A aldeia de Poiares, na Régua, cumpre hoje a tradição do Bodo aos Pobres ao distribuir pela população arroz de carne cozinhado em 45 potes de ferro.
“Faz-se o arroz de vitela nos potes de ferro com a receita de antigamente, que depois é benzido junto à capela da Senhora da Graça e distribuído pela população”, contou à agência Lusa Beatriz Neves, de 29 anos e que integra a Comissão de Festas de Poiares.
O evento está inserido nas festas desta aldeia do concelho do Peso da Régua, no distrito de Vila Real, que acontecem no primeiro fim de semana de agosto e se prolongam por segunda e terça-feira.
Os 45 potes de ferro são alinhados em duas filas e no seu meio é colocada a lenha para a fogueira. Ali são cozinhados 250 quilos de carne e 140 quilos de arroz.
“A tradição chama-se Bodo aos Pobres e começou com uma família rica, antiga em Poiares, que fez uma grande quantidade de arroz de vitela e distribuiu pelos pobres da aldeia e, todos os anos, vamos recriando essa tradição”, frisou Beatriz Neves.
Lídia Lopes, 63 anos, é a cozinheira responsável pela confeção do arroz de carne, e conta com a ajuda da filha Andreia Cruz, 42 anos.
Mãe e filha fazem questão de manter a tradição que sempre conheceram nesta aldeia duriense, que foi passando de geração em geração e que, antigamente, tinha como objetivo ajudar as pessoas mais carenciadas.
À Lusa, Andreia revelou o segredo deste prato: “Amor e dedicação, é o que temos”.
O trabalho começa pelas 08:00 e, durante todo o dia, vai sendo feito o refogado, cozinhada a carne que é, depois, dividida pelos vários potes, e, por fim, o arroz.
“É um bocadinho duro”, disse Lídia Lopes, que tem que enfrentar o calor do dia, que ultrapassa os 30 graus, mais o da fogueira onde se cozinha o bodo.
A cozinheira sublinhou o gosto que dá ajudar a cumprir esta tradição, a qual repete anualmente há mais de duas décadas.
Beatriz Neves salientou que o Bodo aos Pobres atrai muita gente, entre residentes da aldeia, emigrantes e visitantes provenientes de outras localidades vizinhas, que se junta no largo da aldeia, junto à capela da Senhora da Graça.
“Por mais ou menos quilos que façamos, o arroz benzido chega sempre”, salientou a responsável.
Ao final da tarde, os potes são transportados em carrinhas de caixa aberta até ao largo e é ali que é feita a distribuição da comida.
Durante o dia é ainda distribuído pelas casas da aldeia o pão benzido que, tradicionalmente, é guardado de um ano para o outro.
“O pão benzido não ganha bolor”, contou Beatriz Neves.
Paula Lima, da agência Lusa