Uma empresa de capitais irlandeses e portugueses anunciou esta quinta-feira que pretende construir em Bragança o maior parque eólico europeu, num investimento de 800 milhões de euros, que comparou a «uma segunda Auto Europa neste canto de Portugal».
Com este projecto, a Airtricity Energias Renováveis quer entrar no mercado português da energia, produzindo e vendendo directamente ao consumidor.
A nova empresa resulta de uma parceria entre a Airtricity irlandesa, que está a desenvolver projectos do género em vários países, desde os Estados Unidos à China, e a empresa portuguesa Enerbaça- Energias Renováveis.
Segundo explicou o presidente da Enerbaça, Luís Pinho de Sousa, os 400 a 600 MW de energia que estima sejam produzidos neste mega parque eólico dará para «alimentar entre 15 a 20 cidades» como Bragança, que tem cerca de 20 mil habitantes.
«Isto é, de facto, o maior parque eólico com uma unidade industrial feito em fileira no mosaico europeu», afirmou.
Tanto Luís Pinho de Sousa como o presidente da Airtricity, Paul Dowling, tencionam ter a funcionar «o primeiro aerogerador dentro de um a dois anos», embora ainda não esteja concluído o processo que permitirá avançar com o projecto.
Os promotores estão já em negociações para o arrendamento de terrenos que se estendem pelos concelhos de Bragança e Vinhais.
Numa primeira fase vão ainda ser desenvolvidos estudos, através da instalação de torres meteorológicas, para avaliação da verdadeira capacidade da zona, que entendem ser das que apresentam maior potencial eólico no país.
Os promotores prometem «centenas de postos de trabalho indirectos durante a construção, que envolverá empresas ligadas a este sector».
Para a manutenção do parque, que será construído em parcelas, serão criados localmente entre 45 a 50 postos de trabalho, segundo o presidente da Enerbaça.
«Isto representa, de facto, uma segunda Auto-Europa em termos de investimento directo para este canto de Portugal», afirmou, comparando o projecto ao maior investimento estrangeiro feito no país no sector automóvel.
Com este parque eólico pretende-se contribuir para que Portugal possa atingir os objectivos de 45% da electricidade consumida a partir de fontes renováveis até 2010.
Os promotores querem também vender directamente ao consumidor e afirmam que esta vertente faz parte do projecto e do valor global do investimento, aproveitando o mercado ibérico e a proximidade da região com Espanha.
O projecto está, no entanto, ainda dependente de estudos e autorizações, nomeadamente ao nível ambiental, já que será desenvolvido em pleno Parque Natural de Montesinho(PNM), que é uma área protegida.
Apesar de ser ambientalmente um dos sítios mais sensíveis de Portugal, os promotores entendem que «há que avançar sem radicalismos para alterar o tipo de consumo que está a ser feito com combustíveis fósseis».
Na cerimónia de apresentação do projecto o presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, deixou um apelo no mesmo sentido, alertando que «este projecto necessita de muita cooperação institucional e de abertura por parte do Governo e nada de fundamentalismos».
O autarca lembrou que as aldeias do Parque Natural de Montesinho perderam, nos últimos trinta anos, metade da sua população, sendo necessário inverter esta tendência com investimentos.
Os parques eólicos que se avistam no lado espanhol continuam a ser motivo de «frustração» para os presidentes de junta portugueses, que gostariam de poder usufruir dos mesmos benefícios que os seus vizinhos.
As empresas que exploram os parques eólicos no lado espanhol pagam rendas pelos terrenos e uma comparticipação nos lucros de exploração.
«O que verificamos nas aldeias vizinhas espanholas é que não conseguem gastar todo o dinheiro que recebem», disse Manuel João, presidente da junta de freguesia do Parâmio.
Os autarcas portugueses aguardam, por isso, com expectativa poder vir a ter o mesmo rendimento que do lado espanhol para «fazer alguma coisa» nas suas freguesias, nomeadamente obras.
Mas, enquanto em Espanha os rendimentos das eólicas até já proporcionaram viagens ao Brasil, do lado de cá as ambições são mais práticas, pois, segundo Manuel João, «ainda há muito a fazer nas aldeias do coração do Parque Natural de Montesinho, uma das zonas mais visitadas da região, mas onde os habitantes vivem sem saneamento básico».
Os autarcas receiam que a direcção do PNM ponha «entraves» ao projecto por motivos ambientais, embora ressalvem que «ainda não se sabe como vai ser porque nunca ninguém pediu autorização para fazer uma coisa destas».