí foi falado para começarmos os três a dar concertos, ou seja, duas guitarras e um teclado, um trio com arranjos algo diferentes das músicas do EP...mas o meu objetivo sempre foi: “vou arranjar uma banda, vou arranjar cinco elementos ou seis ou o que for necessário para fazer jus às músicas". Foi então que entrou o Xiko que na verdade já estava desde início, mas... (DTOM: O que é que toca?) – O Xiko é o baterista/percussionista. No início não conseguíamos preparar concertos a 5, como banda, daí ele participar a primeira vez já quando estávamos os 5 elementos. (DTOM: E agora o outro elemento...) – O outo elemento é o baixista, Daniel Santos, foi o último que entrou, mas já é meu amigo de longa data.
DTOM: E os Zach Noir já deram muitos espetáculos ou ainda não?
- Já demos alguns, só agora, só há cerca de 3/4meses é que nos preparamos para dar concertos, porque só há 3 ou 4 meses é que temos um reportório completo, ou seja, escolhemos ensaiar estas 11 e estamos a dar concertos com estes 11 temas. Até agora, a malta que nos foi vendo e ouvindo, foi-nos oferecendo locais para dar concertos e já demos alguns...aqui em Chaves já demos em bastantes sitios...já fomos a Aveiro, ao Porto e a Vila Real.
DTOM: E já tocaram nas semanas académicas?
-Não, semanas académicas ainda não, também é um evento mais específico que as pessoas, provavelmente, querem outro tipo de música...não sei...se houver convite teremos todo o gosto.
DTOM: E esses festivais de música?
- Eu sinceramente não sei como é que se criam esses contatos para festivais. Pessoalmente, adoro festivais e o ambiente de um festival, gosto de atuar em festival. Atuamos aqui no “Festival N2” em Chaves em agosto e o sentimento é porreiro. Sentiu-se bem o calor das pessoas e o ambiente entre artistas e colaboradores do festival foi de camaradagem.
DTOM: E como é que reage o público, como é que sente que o público reage às músicas criadas por si?
- Eu vou falar do mais recente exemplo que foi em Chaves e o feedback tem sido mesmo espetacular, principalmente ontem que tinhamos um grande palco, uma grande equipa de som, tinhamos fotógrafos, pessoas a filmar, só tivemos foi a chuva (risos) mas não foi a chuva que nos parou e as pessoas estavam lá (DTOM: Choveu muito?) –Choveu, aqui diz-se que estava a “zervar”, eu estava a cantar e estava a cair-me chuva em cima... (DTOM: Mas isso não é perigoso para a parte elétrica?) – É um bocadinho, uma pessoa vai-se chegando atrás e tal mas continuamos a atuar e as pessoas ficaram, algumas infelizmente, lá foram à sua vida, porque começou mesmo a cair forte.
DTOM: Mas o público sentiu emoção, canta quando ouve as músicas?
- Creio que sente, porque quando pedimos alguma interação respondem. Fizemos algumas interações a cantar com o público e eles respondem sempre, portanto acho que é bom. E depois no final gostam sempre de cumprimentar-nos e felicitar-nos...
DTOM: E nota-se público mais jovem, mais adulto, que tipo de público é que aparece?
- Acho que há de todo tipo, acho que sim...acho que toda a gente gosta de um bom rock...(risos)...acho que sim.
DTOM: Você acha que no panorama artístico português na geração atual há um bom rock?
- Acho que é um rock diferente, que se calhar já não se ouve há algum tempo, alguém que cria sem grandes limites. Existem artistas que se calhar são mais fáceis de atribuir a um estilo só, uma pessoa houve um album e pensa: “ok, isto é hard rock”, “isto é pop”, "isto é jazz" e não concordo nem discordo com essa abordagem,... há pessoas que vão gostar e outras que não vão gostar. Eu espero que as pessoas gostem do que o Zach Noir faz. Era como eu estava a dizer, o meu processo de criação é muito por momentos ou o sentimento que estou a sentir na altura e depois tento arrastar esse sentimento ao longo do tempo todo, da música toda. Às vezes é uma música sobre algo que me revolta, outras vezes é uma música sobre o amor, outras vezes é uma música de viragem... Às vezes estou revoltado, outras vezes sinto-me carinhoso, gosto de tocar sobre o que quiser... não gosto de me limitar sobre o que tenho que cantar ou tocar, tocar mais pesado ou menos pesado, não gosto de me limitar...
DTOM: Projetos para o futuro, há algum álbum em vista depois disto? Há mais músicas? Qual é agora o objetivo?
