O número de portugueses assassinados na África do Sul foi elevado para 30 ainda no ano de 2001.s crimes parecem ter em si um denominador comum na maioria dos assaltos aos estabelecimentos comerciais de portugueses.

Os ladrões procuram dinheiro vivo e não bens, e mostram conhecer os movimentos das vítimas, pertencendo não raras vezes ao círculo dos clientes ou empregados das lojas.

De entre as seis últimas vítimas, está Manuel Marques Mendonça, de 64 anos, natural de Porto de Cruz, Ilha da madeira, e não resistiu aos ferimentos causados por um tiro durante um assalto a um bar que explorava em Joanesburgo, segundo a Agência Lusa. Oito horas depois, no mesmo dia (16 de Dezembro) e na mesma cidade, morreu Adelino Couto Leite, 70 anos, também natural da Madeira. Após encerrar com a esposa a loja de totoloto que exploravam num supermercado em Glenanda, sul de Joanesburgo, o casal foi abordado à porta de casa por dois ocupantes de um carro que os seguia. Os homens espancaram a senhora, Pauline, de 64 anos, para que lhes desse a receita do dia e, quando Adelino Leite saiu do carro para proteger a esposa, um dos assaltantes alvejou-o mortalmente no abdómen. O filho do casal, Eduardo Leite, disse à Lusa que o pai não resistiu à operação ao fígado e às sucessivas transfusões de sangue, vindo a falecer no dia seguinte no hospital. Adelino Leite, a residir na África do Sul desde os três anos de idade, foi a 25ª vítima portuguesa de 2001, deixando a sua viúva e três filhos, todos de nacionalidade sul-africana.

No Domingo anterior à véspera de Natal, Miguel Simões morreu também, vítima da violência no país, mas já no dia anterior era alvejado também Ronnie Serra, de 19 anos, que trabalhava numa pequena loja de vegetais e mercearia, situada na Main Street. O jovem encontrava-se na loja com os dois filhos, quando irromperam pela porta quatro assaltantes armados, exigindo dinheiro. De acordo com o pai de Ronnie, José Serra, 53 anos, os assaltantes levaram da caixa 1.500 randes, cerca de 45 contos, mas, não satisfeitos, levaram Ronnie para os escritórios, nas traseiras, em busca de mais dinheiro. “Apenas ouvi o disparo e vi os ladrões fugirem, quando fui ver o meu filho. Tinha um tiro na garganta”, disse o pai à Lusa. “Vou vender o negócio e regressar à minha terra. O que é que estou aqui a fazer? À espera da bala assassina?”, questionou ainda o pai do jovem. José Serra está naquele país há 42, mas é natural do estreito da Calheta, Madeira. A sua loja, o “Saint Nicolas café Fruit & Vegetables” fica no coração de Joanesburgo.

O 28º português assassinado foi Manuel António da Silva Rebelo Simões, de 43 anos, natural de S. Teotónio, em Odemira, sendo emigrante há 35 anos na África do Sul. A vítima preparava-se para abrir o seu supermercado “Dinamyc Cash and Carry”, cerca das 6.30 da manhã, quando foi confrontado com três assaltantes armados, que lhe exigiram o dinheiro e o telemóvel, disse à Lusa Albertino Andrade, sogro de Manuel Simões. O português tentou resistir e sacar da sua arma, mas o disparo dos assaltantes deu-se primeiro, a um palmo do corpo, e fugiram com a pistola e o telemóvel de Manuel Simões. Segundo testemunhas oculares, dois dos assaltantes seriam moçambicanos, empregados da loja, um facto comum a muitos crimes e preocupa a comunidade portuguesa (ver caixa). Manuel Simões era casado com Liliana e tinha três filhos de 15, 11 e três anos. O supermercado de que era proprietário fica situado a cerca de 500 metros do local onde, em Outubro, tinha sido morto um outro emigrante português, e a menos de mil metros de uma esquadra de polícia, num bairro onde o índice de crime é dos mais altos de todo o país.

António Afonso dos Ramos tinha 68 anos, era natural do Estreito da Calheta, Madeira, e morreu no hospital durante uma intervenção cirúrgica para lhe retirar uma bala, com que fora atingido num ataque à mão armada. A 15 de Dezembro, o português fechava o seu negócio de bebidas alcoólicas na localidade de Stelfontein, em Klerkdoorp, a cerca de 170 quilómetros de Joanesburgo, quando foi abordado por dois assaltantes e atingido por uma bala, que lhe perfurou os pulmões, explicou à Lusa o cunhado, Manuel de Gouveia. Os familiares afirmam que António Afonso, mesmo ferido, terá disparado oito tiros da sua arma, não se sabendo se atingiu algum dos ladrões. Ferido, o português conduziu ainda a sua carrinha até uma esquadra, de onde foi levado para o hospital, mas não resistiu. Foi-lhe roubado um saco com quatro mil randes, cerca de 100 contos. Apesar de se considerar madeirense, António Afonso tinha nascido na África do Sul. Deixou mulher e três filhos.

A última vítima de 2001, a 30ª, ou primeira de 2002, foi João Neves de Sousa, 65 anos, natural da Ponta do Pargo, Ilha da Madeira. Era dono de um supermercado em Strands, cerca de 50 km da Cidade do Cabo e foi encontrado morto com dois tiros dia dois passado, apesar de estar desaparecido desde 31 de Dezembro, não se sabendo ao certo o dia da sua morte. O corpo foi encontrado pela polícia, mas o seu carro desapareceu e, com ele, cerca de mil contos, dinheiro proveniente do seu negócio, segundo a Lusa.

As trinta vítimas de 2001 preocupam a comunidade portuguesa de África do Sul, apesar de as autoridades do país continuarem a afirmar que o crime está a baixar e sob controlo.
São raras as vezes que os suspeitos dos crimes são apanhados e apreendidos.



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