O arguido António Cunha admitiu no Tribunal de Vila Real que disparou contra Maximino Clemente no dia das eleições autárquicas em Ermelo, justificando que há meses que «era ameaçado» e andava com «medo» e «atormentado».
Cunha começou a ser julgado esta terça-feira pelo crime de homicídio qualificado, detenção de arma proibida e detenção de arma em local proibido.
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O arguido confessou ao colectivo de juízes ter disparado mas, ao contrário do que diz a acusação, fora do edifício da antiga escola primária, onde estava instalada a assembleia de voto.
Disse que chegou ao local com a arma a «descoberto» e que disparou contra as pernas. «Vi o Maximino em frente a mexer nuns papéis. Ele viu-me e baixou-se e eu tive medo e disparei o tiro para as pernas. Não o queria matar», referiu.
António Cunha repetiu por várias vezes que andava «com medo» e «atormentado», porque estava a ser ameaçado pela vítima e, inclusive, contou que nessa mesma manhã, quando a madrugada estava a romper, encontrou Maximino Clemente num cruzamento e que este disparou contra o vidro do seu carro.
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Nessa altura, Cunha conduzia um automóvel que pediu emprestado a um vizinho porque, conforme justificou, o seu carro estava avariado no motor de arranque.
Foi depois disso que foi a casa buscar a arma e diz que foi à assembleia de Fervença avisar um colega para «aguentar» porque, como estava a ser ameaçado, ia sair de Ermelo. «Eu não sabia que ele (Maximino Clemente) estava lá», salientou.
O arguido referiu que comprou a arma dois meses antes, em Chaves, e que os problemas com a família da vítima já se arrastavam há mais de 30 anos. «Foram 20 e tal processos de perseguição política. Fiquei financeira e psicologicamente esgotado», sublinhou.
Acrescentou que, depois de ter saído da junta, há 17 anos, só foi três vezes a Ermelo e «de fugida». Cunha, reformado depois da guerra do Ultramar, onde ficou ferido, foi presidente da junta de Ermelo e divorciou-se quando já estava em prisão preventiva.
Depois do disparo, o arguido diz que ficou completamente «desorientado» e por isso fugiu, entregando-se à Polícia Judiciária dois dias mais tarde, quando já estava «mais calmo».