Quando há cinco anos lhe extraíram um rim afectado por um cancro, Maria Adelaide Jesus Costa ficou sem poder trabalhar na agricultura. Viúva há largos anos, sozinha na aldeia de Ucanha, Tarouca, tratou de não baixar os braços.
\"Tinha de viver de alguma coisa\". Pensou no que poderia fazer, foi à Câmara Municipal requerer uma licença e desde então que vende, no baixo da sua casa, compotas de frutas, chás para males diversos, baga de sabugueiro, fruta da época, panos de cozinha bordados, entre outros. \"Esta loja é o meu psiquiatra\", sintetiza.
Encontrámos Maria Adelaide a preparar a sua lojinha para o festival das seis Aldeias Vinhateiras do Douro, uma delas Ucanha. Compotas e mel de um lado, chás embalados do outro, lá ao fundo plantas secas também para fazer chá, pequenos frascos de geleia de baga de sabugueiro, cestos de milho e abóboras miúdas, uma banca de frutas cá fora Tudo a jeito para que o cliente se sinta à vontade. \"Se fizer cinco euros por dia já sou feliz\", adianta, modesta, preferindo que toda a aldeia progrida.
Pequenos negócios
Sem o saber, Adelaidinha, como toda a gente a trata, enquadra-se no perfil dos pequenos negócios ambicionados pelo projecto Aldeias Vinhateiras do Douro. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, que desenvolve o projecto juntamente com os actores locais, quer ajudar a gerar dinâmicas produtivas que ajudem os locais criar pequenos negócios que lhes permitam permanecer nas suas terras e, se possível, atrair outra vez os que foram procurar melhor vida para outras paragens.
Ora, Adelaidinha foi emigrante em França durante 18 anos. Mesmo enviuvando cedo, esperou por lá até ter as duas filhas criadas, formadas e estabelecidas. Depois regressou a Ucanha para tratar das suas propriedades agrícolas. \"Lá não estava mal, mas a nossa terra é a nossa terra\".
Para escoar a produção bastava uma mesa e um guarda-sol junto à estrada. Só que depois adoeceu e ficou sem poder retomar a actividade. \"Era uma pessoa muito enérgica e fiquei sem forças para trabalhar na agricultura\". Ainda pediu a reforma, mas disseram-lhe que \"um rim não era um braço ou uma perna\".
Fábrica almejada
Perante isto, teve de \"fazer das tripas coração e fazer pela vida\", conta satisfeita, apesar de tudo. Admite que há muito desemprego na terra e que os outros também deveriam deitar a mão alguma coisa. \"Quem a quer governar, até numa banca junto à estrada se vende fruta ou outra coisa\", observa.
Nos seus sonhos vê, entre outras coisas, o dia em que uma fábrica de transformação da baga de sabugueiro se possa instalar naquelas terras de Tarouca. Para dar emprego a quem o não tem. \"Se assim fosse até lhe cedia o segredo do meu doce de baga\", promete.