A Autoridade Nacional de Comunicações, ANACOM, apresentou hoje um diagnóstico sobre Miranda do Douro a atestar o que a população do concelho transmontano já sabe: a maior parte da população não tem rede móvel nem Internet.

“Os dados atestam o que as populações já sabem”, resumiu o presidente da ANACOM, João Cadete de Matos, que se deslocou a Miranda do Douro, no distrito de Bragança, para apresentar, numa conferência de imprensa, os resultados da aferição da qualidade de serviço das redes móveis no concelho.

O diagnóstico foi feito entre 14 e 16 de junho, com os técnicos a percorrer 550 quilómetros e a realizarem mais de um milhar de medições de voz e de dados para comprovarem, como disse o presidente da ANACOM, “aquilo que quem estuda, vive e trabalha em Miranda do Douro sabe, a existência de assimetrias grandes dentro do concelho”.

O responsável concretizou que “existem alguns aglomerados populacionais que têm rede de fibra ótima”, mas “a rede física é bastante deficitária e mais de metade das freguesias não tem fibra ótica”.

Relativamente à rede móvel, “há algumas povoações que não conseguem fazer chamadas de voz, há muitos sítios em que as chamadas de voz não se conseguem completar, o sinal tem muito pouco qualidade”.

O diagnóstico concluiu que “o acesso à Internet é onde o défice é maior, há muito locais do concelho em que a qualidade da Internet é muito deficitária”.

O concelho de Miranda do Douro fica junto à fronteira com Espanha e muitas populações têm como recurso as redes móveis espanholas, que não ajudam em casos de emergência, já que uma chamada para o 112 vai parar a Espanha, como exemplificou o presidente da Câmara, Artur Nunes.

O presidente da ANACOM disse que vai “fazer chegar ao Governo, aos operadores, à sociedade, a consciência de que isto tem que mudar”, mas não avançou soluções imediatas para os problemas.

“A expectativa está na nova rede 5G”, com o leilão ainda a decorrer, e que impõe como regra para o futuro “a cobertura de 90% da população de cada freguesia, até 2025”, disse.

O presidente da ANACOM indicou ainda que dos estudos feitos em Miranda do Douro “é também interessante concluir que, se houvesse partilha das redes, a fotografia do concelho era muito diferente”.

“Era muito importante essa rede partilhada e vai acontecer em Portugal porque uma das obrigações do leilão (da 5G) que está a decorrer é essa de roaming internacional”, afirmou.

De acordo com João Cadete de Matos, o que acontece atualmente, nomeadamente nas zonas de fronteira, é que os portugueses estão “a pagar a operadores espanhóis porque os operadores portugueses não se põem de acordo entre eles” para a partilha de antenas.

“Significa que deviam ter um maior retorno financeiro das suas antenas, satisfazendo também os clientes de outras operadoras por essa partilha”, sustentou.

O diagnóstico feito em Miranda do Douro resulta de um compromisso do presidente da ANACOM para com o presidente da Câmara de Miranda do Douro, que numa conferência sobre a temática expôs as dificuldades do concelho transmontano.

Artur Nunes considerou “muita positiva” esta iniciativa da ANACOM, que “vem confirmar” aquilo que o concelho tem vindo a reclamar.

“Nós estamos muito atrasados relativamente ao que está a acontecer noutros pontos do país, estamos ao nível 2G, já devíamos estar a 4G”, concretizou.

O autarca espera que a situação seja corrigida e desafiou o presidente da ANACOM a incluir Miranda do Douro no projeto-piloto da rede 5G em Portugal, fazendo o processo “do interior para o litoral”.

Artur Nunes, que é também presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes pediu também à ANACOM que realize noutros concelhos do distrito de Bragança com os mesmos problemas o trabalho de diagnóstico feito em Miranda do Douro.

O presidente da ANACOM anunciou que vai fazer “brevemente esta mediação no concelho vizinho de Vimioso”.

O responsável constatou ainda que “quanto menor é a densidade populacional mais esquecidas estão as populações porque os operadores deixam essa populações para o fim ou nem sequer as consideram porque têm poucos clientes e, portanto, têm pouco retorno”.

Fotografia: Diário de Trás-os-Montes 



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