Um manto branco ladeava, ontem, a estrada nacional 103, a partir da Póvoa de Lanhoso e até Montalegre. A neve voltou a condicionar a circulação e a isolar povoações recÎnditas. Socorrer automobilistas atascados na neve preencheu os bombeiros de Salto.
\"Desde segunda-feira à tarde, quando começou a cair a neve que não paramos. Fomos levar a comida a idosos na aldeia de Vila de Ponte, porque as carrinhas do lar não passavam. A maior preocupação tem residido em desimpedir a passagem para os vendedores ambulantes passarem e abastecerem as populações.\" Este quadro, pintado pelo adjunto do comando dos bombeiros de Montalegre, em Salto apenas atascava na falta de equipamento: \"Estamos mal equipados. Em termos de roupa, cada um safa-se conforme pode, mas rapamos aí um frio...\"
Na aldeia de Reboredo, Salto, Manuel Veiga é um dos quase 60 habitantes. \"O maior problema é o gado, porque nós estamos habituados\". José Gonçalves sente o mesmo problema com as 22 cabeças de gado. António Poças lembra que este é \"dos maiores nevões dos últimos tempos. Quando éramos pequenos caíam muitos assim, mas de há uns anos para cá não há memória\".
O secretário de Estado da Protecção Civil, Vasco Franco, admitiu, ontem, que existe falta de equipamentos. \"Se tivéssemos mais equipamentos, poderíamos fazer um pouco mais\". Andar a pé foi, ontem, a melhor forma de se deslocar na Guarda, que acordou coberta de neve e gelo. A circulação rodoviária esteve muito complicada durante todo o dia. Apesar do sol, a neve não chegou a derreter totalmente e a temperatura voltou a baixar ao fim da tarde.
Nos acessos, a estrada entre Trinta e Videmonte permaneceu fechada pelo terceiro dia consecutivo, enquanto a saída da Guarda para a Covilhã (EN18) esteve interrompida. O mesmo aconteceu nos acessos ao maciço central da Serra da Estrela, que continuaram encerrados na zona de Seia, Manteigas e Covilhã. Tal como nos últimos dias, não voltou a haver aulas em metade dos concelhos do distrito da Guarda (Aguiar da Beira, Gouveia, Seia, Manteigas, Sabugal, Guarda e Trancoso). Durante a noite, os bombeiros de Pinhel tiveram muito trabalho por causa de chaminés entupidas e algumas colisões.
O avião da Aerovip, que assegura a ligação aérea Bragança - Vila Real - Lisboa, assegurou ontem a carreira regular, depois de na tarde da passada quinta-feira ter embatido numa linha de distribuição de energia eléctrica na zona de Baçal. O aparelho fazia o último voo do dia quando nas manobras de aproximação à pista, voando já a baixa altitude, colidiu com os cabos, sem consequências para o aparelho, nem para a tripulação e os quatro passageiros.
Um dos viajantes era o presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, que desvalorizou o incidente, garantindo que \"a destreza do piloto resolveu a situação rapidamente\". O incidente deixou cerca de duas mil pessoas sem luz eléctrica em Bragança, durante duas horas na quinta-feira, mas a EDP resolveu a situação provisoriamente nessa noite, até encontrar uma solução definitiva, o que deverá ocorrer nos próximos dias, revelou fonte da empresa.
foto Sergio Freitas/Global Imagens