Os apanhadores de cogumelos silvestres de Vila Pouca de Aguiar queixam-se de que a seca, que se prolongou pelo outono, provocou uma escassez deste fungo, que tem sido cada vez mais procurado para consumo e venda.
Em anos anteriores, por esta altura, as matas de Trás-os-Montes já estavam cheias de cogumelos e de apanhadores.
Neste início de novembro não se encontra "nada", uma situação que preocupa quem gosta de apanhar para comer, dar aos amigos e vender. Muitas pessoas desta região têm nos cogumelos silvestres um complemento ao rendimento familiar e até há quem tire férias nesta altura do ano para se dedicar à apanha.
A chuva que tem caído nos últimos dias trouxe "a esperança" de que os cogumelos ainda vão nascer nas matas de Vila Pouca de Aguiar, em Vila Real, mas Ermelinda Sousa disse que não se lembra de um ano assim.
"Sempre havia alguns, de uma qualidade ou de outra, mas este ano está mesmo muito mal", afirmou depois de uma manhã à procura de cogumelos se ter relevado infrutífera.
Ermelinda Sousa disse que é um desalento percorrer as matas e ficar com a cesta vazia.
"Vamos ver agora com esta chuvinha. Ainda há esperança. Se chover mais um bocadinho, pode ser que nas próximas semanas surja alguma coisa", frisou.
Também Manuela Pereira se queixou de que não encontrou "absolutamente nada", apesar das muitas voltas que deu a um pinhal perto de Tinhela de Baixo, em Vila Pouca de Aguiar.
"Este ano, com a falta de chuva, não encontramos nada. A grande diferença dos cogumelos silvestres para os que se encontram nos supermercados é o sabor. Estes têm um sabor mais intenso e são muito melhores", frisou.
Manuela Pereira começou a apanhar há pouco tempo e, por isso, ainda não se atreve a ir sozinha, precisando de ajuda para identificar devidamente os cogumelos comestíveis. "Este ano não há esse risco", lamentou.
Duarte Marques, dirigente da Associação Florestal e Ambiental - Aguiarfloresta, disse que está a ser "um ano muito mau", devido às temperaturas elevadas, à falta de chuva e, consequentemente, da humidade necessária para o aparecimento de cogumelos.
"Isto representa bastante a nível económico, porque há muitas pessoas que se dedicam à apanha de cogumelos, muitos para consumo, mas também há, efetivamente, pessoas que se dedicam exclusivamente, neste período, a apanhar cogumelos para vender", salientou.
Este é também um produto em destaque nos restaurantes locais. O cogumelo pode ser congelado ou desidratado, o que ajuda a que se continue a confecionar, mas os apreciadores destacam o sabor do produto em fresco.
Duarte Marques acredita que, com o regresso da chuva, ainda vai haver cogumelos este ano, no entanto, ressalvou que não será nas quantidades habituais.
"O homem tem muitas vezes atitudes nefastas à conservação dos ecossistemas. Os cogumelos silvestres resultam dos equilíbrios dos habitats, essencialmente a floresta, e o que vemos é que fatores como os incêndios, as pragas, ou a má utilização do espaço acabam por degradar este recurso que não é infindável", lamentou.
Os cogumelos têm sido atração turística que leva cada vez mais visitantes à região transmontana.
Caminhadas com apanha e identificação de cogumelos, encontros micológicos ou mostras gastronómicas, são uma aposta de organizações privadas ou municípios para atrair visitantes.
Entre os dias 11 e 12 de novembro realiza-se a mostra gastronómica de Vila Pouca de Aguiar, com uma feira do cogumelo e produtos do outono no mercado municipal.
Nos restaurantes aderentes, serão confecionados pratos que incluem produtos regionais como o cabrito, castanhas e cogumelos.
A mostra é organizada pelo município, com apoio da Academia Gastronómica e Cultural da Micologia e da Aguiarfloresta.