- Neste momento o objetivo já foi definido, é a criação do primeiro álbum. Vou iniciar o mesmo processo de criação e continuidade que já referi em perguntas anteriores. Desejo que este álbum saia ainda este ano e, para isto, conto com o apoio de todos os meus colegas e, novamente, da Ruby Discos. Depois será o processo de exposição. Divulgação total pelo país, onde puder levar, tentar estar o mais possivel exposto a agências, a pessoas que queiram pegar em nós e levar-nos por aí, mas nós é que temos que fazer o trabalho primeiro, não é? Por-nos aí expostos e abertos a toda a possibilidade de concertos. Mas, a partir de janeiro, o foco é mesmo iniciar o processo e, espero, ainda este ano, lançar um álbum mais alargado com lançamento por fases, faseado por singles.
DTOM: Não sei se nos disse como se chamava o EP inicial?
-Chama-se “Hear”, palavra inglesa porque as músicas estão todas em inglês.
DTOM: Também tem vídeos-clips?
- Tenho no YouTube 4 músicas com os respetivos vídeo-clips. O da "Valentine" foi produzido pela "Montes de Ideias" de João Couto. Tenho a sorte de ter alguns amigos que me podem ajudar em certas situações, uns no marketing digital, outros na produção musical, estou grato por isso. E outro que irá sair o mais rápido possível do concerto que demos ontem, que foi filmado e irá ser editado pelo Carlos Morais. Neste momento podem encontrar Zach Noir no YouTube, no Spotify, no iTunes, podem seguir a minha página no Facebook, no Instagram, tenho um Twitter mas confesso que não estou muito presente aí...não me consigo identificar muito com aquilo ou então não percebo nada daquilo, mas podem-me seguir aí...escrever Zach Noir no Google e aparece logo (risos)...era essa a estratégia.
DTOM: Acha que pelo facto de viver no interior, em Chaves, em Trás-os-Montes isso é bom ou é mau em termos de projeção?
-Uma das vantagens de estar em Chaves e ter construído uma vida adolescente em Chaves é que, normalmente, se fazem amigos mais facilmente e amizades duradouras, e essas pessoas têm-me ajudado e começam a seguir o projeto e a fazer com que outros sigam o projeto. Às vezes nem que te conheçam de vista, vão-te apoiar a 100%, podem não ir aos teus concertos porque não estão para se chatear (risos) mas se te virem online....apoiam “ah é de Chaves, é Flaviense, é de Bragança, é de Vila Real, é de Viseu”, as pessoas apoiam quem é do interior, pelo menos, é isso que sinto. Esta é uma das vantagens. A desvantagem pode ser o inverso do que disse, esses relacionamentos poderiam ter surgido numa cidade grande como Porto, Lisboa, Braga, etc... E poder ter ainda mais oportunidades que as que tenho, mas não vivo, nem trabalhado focado nisso, acho que é uma perda de tempo. Há é que fazer o que fazemos, trabalhar, projectar a música e a mensagem e as oportunidades surgirão. Confio neste método.
DTOM: Culturalmente o facto de viver aqui no interior tem coisas boas e coisas más.?
- Eu acho que sim, a vantagem é a que referi, sente-se muito apoio e carinho das pessoas que vão aos nossos concertos e nos conhecem pelas redes sociais, se puderem ajudar, ajudam. A desvantagem...é assim, o projeto foi criado no Porto, porque eu moro lá e foi criado lá, só que eu não vivi lá, então não construi lá muitas amizades fortes,...agora vou conhecendo porque vou expondo o projeto socialmente e há bandas também que se cruzam com a Ruby Discos, pois também trabalha com outros projetos nacionais. Mas só agora....lá está...quando tu te expões mais é que começam a surgir outras oportunidades... uma pessoa tem que se expor para surgirem oportunidades, se se está à espera delas, nunca chegam, mas acho que no geral não vejo grandes desvantagens, e como disse, não penso nisso porque nunca senti que tivesse a ser prejudicado por isso, mas gostava que o interior fosse retratado como uma zona onde existe interesse pela cultura musical de outro tipo que não só aquela que mostram nas televisões.
DTOM: Há alguma coisa que a gente se tenha esquecido e que valha a pena falar?
-Não...quero só reforçar a gratidão que tenho com este grupo de pessoas que me acompanha e, especialmente ao Bruno Barroso, da Ruby Discos porque me ajudou bastante inicialmente e me continua a acompanhar.
Zach Noir
- Luís Silva - Guitarra e Voz
- Marcelo Fernandes - teclados
- Xiko - baterista/percussionista.
- Bruno Barroso - guitarra
- Daniel Santos - Viola baixo
https://www.facebook.com/ZachNoir/
@zachnoir
https://www.youtube.com/watch?v=_Rtu48gfS8E