O município de Alfândega da Fé dispõe desde hoje de um espaço para apoiar novas ideias de negócio com o propósito de chamar e fixar jovens neste concelho do distrito de Bragança.

O novo Centro de Incubação de Ideias tem o conceito de "co-working" (partilha de espaço de recursos) e arranca com oito jovens autores de cinco ideias de negócio que vão ser desenvolvidas e apoiadas numa parceria entre a autarquia local e a BLC3, uma associação dedicada à tecnologia e inovação, com sede em Oliveira do Hospital.

O concelho de Alfândega Fé tem pouco mais de cinco mil habitantes e todos os anos perde cerca de 60 pessoas. O município aposta no novo projeto como um contributo para reverter o despovoamento com novas oportunidades que convenceram entre os novos empreendedores uma jovem de Esposende a mudar-se para Alfândega da Fé.

Ana Rita Silva tem 31 anos, um mestrado, experiência de investigação em microbiologia aplicada, em Portugal e Inglaterra e decidiu mudar-se de malas e bagagens para a pequena vila de Alfândega da Fé.

"Não existe nenhum entrave senão o nosso próprio medo, temos os recursos, temos tudo para ser igual aos outros", afirmou à Lusa a jovem que acredita "no interior porque a nível de apoios do município existe uma diversidade que não existe no litoral".

Uma amiga falou-lhe da nova incubadora de empresas e Ana Rita foi ver "o perfil de Alfândega da Fé" e decidiu que é lá que vai avançar com projeto dela.

"O facto de Alfândega ser, há dois anos consecutivos, o município com o maior índice de transparência a nível nacional, de promover a igualdade de género, tudo isso nos dá uma certeza da qualidade e vida que vamos ter aqui", apontou.

Outra razão para a opção é porque pretende usar um produto da região, que é a cereja símbolo deste concelho.

O projeto que vai desenvolver com o apoio local está vocacionado para o aproveitamento dos biocompostos que existem nos desperdícios da cereja, como a flor, a folha e o caroço, na produção de cremes cosméticos.

"Aqui em dez minutos estamos em todo lado, excite a Internet que nos liga a todo o lado e em duas horas estamos no Porto", observou.

O novo espaço de apoio a ideias de negócio está vocacionado para "apoiar jovens e pessoas com perfil de empreendedor a desenvolver o seu próprio negócio, a sua própria ideia", como explicou João Nunes da LCB3.

Um outro objetivo "é potenciar a valorização dos recursos endógenos, quer o setor agrícola como o setor florestal e contribuir para captar investimento"

A incubadora será um polo da LCB2 e funciona na antiga Câmara de Alfândega da Fé, propondo-se realizar um investimento superior a 400 mil euros em dois anos e parcerias com as entidades locais e de investigação, como é o caso do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e futuramente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

A presidente da Câmara de Alfândega da Fé, Berta Nunes, acredita que "o despovoamento tem novas oportunidades e pode ajudar a criar coisas completamente novas para o futuro e a transformar dificuldades em oportunidades".

"Estamos a ver uma cultura rural a desaparecer, estamos a assistir ao desaparecimento desse mundo e temos de criar um novo mundo quase do zero. Também aqui há oportunidades para coisas muito inovadoras e isso é o nosso desafio", defendeu.

A autarca apontou alguns projetos em curso no concelho como a localidade de Felgueiras que tinha apenas nove habitantes e está a ser transformada numa "aldeia da biosfera" atração turística, ou o aproveitamento das águas para turismo da saúde, assim como projetos para a criação de iogurtes terapêuticos.

A Câmara Municipal "funciona como catalisador e como parceiro", como realçou.



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