Já era sabido que António Reis e Margarida Cordeiro estariam sob o foco da 4ª mostra do documentário português Panorama, no Cinema São Jorge, em Lisboa, de 9 a 18 de Abril.
O que surge como novidade no Panorama 2010 é mesmo uma secção de programação intermédia em que passam as primeiras obras de Joaquim Sapinho, João Pedro Rodrigues, Joana Pontes, Luís Fonseca, Fátima Ribeiro e Filipe Abranches. Eles foram alunos na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde António Reis, o grande homenageado desta edição a par de Margarida Cordeiro, deu aulas.
Estes filmes foram mostrados uma única vez, na altura da sua projecção entre 1986 e 1990, e para a programadora Inês Sapeta Dias, citada pela Lusa, constituem a mais importante novidade deste Panorama. Que, este ano, tem como tema o ensino e a questão: \"Como se ensina o documentário português?\". Daí esta programação intermédia, mas também programação especial e debates sobre o tema. Mas o foco, então, está sobre António Reis (1927-1991) e a sua companheira de cinema e de vida, que hoje vive na aldeia da Bemposta, retirada do mundo mas com uma vontade, expressa à Pública em Novembro de 2009, de voltar a fazer cinema com as condições devidas. \"Jaime\", o único dos filmes que é assinado apenas por Reis, abre a 4ª Panorama, seguindo-se um concerto de Norberto Lobo a partir do filme sobre o camponês, artista e doente psiquiátrico Jaime Fernandes.
No Panorama, na secção Percursos no documentário português, vão então passar \"Trás-os-Montes\" (1976), \"Jaime\" (1974), \"Ana\" (1982) e \"Rosa de Areia\" (1989), filmes míticos do cinema documental português e que não estão facilmente acessíveis - não estão editados em DVD e depende-se das cinematecas para os ver. Por isso mesmo, assinala-se no programa desta mostra, quer-se \"combater a raridade da sua exibição\". \"Trás-os-Montes\" passa dia 11, \"Ana\" no dia 15 à mesma hora e \"Rosa de Areia\" ocupa a sessão de encerramento, todos às 21h30 no São Jorge. Manuel Mozos, que foi assistente da dupla Reis/Cordeiro, Sapinho, Joana Pontes, Fátima Ribeiro e Luís Fonseca falam, dia 16 e após a projecção dos filmes iniciáticos de alguns destes cineastas, sobre o tema \"António Reis, Professor\".
Também sobre António Reis e Margarida Cordeiro, sobre os seus filmes, ou sobre outros temas ligados ao documentário, Catarina Alves Costa, João Rapazote ou Manuel Mozos falam e publicam inéditos na publicação Caderno Panorama. Na mesma publicação, será revelada uma pesquisa inédita sobre o ensino do documentário em Portugal. E no dia de abertura da mostra são lançados três volumes de uma edição crítica dos debates das primeiras edições do Panorama (2006-2009).
Mas nem só de Reis e Cordeiro, auto-intitulados \"camponeses do cinema\" e elogiados pelo antigo director da Cinemateca Portuguesa João Bénard da Costa como autores de uma obra que ajudaria o povo português a encontrar o seu rumo, se faz a 4ª Panorama. Ali passam 63 filmes e há debates - Silva Melo e Edgar Pêra, João Botelho, Inês Gonçalves, entre outros, juntam-se em diferentes dias para, após cada secção de programação ou filme conversar. Mas há sobretudo documentários, como \"Ne Change Rien\", de Pedro Costa (dia 15), \"Para que Este Mundo Não Acabe\", de João Botelho (dia 17), \"B-Fachada Tradição Oral Contemporânea\", de Tiago Pereira (dia 17), \"No Caminho do Meio\", de Catarina Mourão, \"Visita Guiada\", de Tiago Hespanha, \"Paredes Meias\", de Pedro Mesquita ou \"48\", de Susana de Sousa Dias. Destacam-se ainda \"Apoteose\", de António Borges Correia, \"Saturado\", de Tiago Afonso, \"Muitos dias tem o mês\", de Margarida Leitão ou \"Nus dans la cage de lescalier\", de Regina Guimarães e Saguenail.