As inscrições nos cadernos eleitorais para as próximas legislativas encerraram dia 16 de Janeiro (21 de Janeiro para os eleitores que completavam 18 anos até 17 de Março) e os últimos dados oficiais, relativos a 11 de Janeiro, contabilizavam - num universo de 4,5 milhões de portugueses no estrangeiro - pouco mais de 183 mil eleitores, contra os 188.186 registados para as legislativas de 1999.
A esmagadora maioria das representações diplomáticas portuguesas no estrangeiro não registou qualquer novo eleitor nos últimos tempos, salvo raras excepções onde a actualização foi feita a conta gotas como, por exemplo, cinco novos eleitores em Rhode Island (EUA) ou 34 no Luxemburgo.
Apesar de reivindicarem participação eleitoral em todos os actos eleitorais que decorrem em Portugal, incluindo as autárquicas, tendo conquistado recentemente o direito de votar nas presidenciais, na hora da ida às urnas o abstencionismo é o grande vencedor na diáspora.
Os índices de abstenção ultrapassam recordes de eleição em eleição, um panorama semelhante aos decadentes resultados do recenseamento eleitoral na emigração portuguesa, ensombrados pelo alheamento.
As escassas campanhas de sensibilização, quer para o recenseamento quer para o dever de exercer os direitos cívicos, a obrigatoriedade da residência do país de acolhimento no Bilhete de Identidade ou a distância dos postos consulares da área de residência dos potenciais eleitores são outros argumentos utilizados.
O certo é que os portugueses no estrangeiro continuam adormecidos nas sociedades de acolhimento e a possibilidade de participar nos destinos do país da Natal não tem, ao longo dos tempos, despertado qualquer interesse.
Para as próximas legislativas o contributo dos emigrantes, que elegem quadro deputados (dois pela Europa e outros dois por Fora da Europa) poderá mais uma vez rondar elevados índices de abstenção a julgar pela fraca adesão ao recenseamento eleitoral nos últimos meses.
De acordo com fontes consulares portuguesas em Sydney, Perth e Melbourne, Austrália, nem uma única pessoa tratou de se inscrever, ou fazer qualquer actualização nos cadernos eleitorais no país.
Carlos Lemos, cÎnsul honorário de Portugal em Melbourne, no estado de Victoria, explica o desinteresse demonstrado com a falta de incentivos e de informação, afirmando haver "milhares e milhares de portugueses que tão pouco sabem que vai haver eleições antecipadas, e muito menos que António Guterres se demitiu de primeiro-ministro".
"A política é como o futebol. Faltam figuras de destaque que sejam conhecidas pelos emigrantes e que servem, como no futebol, de referências na vivência partidária do cidadão", disse.
Para José Madeira, cÎnsul honorário em Perth, na Austrália Ocidental, as criticas continuam a atingir a falta de informação e o pouco contacto existente entre os eleitos e os eleitores.
De acordo com fontes do Consulado-Geral de Portugal em Sydney, existem actualmente 1.128 pessoas recenseadas, menos cinco do que em Janeiro de 2001, num universo de 22.910 cidadãos registados naquele consulado-geral.
A actualização consular no continente americano não é mais animadora, já que o Canadá conseguiu um total de 120 novos eleitores na área de Toronto, enquanto os portugueses residentes nas províncias do Ontario e Manitoba não foram muito receptivos à ideia de actualizarem o seu recenseamento.
Em Toronto registaram-se 44 actos de actualização, tendo os serviços consulares recebido e processado oito de London, 38 de Winnipeg (Manitoba) e 30 de Chatham.
Segundo fonte consular, poderiam ter ocorrido "bastantes mais actualizações, mas muitos dos que apresentaram as inscrições tinham os bilhetes de identidade com residência noutras áreas geográficas e não no Canadá. Isso é o maior obstáculo".
Nos EUA o alheamento é visível e no espaço de um ano os cadernos eleitorais portugueses receberam apenas 63 novos eleitores, que se juntam agora aos cerca de 10 mil recenseados numa comunidade estimada na ordem dos 1,1 milhões de portugueses e luso-descendentes.
Dos 16 consulados portugueses nos Estados Unidos, apenas seis registaram novos recenseamentos, tendo sido o de Nova Bedford (22) o que registou maior número, segue-se depois o de Newark (16), Washington (10), Boston (8), Providence (5) e Waterbury (2).
Quadro semelhante apresenta a Europa que, durante o período em que decorreu a actualização nos cadernos eleitorais, contou apenas 34 novas inscrições no Luxemburgo, juntando-se aos 2.057 recenseados em anos anteriores, perfazendo, assim, o total de 2.091 numa comunidade de 65 mil pessoas.
Para as legislativas de Março estão inscritos 1.808 portugueses e, segundo Manuel Taveira, do consulado de Portugal na capital belga, são mais 60 emigrantes (Antuérpia, Bruxelas e LiÚge) do que no processo de recenseamento eleitoral para as eleições de 1999.
Os dados apurados ainda não são definitivos, acrescentou Manuel Tavares, porque é necessário eliminar os registos de quem já não está na Bélgica e incluir os novos residentes.
Os números registados, num universo potencial de 20 mil portugueses com capacidade eleitoral residentes na Bélgica, confirmam a "pouca motivação" da comunidade pela vida política em Portugal, observou Manuel Tavares.
Um panorama desolador que também atinge os cerca de 130 mil portugueses residentes na Alemanha já que o total de inscritos vai pouco além dos 10 mil e apenas algumas dezenas se inscreveram durante o período de actualização do recenseamento.
Em França, onde reside cerca de um milhão de portugueses, a tendência é igualmente de diminuição nos cadernos eleitores.
Mesmo assim, e com uma participação em que a abstenção também reina, França é decisiva na atribuição dos dois deputados pela Europa.
O universo eleitoral de Macau para as próximas eleições é de 11.629, inferior em 80 pessoas ao registado para as eleições presidenciais de Janeiro de 2001.
Nos cadernos eleitorais para as legislativas de 1999, realizadas antes da transferência da administração de Macau de Portugal para a China em 20 de Dezembro e antes de estar estabelecido o consulado-geral, estavam recenseados cerca de 12 mil portugueses.
Ao contrário das eleições presidenciais em que os portugueses residentes no estrangeiro passaram a votar presencialmente nas representações diplomáticas, as eleições legislativas mantêm a forma tradicional da votação por correspondência.
Os portugueses residentes em Macau votam pela primeira vez por correspondência nas próximas legislativas, já que nas anteriores o voto era presencial porque o território estava sob administração portuguesa.



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