O paradigma do autarca de origem portuguesa a exercer cargo político em França é um homem de 42 anos, nascido em Portugal e emigrado para lá dos Pirinéus antes de concluir dez anos de vida, e que não abdica de nenhuma das nacionalidades.
Nem de regressar, sazonalmente e sem falhar um único ano, ao torrão que o viu nascer, onde possui casa própria, geralmente uma vivenda, tal como em França. A sua ascensão na carreira política que redunda na eleição como autarca passa, geralmente, por ligações à incontornável associação portuguesa de folclore ou cultura existente no município onde reside, e relaciona-se com empresas directamente afectas ao seu pelouro, destacando-se a construção civil e os transportes, visto que o pelouro mais frequentemente exercido é o de urbanismo, seguido pela cultura, festas, desporto ou acção social. As ligações a organizações económicas em Portugal variam, dependendo da sua vivência pessoal.
Todavia, o apego a Portugal é tão grande que a autarquia francesa a que pertence está \"geminada com congéneres europeias\" e tem em estudo a viabilidade de celebrar \"o mesmo tipo de acordo com uma autarquia portuguesa\".
O retrato-tipo do autarca francês de origem portuguesa foi, ontem, apresentado durante o 3° Encontro dos Autarcas Portugueses e Lusodescendentes eleitos em França, que decorreu em Paris, e baseou-se num inquérito feito pela embaixada de Portugal em França aos 220 eleitos identificados (presidentes de Câmara, vereadores e conselheiros municipais de origem portuguesa).
De acordo com a amostragem, quase metade (47%) tem ambas as nacionalidades - portuguesa e francesa -, 36% têm apenas nacionalidade portuguesa e 17% são de nacionalidade francesa. A média de idades, que ronda os 42 anos, é mais elevada (49) para os que nasceram em Portugal e menor (34) para os que nasceram em França, e o número de homens representa 55% do universo considerado. Braga, Aveiro, Porto e Lisboa são os distritos de origem mais representados, o que não corresponde directamente à caracterização da comunidade portuguesa em França, que tem muitos emigrantes das regiões de Viana de Castelo, Viseu e Bragança.
O número de recenseados portugueses aumentou sete vezes de 1994 a 2001, passando de oito mil para 57 500 inscritos nos cadernos eleitorais. Todavia, é considerado baixo face ao número potencial de um milhão de e leitores de ascendência portuguesa que se estima constituir a comunidade portuguesa, frisa o documento.