“Dava jeito parar, pela saúde e também pelo dinheiro que se gasta, mas o stress do dia-a-dia faz com que deixar não faça parte dos meus planos. Pelo menos, para já”, revela Andreia Freixo, que com 26 anos fuma desde os treze. Mas a jovem não está sozinha. Vinte por cento dos portugueses fumam regularmente, de acordo com os dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Um decréscimo de 0,9 em relação aos valores do Inquérito Nacional de Saúde levado a cabo em 2005/2006 e que dizem respeito ao consumo de tabaco

Mais preocupantes são os dados apresentados no Dia Mundial do Não Fumador, a 17 de novembro, pela Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) e da Universidade de Coimbra (UC). O estudo revela que 21 por cento (%) dos estudantes fumam, que a prevalência é maior nos rapazes e que esta aumenta com a idade. O comportamento dos pais também serve de exemplo para os filhos, já que 51,9% têm pais fumadores, sendo o risco 1,5 vezes superior para um jovem começar a fumar nestes casos. Para os autores do estudo, as ações de sensibilização e prevenção, fundamentalmente, nas escolas, assumem um papel preponderante. Isto porque, a probabilidade de um estudante informado sobre as consequências do tabaco vir a tornar-se fumador é cinco vezes menor do que aquele que não valoriza as consequências do fumo. Só em 2010, estima-se que tenham ocorrido 11000 mortes relacionadas com o tabaco em Portugal, mais 845 fumadores passivos. Quanto a novos casos de cancro do pulmão, surgem 11 por dia e 4000 todos os anos. Depois de um ano de adiamentos sucessivos, o Governo prevê, agora, que o arranque da linha de cessação tabágica aconteça no primeiro trimestre de 2016.

E se todos os anos são gastos milhões de euros em consultas e medicamentos pelos portugueses que tentam abandonar “o vício”, existem alguns casos de pessoas que, apesar de terem fumado durante décadas, contaram apenas com sua força de vontade para conseguirem largar o hábito de fumar. É o caso de Fernando Moreira. Com 50 anos, o bragançano deixou de fumar há sete, mas o vício acompanhou-o ainda durante 20 anos. “Comecei a fumar já com 23, simplesmente porque me deu vontade. Também as companhias e o fato de sair à noite ajudaram. Deixei aos 43 por iniciativa própria e os primeiros três meses custaram-me muito”, confessa. Mas por explorar um bar e trabalhar nele todas as noites, Fernando passou a fumar de forma passiva. Feitas as contas e nos 20 anos em que o cigarro fez parte do seu quotidiano, o proprietário de “O Celta” gastou quase 30 mil euros em tabaco. “Mas nos últimos sete anos, as férias que fiz foi com o dinheiro do tabaco”, sublinha.

 

Organização Mundial de Saúde antecipa que neste século o tabaco será responsável por mil milhões de vítimas

 

Também Ilídio Monteiro, atualmente com 62 anos, deixou o tabaco há dois e sem qualquer recurso a medicamentos. Após 46 anos de vício, o reformado representa uma esperança para muitos jovens que fumam há bem menos tempo e que acham não terem a força de vontade suficiente para deixar. “Tinha 14 anos e vi no tabaco uma maneira de me afirmar como homem. É uma estupidez, mas foi o que aconteceu. Depois, um dia, acordei e decidi deixar. Mas foi terrível! Só com muita força de vontade!”, declara aquele que já foi o treinador de futebol do Grupo Desportivo de Bragança. Hoje, ainda recorda o cigarro com saudade, mas só o ganho que teve no paladar faz com que tudo tenha valido a pena. “Quando tomo um café apetece e custa-me bastante. Só que, agora, a comida também me sabe muito melhor”, valoriza. Um sinal de esperança para muitas pessoas e mais encorajador ainda para tantas outras que fumam há menos tempo e que pretendem, mesmo sem o saberem ainda, deixar de fumar. Até porque são os próprios médicos a defenderem que para uma pessoa que fuma há menos tempo que outra, em princípio, será mais fácil de deixar. “Se bem que cada caso é um caso e as condicionantes de vida de um fumador, inclusive o stress, interferem muitas vezes com o processo (de deixar de fumar)”, refere a médica brigantina Catarina Silva.

 

 



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