Um casal de abutres-do-egito, espécie também conhecida como britango, foi encontrado morto por envenenamento no concelho de Mogadouro, em território do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), foi hoje revelado.

As aves foram recolhidas em agosto e, depois de analisadas no âmbito do projeto "Life Rupis", que trabalha para proteger águias e abutres ameaçados no PNDI, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) chegou à conclusão "que foram mortas por envenenamento na área de Bemposta", concelho de Mogadouro, distrito de Bragança.

Em declarações à Lusa, Joaquim Teodósio, coordenador do projeto "Life Rupis", afirmou hoje que a SPEA desconfia "que terá sido uma ação propositada".

"Colocaram iscos no terreno com carbofurano, um veneno ilegal, que afetou o casal de britangos. Não sabemos nem o motivo nem o sítio, já que as aves foram encontradas mortas no ninho, situado na zona de Bemposta", vincou.

Para os agentes envolvidos no "Life Rupis", esta substância [carbofurano] terá sido colocada em iscos espalhados no terreno com o intuito de matar animais selvagens ou assilvestrados, "como de resto terá possivelmente acontecido noutros casos acompanhados pelo projeto".

"Para além destas situações de uso propositado de venenos ilegais, o projeto está a acompanhar também casos em que - intencionalmente ou por negligência - as mortes foram causadas por pesticidas e outros produtos tóxicos utilizados na agricultura", frisou Joaquim Teodósio.

O casal de abutres encontrado morto no Douro Internacional foi recolhido por elementos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o apoio da empresa especializada e elementos do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR.

"O uso ilegal ou negligente de venenos é uma das maiores ameaças para muitas espécies protegidas em Portugal e Espanha. E não são só os animais selvagens que correm perigo: os venenos que matam abutres também são um perigo para animais domésticos e para as pessoas," indicou o também técnico da SPEA.

De acordo com os promotores do projeto "Life Rupis", no território do Douro Internacional há cerca de 140 casais de britangos.

"O britango é o abutre mais pequeno da Europa. Está classificado como 'em perigo' no território europeu, onde as suas populações registaram um decréscimo de 50% nos últimos 40 anos, e uma elevada perda de 'habitat'", explicou o coordenador.

Para detetar e investigar possíveis casos de envenenamento na região do Douro internacional, foram criadas, no âmbito do projeto "Life Rupis", duas brigadas cinotécnicas - brigadas de deteção de venenos compostas por um agente e um cão treinado especificamente para o efeito.

"Os elementos da GNR e dos Parques Naturais dos dois lados da fronteira não só trabalham para identificar e investigar estas situações como também desenvolvem ações de prevenção nas zonas onde têm sido detetados mais casos de envenenamento ao longo dos anos", explicou o responsável pelo "Life Rupis".

Para evitar que casos como estes continuem a repetir-se, para além da vigilância e fiscalização no terreno, o projeto desenvolve também ações de sensibilização para alertar para os riscos do uso ilegal de venenos.

"O objetivo é conseguir prevenir, para bem da natureza e da saúde pública. E nos casos em que a prevenção for impossível, temos de conseguir detetar e investigar de forma eficaz para que os culpados sofram as consequências devidas", frisou Joaquim Teodósio.

O "Life Rupis" está a decorrer em território português e espanhol, mais concretamente na Zona de Proteção Especial (ZPE) do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda, e na área protegida de Arribes del Duero.

O projeto teve início em julho de 2015 e tem uma duração de quatro anos, estando dotado com um financiamento de 3,5 milhões de euros, comparticipado a 75% pelo programa LIFE da União Europeia e cabendo os restantes 25% aos nove parceiros envolvidos.

Foto: ICNF



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