“Douro” de Georges Dussaud e “Ex-Voto” de Lucília Monteiro são as duas exposições em exibição no Centro de Fotografia Georges Dussaud. Já no Clube de Bragança, António Strecht expõe “Resiliente” até ao dia 25 de agosto.
Em pleno Dia Mundial da Fotografia, comemorado hoje, dia 19 de agosto, o Diário de Trás-os-Montes (DTM) sugere três exposições fotográficas na cidade capital de distrito, Bragança.
As duas primeiras, inauguradas no final do mês de julho, encontram-se ambas no Centro de Fotografia Georges Dussaud. Na Sala de Exposições Temporárias, Lucília Monteiro exibe “Ex-Voto”. Trata-se de um projeto que pretende, em primeira instância, documentar uma tradição religiosa que, ao longo do tempo, tem vindo a perder-se. “Os ex-votos integram um ritual antigo que expressa a fragilidade dos homens e a omnipresença de Deus, ecoando o sacrifício, a entrega de um pedaço de si mesmo como pagamento da retribuição da divindade”, pode ler-se na sinopse da mostra artística
No trabalho apresentado por Lucília Monteiro, a escolha centrou-se nos ex-votos de cera e nos ex-votos fotográficos, ambos representantes simbólicos da era da reprodutibilidade através do negativo ou molde que permitem a sua multiplicação.
No dia da inauguração, o DTM falou com a artista que é, também, repórter fotográfica da conceituada Revista Visão e do relevante jornal Expresso. “Esta exposição são fotografias de ex-votos, eu tentei descontextualizar os objetos, tirá-los do mundo deles e trazê-los para um local de exposição, mais para uma reflexão do corpo e do lugar do corpo contemporâneo”, resumiu a artista que assume que este género de trabalhos “é bem diferente daquilo que eu faço no dia-a-dia enquanto fotojornalista”.
Questionado pelo Diário sobre o porquê da escolha deste tema, Lucília Monteiro responde que tudo começou na sua infância. “Agora, já se perdeu um pouco esta tradição, mas, antigamente, quando eu era uma criança confesso que não percebia o significado disto, sabia que as pessoas faziam uma promessa ao santo ou para os ajudar no problema que tinham e, na altura, eu achava aquilo uma vergonha de se exibir a intimidade em público a desfilar numa procissão, onde toda a gente vê e comenta e eu achava aquilo uma autêntica invasão da minha privacidade e daí a reflexão porque no mundo em que vivemos atualmente essa vergonha desapareceu, toda a gente se expõe nas redes sociais, nas fotografias, todos dizem os seus problemas, é uma coisa estranha, parece que já ninguém tem intimidade ou mesmo aquela timidez que me carateriza também já não é muito usual”, explica a fotojornalista, para quem o importante é “pensar numa nova estética, num novo pensamento da fotografia, usando objetos do quotidiano que frequentemente são esquecidos e esta é a minha tentativa de fazer com que as pessoas parem um bocadinho para pensar nisso”.
“Eu, por exemplo não gosto de expor certas coisas da minha vida pessoal em público e isso parece que desapareceu, e este trabalho trata disso mesmo, de nos colocar a nós, enquanto seres humanos, a refletir sobre este mundo contemporâneo, repleto de dicotomias e, sobretudo, sobre os nossos comportamentos”, decifrou a artista sobre a sua exposição, que estará patente no Centro de Fotografia Georges Dussaud até ao dia 30 de setembro.
“O fotógrafo é um guardador de momentos, fixando-os em imagens e, deste modo, participa na sua imortalidade. Georges Dussaud é um desses raros guardadores de beleza.”, Diretor do Museu do Douro, Fernando Seara
O Diário esteve, ainda, à conversa com o presidente da Câmara Municipal de Bragança que, também, recorda os ex-votos como uma parte integrante da sua infância. “Lembro-me perfeitamente quando era miúdo que na minha aldeia, Fermentãos, onde ia muitas vezes à missa porque frequentei o seminário e, portanto, sempre que havia missa na minha aldeia eu ia, lembro-me bem de ver algumas dessas peças e, na altura, eu também me questionava o porquê daquelas peças ali, tendo-me, depois, sido explicada a razão”, relembra Hernâni Dias, numa exposição que é uma clara alusão ao passado de milhares de transmontanos. “E, portanto, fez parte das nossas vivências diárias enquanto crianças, mas, também, já como adultos, uma vez que ainda hoje isso acontece nas nossas igrejas, onde vemos com alguma frequência esse tipo de objetos que são apresentados e até colocados no altar”, refere o edil brigantino, aludindo ao facto de que esta exposição é “um reviver daquilo que nós já conhecíamos, neste caso em particular, mostrado de uma outra forma através da objetiva de Lucília Monteiro”.
A outra exposição, “Douro”, inaugurada no mesmo dia, é da autoria de Georges Dussaud e estará em exibição no Centro de Fotografia a que emprestou o nome até ao dia 7 de outubro.
Sobre a mostra artística, pode ler-se no epítome que o fotógrafo, “encorajado pelo poeta Miguel Torga, inicia, em abril de 1985, um extraordinário trabalho fotográfico na região do Douro, onde, para além de uma visão muito particular sobre paisagem e os íngremes socalcos, nos dá a conhecer o quotidiano do homem duriense, particularmente na época das vindimas”.
E é, precisamente, esse trabalho que está patente no Centro de Fotografia Georges Dussaud em Bragança. São, sensivelmente, 75 fotografias a preto e branco, na sua maioria pertencentes à coleção do Museu do Douro, no Peso da Régua.
A terceira e última exposição de fotografia em exibição na capital de distrito tem o nome de “Resiliente”, é da autoria do transmontano António Sérgio Strecht e estará aberta ao público até ao dia 25 de agosto no Clube de Bragança, em pleno centro histórico da cidade.