Sessenta pessoas da comunidade ajudaram a construir e participam na peça “Vida real” que fala da vida em Vila Real, desde os covilhetes às corridas, e está inserida no projeto “Odisseia Nacional” do Teatro Nacional D. Maria II.
Em 2023, o Teatro Nacional D. Maria II sai de Lisboa para percorrer 90 municípios de todo o país com centenas de atividades. A “Odisseia” arrancou no Norte e, por estes dias, tem paragem em Vila Real.
Ali, em conjunto com a comunidade, construiu-se a peça “Vida real”, apresentada dia 27 e 28 no Teatro Municipal de Vila Real. Ao longo da semana realizar-se-ão visitas encenadas de alunos aos bastidores do equipamento cultural e, no dia 04 de fevereiro, subirá ao palco “Casa Portuguesa”, o primeiro espetáculo escrito e dirigido por Pedro Penim enquanto diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II.
“O desafio era a construção de um novo espetáculo de forma participada e, por isso, lançámos o desafio da folha em branco a partir do que é a ‘Vida real’ em Vila Real”, contou à agência Lusa Ana Bragança.
O novo espetáculo, que se insere no programa de participação comunitária “Atos”, da “Odisseia Nacional”, foi dinamizada pela Associação Cultural Ondamarela e tem direção artística de Ana Bragança e Ricardo Baptista.
À chamada dos dois teatros responderam mais de 60 pessoas, cerca de uma dezena a título individual e outras integradas nos grupos Bombos Águias da Lage, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Lordelense, o Coro Misto de Mouçós e a Associação da Lage.
O resultado é um espetáculo “que cruza a música com o teatro, com a palavra e o movimento” e que aborda as questões que fazem as pessoas que aqui vivem felizes ou que as preocupam, como o salgado típico - o covilhete -, as corridas automóveis, as obras na cidade, o rio e a água, as torradas feitas no final da festa que são uma tradição na aldeia da Lage ou o multibanco de Mouçós.
“Somos mais de 60 pessoas em palco, muito diversas, umas mais ligadas à música, outras ao teatro, outras à palavra e outros curiosos por perceber o que é que isto poderia ser”, salientou Ana Bragança.
Isabel Sarmento, de 58 anos, subiu ao palco pela primeira vez no âmbito deste projeto depois de ouvir um anúncio na rádio e disse à Lusa que “está a correr muito bem” e que “está a ser muito divertido”, não se importando de sair de casa à noite e enfrentar o frio para ir aos ensaios.
“Estou a adorar a experiência e também acho que o público vai gostar. Espero que entendam a mensagem. Foi uma peça que foi criada com as nossas reflexões, com o nosso dia-a-dia. Todos nós colaboramos para a realização desta peça”, afirmou Catarina Mourão, de 45 anos, que faz parte da direção do centro cultural Lordelense.
Sara Carvalho, de 25 anos, é licenciada em Teatro e Artes Performativas e encontrou no projeto uma oportunidade para fazer o que gosta.
“Está a ser magnífico representar a nossa cidade em palco. Cada um de nós foi dando um pouco do que conhece da sua cidade, das suas rotinas e da sua vida para ajudar a construir este maravilhoso espetáculo”, disse.
Joaquim Ferreira, de 70 anos, é ator amador no grupo de teatro Lordelense e saiu da sua “zona de conforto” nesta peça. “É completamente diferente daquilo a que eu estou habituado, mas não desgostei. Foi uma experiência nova”, apontou.
António Lameirão, de 43 anos, trabalha na construção civil, é presidente do grupo de bombos Águias da Lage, descreveu uma “experiência incrível” e disse que a integração da música dos bombos com o teatro “foi muito fácil”.
“Nunca tinha feito nada em palco, é uma experiência nova, mas boa”, disse Rafael Mota, de 18 anos e que integra o mesmo grupo de bombos, acrescentando que a peça revela coisas que fazem “no dia-a-dia”.
O diretor artístico do Teatro de Vila Real, Rui Araújo, explicou que o programa escolhido para este município, no âmbito da “Odisseia Nacional”, tem três vertentes para três públicos diferentes.
Depois da peça construída com a comunidade, seguem-se, durante a próxima semana, seis sessões de visitas encenadas ao teatro municipal, para as quais estão já inscritos cerca de 200 alunos das escolas do primeiro ciclo do ensino básico do concelho.
A convite do D. Maria II, a Plataforma285 criou um espetáculo em andamento, integrado no programa “Frutos”, que levará os pequenos estudantes pelos bastidores, zonas técnicas e auditórios.
A “Odisseia” do teatro nacional, em Vila Real, termina com “Casa Portuguesa”, com interpretação de João Lagarto, Carla Maciel, Sandro Feliciano e ainda Lila Tiago e João Caçador, dos Fado Bicha.
“É uma iniciativa importante porque estabelece uma relação com o Teatro Nacional D. Maria II que, pela primeira vez em muitos anos, faz uma digressão pelo país e o Teatro de Vila Real é um parceiro-chave para um projeto deste género porque ajuda a que a população do Interior Norte tenha acesso à produção do teatro nacional, que é de todos nós”, salientou Rui Araújo.