\"As serras do distrito estão repletas de pedreiras, a maioria delas em situação ilegal. Para além disso, depois de serem exploradas ao máximo, são deixadas abertas, sem dó nem piedade, provocando graves consequências na paisagem em termos visuais\". A acusação é de Pedro Ginja, representante da associação ambientalista Quercus em Vila Real. \"Não é uma situação nova\", explica este defensor do meio ambiente, \"mas arrasta-se há alguns anos e está a tomar proporções dramáticas\". E \"o pior disto tudo\", lamenta Pedro Ginja, \"é que os exploradores das pedreiras são quase todos de fora da região, não contribuindo em nada para a riqueza do distrito\".

Os concelhos de Vila Real, Vila Pouca e Sabrosa são os mais afectados por este problema. Entre as serras mais \"prejudicadas\" está a da Falperra. Estas pedreiras \"nascem\" normalmente em baldios ou terrenos pertencentes às juntas de freguesia, implantando-se no local sem as respectivas licenças. Isso leva a que \"não haja uma gestão cuidada dessas pedreiras\" explica o representante da Quercus. A situação é de tal ordem que \"chega ao ponto de se abrirem pedreiras em zonas abrangidas pela Rede Natura 2000\", ou seja, áreas protegidas, uma situação \"muito grave\".

Pedro Ginja assegura que o \"impacte visual\" provocado na paisagem por estas pedreiras é \"bem visível\". E, na opinião, este facto \"poderá colocar em causa o turismo na região\". \"Alguns investidores que apostaram e decidiram investir no turismo rural sentem-se lesados depois de verem surgir algumas pedreiras nas zonas que escolheram\", afirma Pedro Ginja, garantindo que já existe um processo em tribunal envolvendo um empresário que se sentiu \"lesado\" numa situação deste género.

A \"revolta\" de Pedro Ginja reside também no facto de \"nenhuma entidade ter coragem de fazer frente a esta situação e travar este alastramento desenfreado de pedreiras no distrito\". \"O importante seria\", defende o ambientalista, \"que entidades responsáveis, como é o caso das autarquias, do Instituto de Conservação da Natureza ou do Parque Natural do Alvão, tomassem uma posição no sentido de travar o alastramento de pedreiras ilegais\". No entanto, Pedro Ginja avisa desde já que \"legalizá-las apenas não é suficiente, porque não é só pelo facto da sua actividade estar legal que está tudo correcto\". A Lei \"deve ser cumprida à risca\", explica, mas \"seria importante que os responsáveis pelos baldios e pelas juntas de freguesia tivessem atenção a esta situação, pois é nestes terrenos que as pedreiras se instalam, e o que está por trás deste negócio ainda não está definido, uma vez que os exploradores das pedreiras garantem que pagam uma renda\". Outra explicação dada por alguns empresários deste ramo é que tentaram adquirir a licença, mas o processo se \"arrasta\" por muito tempo.

Pedro Ginja salienta que \"a Quercus não está contra as pedreiras, mas sim contra a forma como este mineral é extraído na região\", defendendo por isso que \"os locais devem ser criteriosamente escolhidos e terá de haver uma gestão de todas as pedreiras da região\". Sendo assim, as estruturas responsáveis \"terão de ter capacidade para agir\", afirma Pedro Ginja, acrescentando que \"é isso que temos de exigir para acabar com esta situação, que chega a ser um escândalo\".

Câmara está

\"preocupada\"

Contactado pelo Semanário TRANSMONTANO, Miguel Esteves, vereador na Câmara Municipal de Vila Real, afirmou que a situação das pedreiras \"é uma questão fundamental, na qual a Câmara está empenhada\". \"A autarquia está consciente do surto de pedreiras no concelho, e por esse motivo está a proceder a um levantamento exaustivo e ao mais pequeno pormenor das pedreiras na região\", garantiu o vereador. Depois de efectuado esse levantamento, explicou Miguel Esteves, as pedreiras que não se encontram licenciadas \"deverão fazê-lo\", seguindo todos os trâmites \"legais e necessários\". Contudo, avisa, estas serão ainda alvo de uma \"sanção\". Segundo o vereador, para além das licenças, é necessário que estas pedreiras apresentem o Plano Ambiental de Recuperação Paisagística, de forma a que a Câmara \"tenha a certeza de que, no fim da extracção do mineral, as pedreiras fiquem convenientemente arrumadas\".

A Direcção Regional de Economia, a Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território e o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) estão a colaborar com a autarquia vila-realense na elaboração do levantamento do número de pedreiras no concelho. O Semanário TRANSMONTANO tentou entrar em contacto com o ICN de forma a explicar a existência de pedreiras em área abrangida pela Rede Natura 2000. Mas apesar de ter sido enviado um pedido de esclarecimento por fax, como foi exigido, não chegou qualquer resposta daquele organismo até ao fecho da edição.



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