A delegação de Saúde do distrito de Bragança está a fazer levantamento de toda a informação sobre o estado da água que nos últimos cinco anos foi consumida nas aldeias de Macedinho e Valbom, no concelho de Vila Flor; e de Vilares da Vilariça, em Alfândega da Fé. A investigação estende-se também aos restantes concelhos do distrito. Pretende-se apurar se existem mais situações de contaminação por arsénio.
O delegado de saúde, Vítor Lourenço, admitiu, ao JN, que, até agora, só tinha conhecimento de um caso de contaminação verificado há mais de 30 anos em França (Bragança), e que se terá ficado a dever às minas naquela zona e em Calabor, já do lado espanhol. \"Era a única situação problemática que conhecia, enquanto foco de risco\", sublinhou.
Vítor Lourenço nota que as câmaras de Vila Flor e Alfândega da Fé deveriam ter comunicado à delegação de saúde a situação da água naquelas localidades. \"Como não o fizeram, só agora podemos estudar a situação\".
Já foram enviados técnicos de saúde ambiental, a fim de fazerem novas colheitas de água, ouvirem a população e recolherem informação sobre os terrenos onde foram feitos os furos artesianos que abastecem as populações. \"Quando foram feitos esses furos, as câmaras deviam ter feito um estudo físico-químico do que se ia fornecer\", observou. As novas amostras de água foram enviadas ao Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
Esses desenvolvimentos vão de encontro às pretensões dos docentes de Química e Física de Esposende, Ana Paula Correia e José Ribeiro que denunciaram os casos mais graves de contaminação de água por arsénio, sendo os de Vila Flor e Alfândega os mais graves. Segundo os estudiosos, no ano passado, segundo relatórios do Ministério do Ambiente,\"28% das análises de arsénio legalmente obrigatórias não foram efectuadas pelas autarquias\". Mais: \"Há autarquias que nem sequer comunicam os resultados\", acusa José Ribeiro.
\"Autarquias deviam ser multadas\"
Na opinião de Ana Paula Correia e José Ribeiro, o facto de algumas câmaras não fazerem análises ou não as comunicarem ao Ministério do Ambiente ou delegações de Saúde, pode levar a que \"milhares de pessoas\" possam beber água com arsénio. O pior, realçam, \"é que não há consequência disso para as câmaras, nem sequer são multadas\". Assim, \"o culpado é o Ministério do Ambiente, já que não aplica a lei que obriga as autarquias a fazerem análises e a comunicarem os resultados\". \"Este ano, pelo menos 16 autarquias não enviaram ao MA os resultados das análises. Será que as fizeram?\", interrogam-se os docentes. Os investigadores garantem que não há controlo sobre as análises feitas pelas autarquias, que recolhem a água e enviam a amostra para um laboratório à sua escolha.