Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares, moderados por Carlos Vaz Marques, lotaram o Teatro Municipal de Bragança onde inauguraram a 4ª edição do Festival Literário que decorre na capital do nordeste entre os dias 18 e 26 de maio.
Comunicação Social (CS) – O Governo Sombra completa este ano uma década de programa, já que começou em 2008 na TSF. Qual é o balanço que fazem?
Ricardo Araújo Pereira (RAP) – O balanço é extremamente negativo! Por acaso, é um pouco bizarro que aquilo que começou por ser um programa de rádio, não era para ser outra coisa, de repente, esteja na televisão e, ainda, se mantenha na rádio. Ou seja, é um programa que apanha o povo português de várias maneiras. As pessoas que dizem não quero ver isto, desliga a televisão… Não! Mas está na rádio. E em podcast! Temos várias estratégias para apanhar pessoas que nos rejeitam.
CS – Mas preferem a rádio ou a televisão? Se é que dá para fazer essa escolha…
Carlos Vaz Marques (CVM) – Preferes o pai ou a mãe?
CS – Como é que tem sido percorrer o país de norte a sul, após terem decidido descentralizar o programa?
CVM – Para nós tem sido uma ótima experiência porque comemos muito melhor do que quando comemos só saladinhas e coisas rápidas lá em Lisboa. E, depois, é uma forma também de dizermos mal uns dos outros pelo caminho e de nos irritarmos um bocadinho no carro nestas viagens mais longas. Eu e o João Miguel discutimos mais, assim temos mais oportunidade…
João Miguel Tavares (JMT) – O Ricardo faz sempre de motorista, é impecável! Nós até já lhe arranjámos um bonezinho e, então, é bem divertido. Eu gosto imenso de fazer estas investidas fora de Lisboa, não é só por um desejo de descentralizar, mas há um outro público e as pessoas, em geral, tratam-nos excessivamente bem, mais do que nós merecemos, então acaba por ser muito agradável. Claro que quando se está num estúdio de televisão, nós estamos ali fechados uns com os outros, claro que há algum público, mas é quando vimos para aqui e temos este tipo de contato que nós ficamos surpreendidos e dizemos: olha, há mesmo gente que gosta de nos ouvir! É sempre uma surpresa.
CS – Durante o programa, mencionaram o Movimento Pelo Interior, cuja cerimónia aconteceu, curiosamente, em Lisboa. Facto que mencionaram e que conseguiu risos e aplausos do público. Acham que a solução para o desenvolvimento do interior passa pela criação de movimentos?
JMT – Eu acho que se tem de começar a tentar. Eu não sei se vai ser este movimento que vai resolver o problema… Infelizmente, nós portugueses, só nos conseguimos movimentar minimamente quando há assim umas tragédias como os fogos que, de repente, nos tiram do nosso lugar e nos permitem começar a mover na direção certa. E pode ser que a tragédia dos fogos como eu falei durante o programa possa ter tido esse efeito, de uma consciencialização maior de que Portugal não pode ser só Lisboa ou Porto, mas, sobretudo, Lisboa. E, portanto, sim. Espero, sinceramente, que estes movimentos corram bem, que resultem, independentemente, de andarmos todos a discutir se o país deve ou não ser regionalizado porque acho que esta é uma discussão muito fraturante. Mas não é uma discussão questão fraturante acharmos todos que o país precisa de se mover para o interior e que é preciso haver mais oportunidades e mais hipóteses de emprego e mais atenção.
CS – Quando viajam por Portugal, encontram o país real?
RAP – Encontramos o país real. Às vezes, infelizmente. Como dizia há pouco… Estive, ao longo dos últimos meses, a fazer, sei lá, fui 14 vezes a localidades afetadas pelos fogos e vi, dolorosamente, o país real. As bermas todas negras, etc, etc. Mas, ainda assim, coisas que me fizeram ter esperança. Por exemplo, não me esqueço que, em Viseu, fiz o que fiz em todos os sítios, perguntei ao presidente da câmara como é que ele estava a reagir, se as respostas estavam a ser dadas, qual era o sentimento das pessoas e ele disse: “ó meu amigo, um beirão não se deixa ir abaixo”. E, portanto, é sempre bom ver essa resiliência das pessoas.