As terras valem pelo mérito dos filhos que nelas nascem, vivem e, quase sempre, nelas morrem. São eles que sucessivamente as vão enriquecendo, dotando-as com os sinais do progresso que resulta do esforço porfiado e contínuo das suas gerações.

No dia 20 de Fevereiro do ano passado, Bragança vestiu as suas melhores roupagens para assinalar os 548 anos da elevação a cidade. Assinalou-as da melhor forma com a apresentação do primeiro de dez volumes da Bibliografia do Distrito de Bragança, série Escritores, Jornalistas e Artistas. Nesta obra que levou 40 longos anos a escrever e a investigar, Hirondino da Paixão Fernandes, seu Autor, gastou todos os momentos que sobraram às suas ocupações profissionais. Uma obra que, dado o rigor com que sempre tratou aquilo que faz e, face à originalidade metodológica que o estudo regista, num homem normal que tenha o vício de fumar, de tomar café ou cultivar uma amena cavaqueira, exigiria duas vidas tão longas quanto a sua. Esta obra bastaria para catapultar Hirondino da Paixão Fernandes para as alturas do tamanho da Serra do Montesinho se as estátuas se medissem pelo seu diâmetro.

Os dez volumes têm cerca de 8 mil páginas, formato 16,50 X 24, capa dura e tipos de letra de tamanhos diferenciados, para as «entradas», títulos e ou notas de rodapé. Numa obra desta envergadura não é despiciente relevar esta explicação. Porque aparecem no mercado resmas de papel, com páginas cheias de letras garrafais, com espaços cheios de coisa nenhuma, empoladas pelos pregoeiros do costume que impingem gato por lebre, mais para encherem espaços e justificarem a jorna do que para avaliar o mérito literário e artístico.

Obviamente distingo, com esta comparação, o mercantilismo que grassa na sociedade portuguesa, misturando o trigo com o joio. As obras não se podem avaliar pelo tamanho ou pela aparência. Valem pelo seu conteúdo, pela temática e pela originalidade. Eis o mérito desta obra com que Hirondino Fernandes brindou Bragança e honrou os 548 anos da sua elevação a Cidade. Um filho da Região que passou a vida profissional em Coimbra, primeiro como aluno, depois como Professor. Essas quatro décadas foram gastas a investigar, a escrever e a projectar o seu pecúlio intelectual na divulgação das suas raízes. Nunca se viu nos festivais da fama e muito menos nas filas da frente de qualquer formação partidária para a sua ascensão ministerial. De homem discreto a sábio humilde, os Transmontanos devem orgulhar-se dele, incondicionalmente, com a certeza de que ele não irá envergonhá-los, porque não teve tempo de se envolver nos trilhos da corrupção, nem sequer ocupou cargos que o tentassem, para escorregar. A sua pureza, honestidade e amor aos valores supremos são referências de uma vida inteira, testados por uma dedicação humana, à prova de bala, face a uma doença de total incapacidade física de sua Mulher. Só um Homem de carácter, de respeito pela fragilidade humana e de persistência de tantos anos de martírio, é capaz de construir uma obra gigantesca como são estes dez volumes, em contraste com as 24 horas de doação total aos cuidados da Senhora. Um verdadeiro herói, para não dizer, um «santo»...

Ainda não tive tempo de analisar todos os cinco volumes da obra já em distribuição. Mas pelo III e pelo V, pude ajuizar do monumental trabalho deste «João Semana» das Letras e da cultura Transmontanas.

O V volume tem 720 páginas todas dedicadas aos apelidos da letra «M». Tive a felicidade de o receber das suas mãos, no dia 23 de Março, no Centro Cultural Adriano Moreira, com a seguinte dedicatória: «Ao Amigo, de longa data, a quem tantas atenções deve, com muita admiração (assinatura). No dia de uma Homenagem há tanto tempo devida, 2013.03.23, Bragança. Obrigado, Mestre Barroso da Fonte».

Essa homenagem que coincidiu com a Assembleia Geral da Academia de Letras de Trás-os-Montes, teve como promotor o Prof. Doutor Ernesto Rodrigues, Presidente da Direcção e cerca de quatro dezenas de membros e Amigos, aos quais aproveito para agradecer.

Sucede que este V volume vai ser apresentado dia 25 de Abril próximo. Mais um excelente contributo da Câmara Municipal de Bragança que assumiu integralmente os encargos da edição da obra que pode ser adquirida através da própria Câmara, no Centro Cultural Graça Morais a o preço da chuva: 25 euros por volume.

A autarquia de Bragança já tinha tomado outras decisões comprovativas da grande sensibilidade cultural: não só a coordenação geral do III Congresso Transmontano, com todo o apoio logístico e técnico, como a reedição integral da obra do Abade de Baçal, também a preços muito acessíveis ao grande público. Numa Terra como esta, com filhos dedicados e decididos a recuperar o tempo perdido, dá gosto viver e aplaudir.



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