Adegas cooperativas do Douro estão preocupadas com uma quebra de produção de vinho que pode variar entre os 20% a 50%, devido a doenças, granizo e calor, e, em consequência, os "preços especulativos" que podem atingir as uvas.
A Região Demarcada do Douro prepara o início das vindimas depois de um ano atípico e difícil que afetou a vinha e vai ter repercussões na produção de vinho.
O ano até prometia uma boa produção, no entanto, os meses de junho e julho foram chuvosos, criando condições para a propagação do míldio, um fungo que pode infetar todos os órgãos verdes da planta -- folhas, cachos e pâmpanos. Às doenças juntou-se o granizo e, no início de agosto, um escaldão provocado pelo calor, que secou o fruto.
Só no final da vindima será possível apurar os valores reais da diminuição, mas algumas adegas do distrito de Vila Real, que foram contactadas pela agência Lusa, falam em quebras que podem ir dos 20% aos 50%.
A campanha em Alijó arranca no dia 14. "Para esta vindima, a expectativa é muito fraca porque, fruto das doenças e do tempo, como o granizo, chuva, calor extremo, prevemos que a produção quebre entre 40% a 50% nos DOC (denominação de origem controlada)", afirmou à agência Lusa José Canelas, da Adega de Alijó.
A concretizar-se, a situação pode "ser preocupante" para a cooperativa que tem em curso um processo especial de revitalização (PER) e tem "necessidade de quantidades".
José Canelas elencou ainda outro problema consequente da quebra de produção: o "canibalismo de preços que pode atingir a região".
Ou seja, as empresas privadas poderão estar dispostas a aumentar o preço a pagar pelas uvas o que poderá levar a uma fuga de associados.
"Haverá mais procura pelo produto, com preços mais altos que a adega não consegue acompanhar ou pagar", frisou.
António Lencastre, da adega Caves Vale do Rodo, no Peso da Régua, disse que a campanha deve arrancar "nos próximos 15 a 20 dias" com uma "expectativa de perdas de 20% a 30%".
A quebra de produção está a originar uma discussão, na região, à volta dos créditos de litragem, um assunto que vai ser decidido no dia 14, numa reunião extraordinária do conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Porto e Douro (IVDP).
"A pressão do preço das uvas anda pela hora da morte. Há uma preocupação grande, tanto que temos em discussão a transferência de créditos de litragem, que é a capacidade de fazer vinho do Porto, para o próximo ano", afirmou António Lencastre, que é também responsável pela Federação Renovação do Douro -- Casa do Douro.
Ou seja, explicou, trata-se da possibilidade de o viticultor transferir parte do benefício (quantidade de mosto que pode ser transformado em vinho do Porto) a que tem direito para o próximo ano.
Esta medida, segundo António Lencastre, pode ajudar a minimizar o aumento dos preços das uvas.
Em Santa Marta de Penaguião, as vindimas das uvas brancas arrancam no dia 13 e, depois, a partir do dia 21 já se estará em plena colheita.
"Os nossos agricultores queixam-se de uma redução na produção que poderá atingir os 30% a 50%. Mas só, depois, ao longo da vindima, é que se vê se esses valores se concretizam ou não", afirmou à Lusa Manuel Cruz, da cooperativa Caves Santa Marta.
Para além da quebra de produção afetar o rendimento dos viticultores, Manuel Cruz disse estar também preocupado com as consequências para a cooperativa.
"Sem uvas não podemos fazer vinho e gerar riqueza", frisou.
A vindima começa no dia 17, em Murça, para castas que amadurecem mais cedo e, depois, a partir de 19 arranca a colheita geral.
António Ribeiro referiu que os associados da Adega Cooperativa de Murça se queixam de uma diminuição entre os "35% e os 40%", comparativamente com a produção média neste concelho, o que, a confirmar-se, fará com que esta seja a terceira vindima consecutiva com quebras.
"No ano passado já tivemos uma colheita também bastante fraca, com 5.400 pipas e, num ano normal, produzimos à volta das 7.000 pipas de vinho. Este ano, se calhar, nem à quantidade do ano passado vamos chegar, vamos ver", referiu.
Foto: António Pereira