A peça «Por Detrás dos Montes» está a dividir as opiniões dos transmontanos e a mexer com as consciências em Bragança. O espectáculo é fruto de uma parceria entre o Teatro Meridional e o Teatro Municipal de Bragança, com a colaboração do Teatro de S. João, no Porto, e tem provocado reacções muito diversas no público uns amam, aplaudem e riem; outros odeiam e indigna-se perante o olhar de fora, que descodifica a região e com o qual não se identificam.
A representação simbólica e poética da pequenez do quotidiano, como a inveja, a agressividade, a coscuvilhice ou as beatas, associadas à hospitalidade e à riqueza das tradições, confrontam o espectador e obrigam à reflexão.
Na peça, a narrativa cénica está quase ausente de palavra, o trabalho do actor é sustentado na expressão física e na paisagem sonora. Em alguns casos as cenas esbarram no imaginário que cada espectador tem da região Uma coisa é certa ninguém fica indiferente ou apático. Esta foi uma das raras ocasiões em que os espectáculos que passaram pelo Teatro Municipal saíram para a praça pública, são tema de discussão.
«A primeira reacção é pensar: «isto é e não é Trás-os-Montes, parece, mas não é bem, não me identifico, mas reconheço», aqui dá-se o salto da imagem gravada na nossa imaginação, que exige um público atento que é obrigado a pensar », explicou Helena Genésio, directora do Teatro Municipal.
A controvérsia agrada a Miguel Seabra, o encenador, que revelou ao JN que as várias apresentações têm sido fascinantes. «Um espectáculo deve provocar essa polémica, não é linear, não tivemos de todo intenção de mostrar a região tal como ela é» revelou o encenador.
«Procuramos um olhar sem presunção, mas este olhar vindo de fora é sempre um olhar parcial e por isso propus à equipa que olhasse-se de esguelha» explicou. Quando partiram para o terreno, em Setembro, para fazer observações, não sabiam que espectáculo ia nascer. Após a peça montada e apresentada o balanço é positivo.
A peça vai ser levada à cena durante seis meses em Lisboa e durante três meses vai estar em itinerância pelo país, existem já contactos para deslocações ao estrangeiro.